São Paulo, sexta-feira, 07 de agosto de 2009

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CINEMA/ESTREIAS

Crítica/ "A Vida Secreta das Abelhas"

"Filme de mulher" desliza no politicamente correto

DO CRÍTICO DA FOLHA

Da nossa perspectiva humana, alguém inventou que, para produzir mel, as abelhas alcançaram um modelo social cuja perfeição tem mais a ver com o culto à disciplina e à organização.
Como se já não bastasse, as coitadas ainda se viram associadas ao poder feminino, como se rainha e operárias fossem exemplos de um matriarcado utópico capaz de estabilizar a desordem humana caso aprendêssemos a nos mirar nele.
"A Vida Secreta das Abelhas" adota tais ideias e ideais como um espelho em sua vontade de alcançar a eficiência dentro do gênero "filme de mulher". No centro da colmeia, encontra-se a imagem maternal e acolhedora de Queen Latifah, rainha desde o nome.
Em torno, voejam as operárias-padrão Jennifer Hudson e Alicia Keys, ambas, como mulheres e negras, representantes da luta das minorias pela igualdade civil nos anos 60. Além destas, Sophie Okonedo vive uma garota perturbada que simboliza os efeitos da ordem social fundada na exclusão.
A doçura do mel vem na cor dos cabelos e nos olhos sempre úmidos de Dakota Fanning, a pequena Lilly, traumatizada pela morte da mãe e pelos maus-tratos que recebe do pai.
Para completar o teor feminino, Gyna Prince-Bythewood assina roteiro e direção da história, baseada no romance da escritora Sue Monk Kidd.
O pano de fundo é a América racista em que a distinção étnica entre brancos e negros se confunde com superioridade e subserviência. Enquanto a política promete a chegada de direitos iguais para todos, a vida real nos confins da Carolina do Sul revela que nada mudou para as minorias.
O simbolismo da utopia da ordem social das abelhas é recuperado como figura da perfeição e do equilíbrio, em tudo oposta às perseguições e exclusões que a pequena Lilly padece como amiga de pessoas "de cor". A desigualdade social se desdobra na trajetória de sua mãe, Deborah, vítima do poder machista e exclusivista associado aos brancos.
No papel, esse tipo de filme cumpre todos os protocolos da eficiência dramática, moral e histórica com sua obsessão pela representação politicamente correta de tudo e de todos.
Mas quando se transforma em filme, a compulsão pelo equilíbrio se desfaz em tanta "doçura" e "delicadeza" de sentimentos que pode produzir enjoos num público que sente prazer como efeito de nuances, não de ênfases. (CSC)


A VIDA SECRETA DAS ABELHAS
Direção: Gyna Prince-Bythewood
Produção: EUA, 2008
Com: Queen Latifah, Dakota Fanning e Jennifer Hudson
Onde: HSBC Belas Artes, Reserva Cultural, Cinema da Vila e circuito
Classificação: livre
Avaliação: regular




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