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CENÁRIOS
Obra celebra a cidade de Salvador
Belezas naturais e o centro histórico contrastados com a miséria e a marginalidade da capital baiana são tema de 14 dos 32 livros de sua carreira
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SALVADOR
Cantada em verso e prosa por
grandes nomes da música brasileira, a Salvador descrita por Jorge
Amado é a mais encantadora,
mística, alegre e hospitaleira das
cidades brasileiras.
Seus costumes, mistura de raças
e de culturas, belezas naturais e
arquitetura são pano de fundo para o desenrolar de histórias pitorescas sobre a vida de personagens inesquecíveis da literatura
brasileira, como Tereza Batista,
Quincas Berro d'Água, Pedro Arcanjo, Dona Flor e tantos outros.
O centro histórico da cidade
-hoje revitalizado, após a recuperação de 700 de seus 3.000 casarões dos séculos 17 e 18- não só é
detalhadamente descrito por
Amado como sempre foi um dos
locais preferidos do escritor.
Tanto que Amado chorou ao
participar da inauguração da primeira etapa das obras de recuperação, em março de 1992.
"O centro histórico é o retrato
mais fiel do espírito místico, alegre e festivo que envolve a Bahia e
seu povo. A importância desse
patrimônio não tem preço", disse
Amado na solenidade de inauguração das obras.
Cenário de 14 dos 32 livros de
Jorge Amado, as principais atrações turísticas da capital baiana
estão concentradas em uma obra
escrita há mais de 50 anos: "Bahia
de Todos os Santos".
Embora tenha sido escrito
quando Salvador possuía apenas
300 mil habitantes -atualmente
a cidade tem 2,2 milhões-, "Bahia de Todos os Santos" mantém-se atual na descrição de paisagens,
histórias, festas, igrejas, candomblés e nos problemas sociais.
Aliás, a capital baiana descrita
por Jorge Amado não é apenas
composta de belas paisagens, festas de largo e mulatas bonitas. O
escritor também mostra o cotidiano dos miseráveis, dos bêbados e das prostitutas nos sobrados
e casarões antigos de ruas pobres
e sujas da cidade.
"Aos poucos esse guia foi se
convertendo em uma espécie de
enciclopédia da vida baiana", escreveu Amado, na apresentação
da 40ª edição do livro, de 86.
A Salvador de Jorge Amado tem
como principais cenários a rampa
do Mercado Modelo (cidade baixa), as ladeiras do Pelourinho e as
ruas do Carmo (centro histórico),
o largo do Rio Vermelho (orla), a
rua Chile (centro comercial), a
Baixa dos Sapateiros (centro de
comércio popular) e os terreiros
de candomblé.
"Há poucos lugares inesquecíveis no mundo: a ponte Vecchia,
em Florença, a Place des Grands
Augustins, em Paris, a Piazza San
Marco, em Veneza, certos recantos de Burges, a praça Dubrovnik,
Monsarás, em Portugal, Samarkand, no Azerbaijão, e a Rampa
do Mercado, na Bahia", afirmou o
escritor em "Bahia de Todos os
Santos".
A rampa do Mercado Modelo,
onde pescadores e pequenos comerciantes vendem mariscos
frescos, frutas, legumes e temperos, fica em frente ao Elevador Lacerda. O local é citado em quase
todos os livros de Amado que falam de Salvador, especialmente
em "O Sumiço da Santa" (1988),
"A Morte e a Morte de Quincas
Berro d'Água" (1961) e "Mar Morto" (1936).
Antes de ter a saúde debilitada
por problemas circulatórios, o escritor Jorge Amado também gostava de passear e tomar sorvete na
Ribeira (cidade baixa), participar
das festas do terreiro Ilê Axé Opô
Afonjá, no Cabula (periferia), e de
frequentar a casa dos amigos.
Os artistas plásticos Carybé,
morto em 1997, Calasans Neto e
Victor Gradim eram suas companhias preferidas para um bate-papo regado a petiscos baianos.
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