São Paulo, sábado, 07 de agosto de 2010

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Iraniana critica laço de Lula com Ahmadinejad

Azar Nafisi questiona presidente do Brasil por ser "amigo de um assassino"

No debate com Nafisi, israelense Yehoshua sugere ironicamente asilo de mandatário iraniano no Brasil


PLÍNIO FRAGA
ENVIADO ESPECIAL A PARATY

A escritora iraniana Azar Nafisi, sob aplausos intensos da plateia na Flip, ontem, criticou Lula por se dizer amigo do presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, e por ter, de início, evitado interceder na condenação à morte por apedrejamento da iraniana Sakineh Ashtiani, por suposto crime de adultério.
"Lula primeiro disse que não deveria intervir neste assunto. Mas precisa saber que decidir não intervir já é uma intervenção", disse a autora de "Lendo Lolita em Teerã", sobre experiência real de um grupo de leituras discutindo obras como as de Nabokov.
Nafisi declarou ter ficado "feliz" depois que Lula ofereceu abrigo a Sakineh, mas criticou a forma da declaração do presidente, quando anunciou sua intervenção. "Ele disse que pediu ao amigo Ahmadinejad que, se uma pessoa o deixa desconfortável, perturba-o, que esta pessoa viesse para o Brasil.
Primeiro, ela não está perturbando ninguém. Ahmadinejad é que está perturbando 80% da população do Irã." A escritora citou que o Irã tem 75 jornalistas encarcerados e o maior número de presos políticos do mundo. "Todos virão para o Brasil?".
O conferencista que debateu com Nafisi, o escritor israelense Abraham B. Yehoshua, foi ovacionado quando sugeriu: "É melhor deixar todos lá e trazer Ahmadinejad para o Brasil. Quem sabe deixá-lo na Amazônia..." Nafisi reclamou das relações de Lula com o presidente do Irã: "Esse sujeito é seu amigo? Como pode ser amigo de um assassino?" Ela lembrou que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso apoia a campanha de liberação da cidadã iraniana.
Yehoshua apelou a Lula, aos EUA e à Europa que ajudem a israelenses e palestinos a celebrarem a paz no Oriente Médio. "É o mais antigo conflito do mundo moderno. Ajudem-nos a encontrar uma solução pacífica."
Em resposta a uma pergunta da plateia, o israelense disse que parou de ler o português José Saramago, a quem chamou de grande autor, depois que este comparou ação das forças de Israel em Ramallah, na Palestina, à morte de judeus em campos de concentração.
"Esta comparação ofende a inteligência de Saramago, que foi um provocador. Eu o conheci, li seus primeiros livros, mas ele sabia o que foi Auschwitz e que a comparação é inaceitável."


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