ALEXANDRE LOURES
das Regionais

O Cidade Negra chega ao quinto disco com os pés no asfalto. Não se trata, porém, de nenhuma turnê, mas do termo usado no Rio de Janeiro para designar os lugares mais abastados, longe dos morros.
Em "Quanto Mais Curtido Melhor" a banda carioca consolida a tendência de falar menos de problemas sociais e mais de amor.
A suavização da temática começou no terceiro disco. "Sobre Todas as Forças", de 94, o primeiro com o vocalista Toni Garrido e que vendeu 800 mil cópias, e se intensificou em "O Erê", de 96, com 600 mil discos vendidos.
Garrido explica a mudança: "Arrumamos um jeito de sermos ouvidos; nos tornamos mais brandos. Quem faz música só para negro continua no gueto. Nós cantamos para todas as raças".
A banda, porém, não concorda com a falta de teor político de suas letras atuais: "Falar que não representamos mais a comunidade é chavão de jornalista que não houve o disco direito'", disse Garrido.
"Curtido..." começa com o hit "Já Foi", música pulsante que flerta com o funk e fala de separação. "Nessa canção, o grupo já mostra o que vem pela frente. É uma mistura de ritmos e influência", diz o guitarrista Da Gama.
Outro destaque é "Sábado à Noite", de Lulu Santos, que é candidata a figurar em listas de mais tocadas e foi feita sob encomenda para a banda. "O brasileiro, principalmente o negro, trabalha a semana inteira e espera ansiosamente pelo sábado. A música fala desse sentimento", diz Garrido.
Da experiência no Heineken Concerts, onde se apresentaram como convidados de Liminha, que é produtor do disco, o grupo tirou a versão de "Nos Barracos da Cidade", de Liminha e Gilberto Gil. "Não há suavização que tire o peso da poesia de Gil", diz Garrido.
O cantor baiano também é citado em "Os Anjos", uma das parcerias do grupo com Bernardo Vilhena. A outra é "A Cor do Sol", com influências da surf music. Marcos Valle também participa do CD, assinando a letra de "Rio pro Mar", com "abertura climática que desemboca num groove pontuado de scratches".



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