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TEATRO - CRÍTICA
"Yerma" aproxima García Lorca do Brasil
NELSON DE SÁ
da Reportagem Local
É difícil imaginar um encenador,
hoje no país, mais indicado para
dirigir, melhor ainda, para aproximar Federico García Lorca
(1898-1936) dos brasileiros.
Romero de Andrade Lima carrega na carreira e no sangue -ele
que se tornou "armorial" ouvindo de Ariano Suassuna, em casa-
um ideal estético que não distingue fronteiras claras entre o Nordeste e a Península Ibérica.
Desde a sua primeira encenação,
um celebrado "Auto da Paixão",
cinco anos atrás, o artista plástico
pernambucano parece erguer
pontes com o mesmo passado em
que o poeta espanhol se inspirou
para escrever, entre outras, "Yerma".
São fontes como a "era de ouro"
espanhola e as tragédias gregas
-além do brilho e das sombras do
catolicismo.
"Yerma" é uma tragédia, como
se esforçou por caracterizar Lorca,
escrita logo depois dos anos que o
poeta passou com La Barraca,
companhia ambulante que apresentava textos clássicos espanhóis
para platéias populares.
Uma tragédia em que um apelo
da "natureza", a maternidade,
conflita com uma exigência da
"honra", da família. Yerma deseja
um filho que o marido não lhe
permite ter, mas ao mesmo tempo
se nega a traí-lo.
Não há um argumento, mas um
acúmulo de tensão e de imagens,
nos quadros poéticos que o autor
escreveu. Romero de Andrade Lima encena os quadros com o lirismo que era marca do poeta.
Mais uma vez, é na música, na
percussão, sobretudo no coro, que
se sustenta muito do envolvimento e da concentração alcançados
pelo espetáculo da companhia
Circo Branco.
Envolvimento que surpreende,
pelo formato do projeto Lorca na
Rua, de apresentação em caminhões, em praça pública. A primeira e única apresentação em
São Paulo, anteontem, foi na praça da Sé no início da noite.
(Por sinal, Lorca na Rua é um
dos mais belos projetos criados
para o teatro, nesta década, iniciando no centro de São Paulo
uma viagem que leva a dezenas de
pequenas cidades.)
Mas a novidade maior do espetáculo, em se tratando de Andrade
Lima e do Circo Branco, é a qualidade da interpretação, que não se
reconhecia antes.
Além do amadurecimento dos
próprios atores do grupo, de que é
exemplo maior Edna Aguiar, a
montagem incorpora atores jovens revelados nos últimos dois ou
três anos. É o caso de Gustavo Machado, que faz o marido, João.
Ele e Edna Aguiar formam o
mais inusitado casal, no palco.
Mas, em meio ao burburinho sem
fim na praça da Sé, eles seguem
num trilho próprio, de crescente
confronto e, estranhamente, crescente amor.
São levados, com certeza, pelo
gênio dramático de Lorca, mas
também, ao que parece, por uma
mais experiente direção de atores,
de Andrade Lima.
Não que "Yerma" busque perfeição formal. Como tem mostrado em suas últimas peças, o encenador cada vez menos se atém ao
rigor, à exatidão -em busca de
uma proximidade maior com um
teatro popular.
Que o diga o espanhol da adaptação. "Yerma" é representada no
original, ou no que um brasileiro,
nas ruas, imaginaria ser um original espanhol.
Peça: Yerma
Próximas apresentações: dia 10, em
Pirassununga; dia 11, em São José do Rio
Preto; dia 12, em Leme; dia 13, em Porto
Ferreira
Informações: 011/234-3000, ramal 3081
Patrocinador: Sesc
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