São Paulo, quinta-feira, 07 de agosto de 2008

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Masp reúne obras de italianos do pós-guerra

Coleção Farnesina abre hoje mostra de 98 quadros de artistas contemporâneos

Exposição traz nomes do informalismo abstrato, como Burri e Fontana, a transvanguarda de Mimmo Paladino e a arte povera


SILAS MARTÍ
DA REPORTAGEM LOCAL

Eram positivas as feridas de Lucio Fontana. Quando furava a tela em busca de uma terceira dimensão, trazia a seus quadros o frescor de uma arte que não passou pelas agruras da guerra -filho de imigrantes italianos, o nome mais forte do informalismo abstrato se radicou na Europa depois de crescer longe de tudo, na Argentina. Perto do horror, Alberto Burri, seu sucessor direto na história da arte italiana, era cirurgião e foi capturado por tropas norte-americanas na Segunda Guerra. Ainda no cativeiro, começou a queimar, rasgar e furar suas telas, simulando nessas peles artificiais uma extrema violência. As marchas e contramarchas de meio século da história da arte na Itália aparecem nas 98 obras que o Masp reúne a partir de hoje. Há desde os nomes fortes do informalismo abstrato dos anos 40 e 50, como Fontana e Burri, até a chamada transvanguarda, marcada pelo retorno à figuração nos anos 80, com nomes como Enzo Cucchi, Mimmo Paladino, Sandro Chia e Francesco Clemente. No meio disso tudo, há espaço para a arte povera, a pop art italiana e alguns exemplares da arte conceitual dos anos 70. São todas obras da coleção Farnesina, o Ministério das Relações Exteriores da Itália, trazidas ao Brasil numa avalanche italiana: o Rio recebe ao mesmo tempo mostras individuais de Jannis Kounellis, Mimmo Paladino e Ernesto Tatafiore (leia abaixo). Mas o quadro mais completo está em São Paulo. Se "Conceito Espacial" (1949), de Fontana, e "Preto" (1961), de Burri, ajudam a dimensionar o motor que move as primeiras décadas desse recorte, é possível ver o desdobramento claro nas obras de Agostino Bonalumi e Enrico Castellani, que criam estruturas e formas por trás da tela. "É um efeito de chiaroscuro em relevo", resume a curadora, Mariastella Margozzi. "É o trabalho do artista com o do artesão, por trás da imagem." Paralelamente a essa pesquisa do espaço, os artistas do grupo Forma Uno, surgido no fim dos anos 40 em Roma, foram os primeiros italianos a voltarem os olhos para o construtivismo russo e o geometrismo. Mas nessa adaptação romana, liderada por Achille Perilli e Piero Dorazio, a onda não foi capaz de afogar o humor e as cores que resistiram às vanguardas. Até mesmo a arte povera, que buscou no cotidiano objetos banais para "enobrecer" em forma de arte, esbarra às vezes nos cânones da pop art: Mimmo Rotella usa cartazes publicitários, e Pino Pascali sai à cata de vassouras coloridas. São poucos, mas eficazes os exemplares da arte conceitual dos anos 70 e 80, como Giulio Paolini e sua série de 28 grids quadriculares que tendem à abstração, além do humor fácil de Luca Maria Patella e sua tela de cheios e vazios -pode ser vaso ou rostos frente a frente. A tensão entre artista e artesão que se deu no informalismo e na arte povera encerra a mostra com total força figurativa na chamada transvanguarda, movimento italiano análogo à geração 80 no Brasil, marcada pela volta à pintura. São explosivas as cores de Francesco Clemente, Enzo Cucchi e Mimmo Paladino, que fizeram o quadro voltar a ser só um quadro.

COLEÇÃO FARNESINA
Quando: abertura hoje, às 19h; de ter. a dom., das 11h às 18h; qui., até as 20h; até 21/9
Onde: Masp (av. Paulista, 1.578, tel. 0/xx/11/3251-5644; livre)
Quanto: R$ 15; grátis às terças



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