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FESTIVAL DE CINEMA JUDAICO
"Nobody's' reconstitui saga familiar
JOSÉ GERALDO COUTO
da Equipe de Articulistas
"Não É da Conta de Ninguém"
("Nobody's Business"), do norte-americano Alan Berliner, é um
documentário exemplar.
Não no sentido de modelo a ser
imitado, mas de prova viva da riqueza que o gênero pode alcançar,
quando existe talento, paixão e
criatividade.
Numa definição sumária, o filme
seria a reconstituição do passado e
do presente de uma família judia
americana a partir do diálogo entre um filho (o diretor do filme) e
seu pai (o comerciante aposentado Oscar Berliner).
Mas esse resumo dá, quando
muito, uma pálida imagem do que
é esse documentário admirável.
Alan Berliner parte de uma interdição -o pai não quer falar sobre o passado- para construir
um surpreendente quebra-cabeças em que se misturam filmes domésticos, depoimentos de pessoas
vivas, imagens de arquivo, música, ruídos, silêncio.
Com base em pesquisas realizadas no Leste Europeu e no arquivo
da Biblioteca de História Familiar
(em Salt Lake City, EUA), somadas aos depoimentos do pai, da
mãe, da irmã e de primos espalhados pelo país, o cineasta reconstitui o passado de sua família.
Vamos conhecendo então a rica
saga dos Berliner e, secundariamente, dos Cassuto. O avô paterno
de Alan veio da Polônia para os
EUA na virada do século. O avô
materno (retratado no filme "Íntimo Estranho") nasceu na Palestina, viveu no Egito e no Japão antes de imigrar para a América.
O pai de Alan, Oscar, lutou no
Exército americano na Segunda
Guerra, período que considera "o
mais feliz da sua vida", talvez por
ter-lhe dado o sentimento de pertencer ativamente a um país.
Lacônico e carrancudo, o velho
Berliner resiste entretanto aos pedidos do filho para que fale sobre
seus antepassados e sobre seus parentes espalhados pelo mundo:
"Isso não é da conta de ninguém".
O filme vai mostrar o contrário.
Seu maior mérito, do ponto de vista intelectual e moral, é o de mostrar que qualquer vida, por mais
obscura que pareça à primeira vista, diz respeito a todos os homens
e a cada um em particular. O depoimento mais pessoal é também
o mais universal.
"Somos estranhos que compartilham uma história comum", diz
um dos primos distantes entrevistados por Alan. Ele falava da família, mas podemos estender suas
palavras a toda a humanidade.
Esse humanismo radical -análogo ao de um John Donne- não
vem sob a forma de retórica.
Berliner sabe que está fazendo
cinema e não perde de vista os valores próprios de sua linguagem: o
ritmo, o diálogo som-imagem, a
surpresa, o humor.
Seu filme não tem nenhum momento aborrecido ou vulgar. É
uma festa para os olhos e para o
espírito.
Filme: Não É da Conta de Ninguém
Produção: EUA, 1996, 60 min
Direção: Alan Berliner
Quando: hoje, às 21h, no Museu da
Imagem e do Som - MIS (av. Europa, 158,
tel. 011/852-9197)
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