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CINEMA/ESTREIAS
Crítica/ "A Vida Secreta das Abelhas"
"Filme de mulher" desliza no politicamente correto
DO CRÍTICO DA FOLHA
Da nossa perspectiva
humana, alguém inventou que, para produzir mel, as abelhas alcançaram um modelo social cuja perfeição tem mais a ver com o culto à disciplina e à organização.
Como se já não bastasse, as coitadas ainda se viram associadas
ao poder feminino, como se rainha e operárias fossem exemplos de um matriarcado utópico capaz de estabilizar a desordem humana caso aprendêssemos a nos mirar nele.
"A Vida Secreta das Abelhas"
adota tais ideias e ideais como
um espelho em sua vontade de
alcançar a eficiência dentro do
gênero "filme de mulher". No
centro da colmeia, encontra-se
a imagem maternal e acolhedora de Queen Latifah, rainha
desde o nome.
Em torno, voejam as operárias-padrão Jennifer Hudson e
Alicia Keys, ambas, como mulheres e negras, representantes
da luta das minorias pela igualdade civil nos anos 60. Além
destas, Sophie Okonedo vive
uma garota perturbada que
simboliza os efeitos da ordem
social fundada na exclusão.
A doçura do mel vem na cor
dos cabelos e nos olhos sempre
úmidos de Dakota Fanning, a
pequena Lilly, traumatizada
pela morte da mãe e pelos
maus-tratos que recebe do pai.
Para completar o teor feminino, Gyna Prince-Bythewood
assina roteiro e direção da história, baseada no romance da
escritora Sue Monk Kidd.
O pano de fundo é a América
racista em que a distinção étnica entre brancos e negros se
confunde com superioridade e
subserviência. Enquanto a política promete a chegada de direitos iguais para todos, a vida
real nos confins da Carolina do
Sul revela que nada mudou para as minorias.
O simbolismo da utopia da
ordem social das abelhas é recuperado como figura da perfeição e do equilíbrio, em tudo
oposta às perseguições e exclusões que a pequena Lilly padece
como amiga de pessoas "de
cor". A desigualdade social se
desdobra na trajetória de sua
mãe, Deborah, vítima do poder
machista e exclusivista associado aos brancos.
No papel, esse tipo de filme
cumpre todos os protocolos da
eficiência dramática, moral e
histórica com sua obsessão pela
representação politicamente
correta de tudo e de todos.
Mas quando se transforma
em filme, a compulsão pelo
equilíbrio se desfaz em tanta
"doçura" e "delicadeza" de sentimentos que pode produzir
enjoos num público que sente
prazer como efeito de nuances,
não de ênfases.
(CSC)
A VIDA SECRETA DAS ABELHAS
Direção: Gyna Prince-Bythewood
Produção: EUA, 2008
Com: Queen Latifah, Dakota Fanning e Jennifer Hudson
Onde: HSBC Belas Artes, Reserva
Cultural, Cinema da Vila e circuito
Classificação: livre
Avaliação: regular
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