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LIVRO/LANÇAMENTO
"HIROSHIMA"
Originalmente uma reportagem, texto foi eleito como o melhor publicado pela imprensa no século 20
Obra propõ e visão crua do holoc austo nucle ar
CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
ESPECIAL PARA A FOLHA
Em 1999, a Universidade de
Nova York reuniu 67 entre os
mais respeitados jornalistas e historiadores de diversas escolas de
pensamento e tendências ideológicas para que eles escolhessem os
cem melhores textos publicados
pela imprensa no século 20.
Em primeiro lugar, sem contestações, ficou a reportagem
"Hiroshima", de autoria de John
Hersey, publicada em agosto de
1946 pela revista "The New Yorker". As entrevistas que serviram
de base para o texto foram feitas
em Hiroshima durante três semanas de maio de 1946.
O material recolhido foi imenso,
mas, na hora de colocá-lo no papel, Hersey resolveu cortá-lo radicalmente e ficar com o depoimento de apenas seis pessoas: uma escriturária, um médico, a viúva de
um alfaiate, um sacerdote alemão,
um cirurgião e um pastor metodista. "Hiroshima" conta o que
cada um deles fazia às 8h15 de 6 de
agosto de 1945, quando a bomba
nuclear explodiu, como eles reagiram aos acontecimentos do dia,
como viveram durante os nove
meses seguintes.
As 300 mil cópias da revista se
esgotaram em dois dias. Não demorou muito para a reportagem
sair na forma de livro. Vendeu 3,5
milhões de unidades. O objetivo
do secretário de redação, William
Shawn, que havia pautado Hersey, e de Harold Ross, o "publisher" e fundador da revista, que
editou com o repórter durante oito dias as 150 páginas originais,
havia sido alcançado.
Hersey, que nasceu na China e
cobriu a Segunda Guerra Mundial
na Ásia para a revista "Time", resolveu fazer do relato dos sobreviventes do primeiro ataque nuclear da história uma história sem
muitos adjetivos. Quarenta anos
depois de tê-la escrito, ele resumiu assim seu intento: "O estilo
simples foi deliberado, e eu ainda
acho certo que eu o tivesse adotado. Maneirismos literários, demonstrações de paixão teriam me
colocado na história como mediador. Quis evitar essa mediação para que a experiência do leitor fosse
a mais direta possível".
Agora, brasileiros que não dominam o inglês podem usufruir
dessa experiência e ler uma notável lição de jornalismo. A edição
brasileira de "Hiroshima", traduzida com correção por Hildegard
Feist, inclui um capítulo adicional, escrito por Hersey em 1984,
quando ele revisitou a cidade do
holocausto nuclear, e foi atrás dos
seus seis personagens, dois dos
quais já haviam morrido. No posfácio, o jornalista Matinas Suzuki
Jr. conta como a reportagem de
Hersey foi produzida.
Carlos Eduardo Lins da Silva é diretor-adjunto de Redação do jornal "Valor Econômico"
Hiroshima
Autor: John Hersey
Editora: Companhia das Letras
Quanto: R$ 26 (172 págs.)
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