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AUDIOVISUAL
Com lançamento hoje, livro organizado pelo professor Arlindo Machado procura apreender "arte camaleônica"
"Made in Brasil" repassa história do vídeo
SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL
Com agulha e linha, a artista
plástica Letícia Parente costura no
próprio pé a frase "Made in Brasil" (feito no Brasil) e registra a cena no vídeo "Marca Registrada".
O videoartista Eduardo Kac faz
do implante de um chip eletrônico em seu calcanhar esquerdo o
mote de "Time Capsule".
Entre um gesto e outro, há um
intervalo de 22 anos -é de 1975 o
trabalho de Parente, e de 1997 o de
Kac- e a história de um pedaço
da arte brasileira, na visão do professor Arlindo Machado, especialista em comunicação e semiótica.
No livro "Made in Brasil - Três
Décadas do Vídeo Brasileiro",
que tem lançamento hoje, em São
Paulo, Machado procurou condensar pela primeira vez um volume de pensamento sobre o vídeo
no Brasil, "essa arte que poucos
acompanharam", desde seus primórdios nos anos 70 até hoje.
A obra traz textos de análise e
depoimentos assinados por especialistas e/ou realizadores, como
Giselle Beiguelman, Tadeu Jungle,
Marcelo Tas, Solange Farkas.
Editada pelo Itaú Cultural, terá
tiragem de aproximadamente
2.000 exemplares distribuída para
bibliotecas e outras instituições de
ensino e pesquisa. Não há venda
direta ao público, mas uma mostra de trabalhos que exemplificam
pontos em análise no livro percorrerá um circuito de exibição
itinerante por algumas capitais
brasileiras. O conjunto completo
será exibido no festival Videobrasil, de 23 a 28 de setembro.
Linhas de força
No capítulo introdutório do livro que organiza, Machado traça
"as linhas de força do vídeo brasileiro". "Fiz um esforço para detectar quais eram as temáticas e estilos mais comuns e onde ele se distinguiu das outras artes", diz.
São dez as subdivisões propostas: o corpo e a câmera; a verdade
30 vezes por segundo, em 525 linhas; ex-figurativo, ex-narrativo,
experimental; desconstrução do
Brasil; dentro e fora da TV; videoinstalações, videoperformances: making of; macro e micropolíticas; cidades (in)visíveis; afetos
e desafetos; the bit generation.
A seleção de trabalhos que se
enquadram em uma ou outra categoria registra cerca de 90 artistas ou grupos de realizadores.
"Diário de um Detento" (97), de
Maurício Eça e Marcelo Corpanni, integra a seção desconstrução
do Brasil. Hoje, o clipe do rap em
que os Racionais MC's fazem uma
crônica da véspera e do dia posterior ao massacre de 111 presos na
Casa de Detenção, em 2 de outubro de 1992, pode ser visto com o
status de precursor de uma vasta
produção audiovisual que invoca
o mesmo tema e cenário -caso
dos longas "Carandiru" (Hector
Babenco) e "O Prisioneiro da Grade de Ferro" (Paulo Sacramento).
De acordo com Machado, o caráter de inovação é inerente à produção em vídeo. "Nos anos 70, o
vídeo surge como opção para a
produção experimental, quando
o espantoso crescimento dos custos da película cinematográfica
havia tirado do alcance dos grupos experimentais a possibilidade
de fazer cinema", diz.
Futuro
Atualmente seria mais difícil
identificar as vanguardas do vídeo e sua incorporação aos universos da TV e do cinema, já que
"o monitor de TV se generalizou
e, hoje, tudo é vídeo", na opinião
do autor de "Made in Brasil".
Machado exemplifica: "O que
chamamos de cinema digital é vídeo. O vídeo constantemente deglute todos os outros formatos e
linguagens, como a literatura, o
cinema, a poesia. É como uma arte camaleônica, que se transforma
a cada década".
A próxima transformação do
vídeo pode estar apontada em trabalhos como o de Eduardo Kac.
"Essa arte quase biológica, de interferência no próprio corpo, pode marcar o próximo período da
produção eletrônica e até sua superação", diz Machado.
MADE IN BRASIL - TRÊS DÉCADAS DO
VÍDEO BRASILEIRO. Lançamento de
livro organizado por Arlindo Machado,
editado pelo Itaú Cultural (274 págs.), e
mostra de vídeos. Onde: Itaú Cultural (av.
Paulista, 149, tel. 0/xx/11/3268-1700).
Quando: hoje, às 20h. Quanto: grátis.
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