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MÚSICA
Eletrocentro ensina novas tecnologias de estúdio
Bahia alia eletrônica à percussão para a inclusão social de jovens
LEANDRO FORTINO
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Aos nove anos ele fazia, usando
latas de leite em pó, tambores para a "rapaziada fazer um som".
Quase 40 anos depois, ele já tocou
com Michael Jackson e Paul Simon e tem sua história marcada
não apenas pela invenção do samba reggae (estilo vulgarmente conhecido como axé music), mas
principalmente por ter ajudado
mais de 1.700 jovens a sair das
ruas e a seguir carreira musical
como percussionistas.
Neguinho do Samba, 48, o
"maestro" dos grupos Ilê-Ayê
(por 11 anos), Olodum (por 16
anos) e Banda Didá (completa dez
anos em 13 de dezembro), integra
o projeto EletroCooperativa, que
pretende dar oportunidade a jovens de comunidades carentes
para que exerçam um papel na sociedade por meio da música.
Sábado, às 19h, ele regerá, na
praça Tereza Batista, no Pelourinho, em Salvador, um grupo formado por integrantes dos três
grupos citados acima mais percussionistas do Projeto Axé, Cortejo Afro, Malé de Balé, Muzenza
e Filhos de Gandhi, além dos DJs
paulistas Patife, de drum'n'bass, e
CIA, de hip hop.
Essa orquestra será o primeiro
resultado da EletroCooperativa,
que dará a jovens de 12 a 25 anos
acesso às tecnologias de estúdio
usadas por produtores e DJs de
música eletrônica atualmente.
Em uma casa no número 34 da
rua João de Jesus, no Pelourinho,
estão instalados três computadores com acesso à internet, um set
de dois toca-discos profissionais,
dois aparelhos de CD, um mixer,
caixas de som e um outro computador lotado de softwares indispensáveis para gravação.
A idéia surgiu há um ano e
meio, quando os quatro sócios da
produtora Bamba Music, voltada
para a eletrônica, sentiram a necessidade de trabalhar a música
como elemento de inclusão social,
até mesmo por sentir falta de artistas para lançar pelo selo.
"A grande oportunidade de inclusão social no Brasil vem de
duas vertentes: o esporte e a música. É a maneira mais fácil de incluir socialmente pessoas que não
têm oportunidades. Vamos até
onde há vocação musical e damos
equipamentos para que os meninos possam produzir seus próprios discos", afirma Reinaldo
Pamponet, um dos sócios.
Para isso, contaram com o
apoio da Secretaria de Cultura da
Bahia, que comprou o equipamento e cedeu a casa no Pelourinho, e do Inpac (Instituto de Patrimônio Artístico e Cultural da
Bahia), que cuida do Projeto Jovens em Construção e dará suporte para que seja feita a documentação da história desses blocos
afro. O resultado ficará disponível
para consulta na internet, em sites
criados pelos próprios jovens.
"Na prática, cada grupo tem seu
respectivo projeto social, desenvolvendo percussionistas em suas
comunidades. Cada um deles tem
seu trabalho pedagógico e artístico. A EletroCooperativa vai subsidiar esse processo, mas quem vai
capitanear, do ponto de vista pedagógico e artístico, são eles mesmos", explica Pamponet.
Para ensinar os jovens desses
grupos (muitos nunca tiveram
um teclado nas mãos) a operar os
equipamentos e programas, o
projeto terá apoio da Quanta Music, empresa de tecnologia musical que dará aulas que vão desde
noções básicas de informática a
cursos específicos de gravação,
mixagem e masterização.
A idéia é identificar nos jovens
suas especialidades e profissionalizá-los. "Uma parte dos meninos
será treinada para ser DJ. Outros
terão aulas de como funciona um
estúdio, como se faz um disco. E
vamos também capacitar alguns
para suporte técnico, porque se
um equipamento quebrar a própria comunidade conserta."
A próxima cidade a ter um eletrocentro será São Paulo. Ficará
instalado provavelmente na Fundação Monte Azul, no Morumbi.
Debates
A partir de hoje e durante os
próximos dois dias haverá mesas-redondas com músicos, jornalistas e professores da Universidade
Federal da Bahia (UFBA) no auditório da primeira faculdade de
medicina do Brasil, no Pelourinho.
Entre os participantes, estão os
jornalistas Hagamenon Brito e
Cláudio Manoel Duarte, o maestro e compositor italiano Aldo
Brizzi (aluno de Pierre Boulez e
Leonard Bernstein) e Oscar Dourado, professor titular de flauta
transversal da UFBA.
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