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ARTES PLÁSTICAS
Pintor revela ousadia
nos atos e nas formas
CELSO FIORAVANTE
da Reportagem Local
Quatrocentos anos depois de ter
produzido uma das mais originais
e influentes obras pictóricas da
história da arte, o mais importante
mestre italiano do século 17, Michelangelo Merisi da Caravaggio,
chega finalmente ao Brasil.
São apenas dois quadros, o que
parece pouco, mas a grandiosidade do evento se revela de imediato,
seja pelas qualidades estilísticas
das obras, seja por essa mesma
quantidade.
Duas telas de Caravaggio é muito. Raros são os museus, como a
National Gallery, em Londres, que
possuem essa quantidade em seu
acervo, já que do pintor não existem mais que 40 trabalhos documentados, grande parte em igrejas
e museus italianos.
Caravaggio (1571-1610), nome
que retirou do vilarejo onde seus
pais nasceram, representou uma
verdadeira revolução na pintura.
Rebelde em todos os aspectos, o
pintor ousou questionar noções
pictóricas criadas, desenvolvidas e
sedimentadas por mestres renascentistas e maneiristas, como Piero della Francesca, Leonardo da
Vinci, Michelângelo e Rafael.
Caravaggio fez pouco caso da
perspectiva, buliu com a luz, desdenhou do desenho e deu origem a
uma obra em constante conflito
com as convenções sociais, religiosas e artísticas de seu tempo.
Dono de um temperamento violento e intempestivo, dividiu-se
entre a fama de gênio artístico e a
de arruaceiro inveterado. Uma rebeldia que o fez ser "esquecido"
por cerca de dois séculos e recuperado apenas no século 19, por artistas como Delacroix, Géricault e
Courbet.
Caravaggio chocou a igreja da
época com seus anjos de natureza
andrógina, rapazes afeminados e
retratos da Virgem em que usava
uma prostituta, sua namorada Lena, como modelo. Tudo isso não
constrangeu totalmente a igreja, já
que ela precisava de uma aproximação maior com o público.
As representações religiosas deveriam ser o mais realistas possível
para buscar essa proximidade. A
religião e seus protagonistas não
estão mais acima da natureza e da
condição humana, como na produção dos renascentistas.
Por isso os personagens caravaggescos nascem nas ruas e se encontram nas tavernas, bebendo,
jogando ou trapaceando.
Seus modelos são bêbados, ladrões, trabalhadores e prostitutas.
Mesmo quando recusadas pela
igreja, devido a seu tratamento
pouco ortodoxo dos temas religiosos, suas obras eram rapidamente
compradas por colecionadores
particulares.
As obras, porém, não perdem
totalmente a santidade. Suas cenas
são dominadas por um intenso e
dramático claro-escuro, em que os
personagens são iluminados por
raios de luz concentrada.
A luz, em Caravaggio, tem uma
origem indeterminada e surge como aparição simbólica, algo que
acentua a dramaticidade da representação.
Mostra: A Lição de Caravaggio (duas obras
do pintor italiano e 33 de seguidores)
Onde: Masp (av. Paulista, 1.578, Cerqueira
César, tel. 011/251-5644)
Vernissage: segunda, dia 10, às 19h
(apenas para convidados)
Quando: de terça a domingo, das 9h às
21h. Até 4 de outubro
Quanto: R$ 8 e R$ 4 (estudantes). Crianças
até 10 anos e maiores de 60 não pagam.
Agendamento escolar pelo tel.
011/253-9663
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