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Zukerman tira platéia da realidade
LUIS S. KRAUSZ
especial para a Folha
Cristalino e fluído, com um timbre precioso, manobrado com
precisão e com inspirada musicalidade, o Stradivarius de Pinchas
Zukerman deixou atônitos os que
tiveram a sorte de assistir ao concerto que esse grande solista e regente apresentou, com a English
Chamber Orchestra, anteontem,
no teatro Cultura Artística.
Zukerman é, a um só tempo, mago e artesão. Regendo o concerto
"Il Sospetto", de Vivaldi, mostrou-se um construtor de sons minucioso, que tem com a orquestra
um alto grau de solidariedade. Como solista, na mesma obra, foi um
virtuose apaixonado e impetuoso.
A intimidade de Zukerman com
a English Chamber Orchestra já é
antiga. Foi à frente desse grupo
que ele começou sua carreira de
regente, em 1970.
Ao tocarem a "Sinfonia Oxford", de Haydn, evidenciaram
muitas nuances timbrísticas que
desaparecem quando uma orquestra sinfônica apresenta a mesma
obra, já que foi possível destacar
melhor os diferentes grupos de
instrumentos.
Num programa sábio, que começou com o barroco, passou pelo
classicismo e terminou com o romantismo passional do "Concerto para Violino e Orquestra", de
Beethoven, os músicos conseguiram dar uma pequena amostra da
abrangência de seu repertório e da
magnitude de seu talento.
Levado ao palco por um conjunto de câmara, o concerto de Beethoven torna mais equânimes solista e orquestra. O menor volume
sonoro do grupo certamente está
mais perto do original do que o de
uma sinfônica moderna, mas ainda assim não se poderia chamar
essa leitura de histórica.
Mais adequado seria dizer que
foi absoluta. Enquanto tocavam,
perdia-se a noção do tempo: cada
passagem transportava os ouvintes para longe do universo de relatividades aonde vamos existindo,
em direção a outras esferas.
Tanto que, ao fim da peça, numa
cena rara nos nossos teatros, todos, sem exceção, saltaram de suas
cadeiras para aplaudir. Zukerman
só conseguiu aplacar os ânimos tocando uma cantiga de ninar. Uma
noite para se contar aos netos.
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