São Paulo, sábado, 07 de setembro de 2002

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LIVRO/LANÇAMENTO

"HIROSHIMA"

Originalmente uma reportagem, texto foi eleito como o melhor publicado pela imprensa no século 20

Obra propõ e visão crua do holoc austo nucle ar

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Em 1999, a Universidade de Nova York reuniu 67 entre os mais respeitados jornalistas e historiadores de diversas escolas de pensamento e tendências ideológicas para que eles escolhessem os cem melhores textos publicados pela imprensa no século 20.
Em primeiro lugar, sem contestações, ficou a reportagem "Hiroshima", de autoria de John Hersey, publicada em agosto de 1946 pela revista "The New Yorker". As entrevistas que serviram de base para o texto foram feitas em Hiroshima durante três semanas de maio de 1946.
O material recolhido foi imenso, mas, na hora de colocá-lo no papel, Hersey resolveu cortá-lo radicalmente e ficar com o depoimento de apenas seis pessoas: uma escriturária, um médico, a viúva de um alfaiate, um sacerdote alemão, um cirurgião e um pastor metodista. "Hiroshima" conta o que cada um deles fazia às 8h15 de 6 de agosto de 1945, quando a bomba nuclear explodiu, como eles reagiram aos acontecimentos do dia, como viveram durante os nove meses seguintes.
As 300 mil cópias da revista se esgotaram em dois dias. Não demorou muito para a reportagem sair na forma de livro. Vendeu 3,5 milhões de unidades. O objetivo do secretário de redação, William Shawn, que havia pautado Hersey, e de Harold Ross, o "publisher" e fundador da revista, que editou com o repórter durante oito dias as 150 páginas originais, havia sido alcançado.
Hersey, que nasceu na China e cobriu a Segunda Guerra Mundial na Ásia para a revista "Time", resolveu fazer do relato dos sobreviventes do primeiro ataque nuclear da história uma história sem muitos adjetivos. Quarenta anos depois de tê-la escrito, ele resumiu assim seu intento: "O estilo simples foi deliberado, e eu ainda acho certo que eu o tivesse adotado. Maneirismos literários, demonstrações de paixão teriam me colocado na história como mediador. Quis evitar essa mediação para que a experiência do leitor fosse a mais direta possível".
Agora, brasileiros que não dominam o inglês podem usufruir dessa experiência e ler uma notável lição de jornalismo. A edição brasileira de "Hiroshima", traduzida com correção por Hildegard Feist, inclui um capítulo adicional, escrito por Hersey em 1984, quando ele revisitou a cidade do holocausto nuclear, e foi atrás dos seus seis personagens, dois dos quais já haviam morrido. No posfácio, o jornalista Matinas Suzuki Jr. conta como a reportagem de Hersey foi produzida.

Carlos Eduardo Lins da Silva é diretor-adjunto de Redação do jornal "Valor Econômico"



Hiroshima     
Autor: John Hersey
Editora: Companhia das Letras
Quanto: R$ 26 (172 págs.)




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