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"Domésticas" expõe os talentos de Renata Melo
da Reportagem Local
O cenário de "Domésticas" é todo branco, como as paredes de
azulejo de uma cozinha ou de uma
área de serviço. Ao fundo, no centro, saindo do nada, um fio grosso
de plástico como aqueles que seguram varais de secar roupa em
apartamento. Sugere a forma de
uma forca.
"Domésticas", espetáculo criado, dirigido e interpretado por Renata Melo, à primeira vista é alegre, ligeiro, como seu cenário
branco. Poderia, sem equívoco,
ser descrito como uma comédia.
Mas, nos retratos que vai fazendo das empregadas domésticas, de
seu cotidiano de fantasias e frustrações, o fundo é sombrio como a
forca.
São diversos quadros criados
por Renata Melo -artista consagrada na dança e que agora se estabelece também no teatro- a partir de inúmeras entrevistas com
empregadas. Ela recriou as falas e
editou, em quadros, cenas sem
maior conexão entre si.
Num deles (mais de um, na verdade, avança pelo tema) as três
empregadas da encenação filosofam sobre a morte.
Em outro, uma empregada doméstica negra lembra que uma antepassada sua "foi escrava" e que
sua mãe foi, como ela própria,
empregada. Enfim, que não há diferença maior entre uma e outra.
Não muito resignada, diz que
também a sua "missão é mesmo
ser doméstica".
Em outro quadro ainda, as empregadas repetem, como numa ladainha cômica, "nasce, morre,
nasce, morre, nasce, morre".
O tema não é fácil, num país em
que a diferença social é mitigada,
sobretudo em seus pontos de conflito direto, pessoal, por hipocrisia
ou cinismo.
Mas Renata Melo seduz como
numa armadilha. As suas "domésticas" não ficam muito a dever
à Olímpia de "Trair e Coçar" e demais caricaturas farsescas de empregadas no teatro e na representação em geral.
O que poderia ser reforço de preconceito, porém, resulta a cada
quadro em maior singeleza, maior
humanidade, maior igualdade,
enfim.
Um belo espetáculo, em que o
cuidado com a expressividade formal, evidente no cenário sempre
imaginoso e jamais gratuito de
Daniela Thomas, se estende às coreografias da própria Renata Melo.
São movimentos repetitivos inspirados nos serviços "domésticos", mas sublinhados no que têm
de mecanização, a ponto de provocar certo desconforto no espectador -e também o riso, fazendo
até lembrar os "Tempos Modernos", de Chaplin.
(NS)
Peça: Domésticas
Quando: qui. a sáb., às 21h30; dom., às
20h30
Onde: Centro Cultural São Paulo (r.
Vergueiro, 1.000, tel. 011/277-3611)
Quanto: R$ 12
Patrocinador: PEM Engenharia
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