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São Paulo, quinta-feira, 07 de agosto de 2003

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MÚSICA

Eletrocentro ensina novas tecnologias de estúdio

Bahia alia eletrônica à percussão para a inclusão social de jovens

LEANDRO FORTINO
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Aos nove anos ele fazia, usando latas de leite em pó, tambores para a "rapaziada fazer um som". Quase 40 anos depois, ele já tocou com Michael Jackson e Paul Simon e tem sua história marcada não apenas pela invenção do samba reggae (estilo vulgarmente conhecido como axé music), mas principalmente por ter ajudado mais de 1.700 jovens a sair das ruas e a seguir carreira musical como percussionistas.
Neguinho do Samba, 48, o "maestro" dos grupos Ilê-Ayê (por 11 anos), Olodum (por 16 anos) e Banda Didá (completa dez anos em 13 de dezembro), integra o projeto EletroCooperativa, que pretende dar oportunidade a jovens de comunidades carentes para que exerçam um papel na sociedade por meio da música.
Sábado, às 19h, ele regerá, na praça Tereza Batista, no Pelourinho, em Salvador, um grupo formado por integrantes dos três grupos citados acima mais percussionistas do Projeto Axé, Cortejo Afro, Malé de Balé, Muzenza e Filhos de Gandhi, além dos DJs paulistas Patife, de drum'n'bass, e CIA, de hip hop.
Essa orquestra será o primeiro resultado da EletroCooperativa, que dará a jovens de 12 a 25 anos acesso às tecnologias de estúdio usadas por produtores e DJs de música eletrônica atualmente.
Em uma casa no número 34 da rua João de Jesus, no Pelourinho, estão instalados três computadores com acesso à internet, um set de dois toca-discos profissionais, dois aparelhos de CD, um mixer, caixas de som e um outro computador lotado de softwares indispensáveis para gravação.
A idéia surgiu há um ano e meio, quando os quatro sócios da produtora Bamba Music, voltada para a eletrônica, sentiram a necessidade de trabalhar a música como elemento de inclusão social, até mesmo por sentir falta de artistas para lançar pelo selo.
"A grande oportunidade de inclusão social no Brasil vem de duas vertentes: o esporte e a música. É a maneira mais fácil de incluir socialmente pessoas que não têm oportunidades. Vamos até onde há vocação musical e damos equipamentos para que os meninos possam produzir seus próprios discos", afirma Reinaldo Pamponet, um dos sócios.
Para isso, contaram com o apoio da Secretaria de Cultura da Bahia, que comprou o equipamento e cedeu a casa no Pelourinho, e do Inpac (Instituto de Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia), que cuida do Projeto Jovens em Construção e dará suporte para que seja feita a documentação da história desses blocos afro. O resultado ficará disponível para consulta na internet, em sites criados pelos próprios jovens.
"Na prática, cada grupo tem seu respectivo projeto social, desenvolvendo percussionistas em suas comunidades. Cada um deles tem seu trabalho pedagógico e artístico. A EletroCooperativa vai subsidiar esse processo, mas quem vai capitanear, do ponto de vista pedagógico e artístico, são eles mesmos", explica Pamponet.
Para ensinar os jovens desses grupos (muitos nunca tiveram um teclado nas mãos) a operar os equipamentos e programas, o projeto terá apoio da Quanta Music, empresa de tecnologia musical que dará aulas que vão desde noções básicas de informática a cursos específicos de gravação, mixagem e masterização.
A idéia é identificar nos jovens suas especialidades e profissionalizá-los. "Uma parte dos meninos será treinada para ser DJ. Outros terão aulas de como funciona um estúdio, como se faz um disco. E vamos também capacitar alguns para suporte técnico, porque se um equipamento quebrar a própria comunidade conserta."
A próxima cidade a ter um eletrocentro será São Paulo. Ficará instalado provavelmente na Fundação Monte Azul, no Morumbi.

Debates
A partir de hoje e durante os próximos dois dias haverá mesas-redondas com músicos, jornalistas e professores da Universidade Federal da Bahia (UFBA) no auditório da primeira faculdade de medicina do Brasil, no Pelourinho.
Entre os participantes, estão os jornalistas Hagamenon Brito e Cláudio Manoel Duarte, o maestro e compositor italiano Aldo Brizzi (aluno de Pierre Boulez e Leonard Bernstein) e Oscar Dourado, professor titular de flauta transversal da UFBA.


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