São Paulo, segunda, 7 de setembro de 1998

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GASTRONOMIA
Serena Sutcliffe, uma das 35 mulheres Master of Wine do mundo, veio conhecer o mercado nacional
"Mestra do vinho' inglesa visita o Brasil

Marlene Bergamo/Folha Imagem
A enóloga inglesa Serena Sutcliffe, que esteve no Brasil nesta semana


JORGE CARRARA
Colunista da Folha

A enóloga inglesa Serena Sutcliffe, uma das maiores autoridades mundiais dentro do comércio do vinho, esteve no Brasil no começo desta semana para conhecer um dos mais importantes mercados da América do Sul na compra de coleções de vinhos finos.
Serena, diretora do Departamento de Vinhos da Sotheby's (uma das mais importantes casas de leilões do planeta, para a qual avalia coleções antes de colocá-las à venda), é também autora de livros de sucesso, como "Champagne" e "The Simon & Schuster Guide of the Wines of Burgundy", duas das melhores obras existentes sobre essas regiões vinícolas francesas.
Seu interesse pelo vinho nasceu na França, quando trabalhava como tradutora para a Unesco, em Paris, e dedicava seu tempo livre a percorrer adegas e vinhedos.
De volta à Inglaterra, passou a trabalhar numa importadora de vinhos e estudar para os exames que a tornariam, em 1976, uma das primeiras mulheres com o título de Master of Wine, um dos mais cobiçados da indústria.
Hoje, ela é uma das 35 mulheres Master of Wine em todo o mundo (apenas 240 pessoas no planeta ostentam o título). Serena tem atuado como consultora, selecionando vinhos para importadoras. Durante a visita ao país, concedeu a seguinte entrevista à Folha.

Folha - Considera-se que as mulheres têm sensibilidade e habilidade para julgar vinhos, no mínimo, equivalente à dos degustadores masculinos. Por que há tão poucas entre os Master of Wine?
Serena Sutcliffe
- Concordo que as mulheres podem ser até mais acuradas no julgamento, porém acredito que muitas não enxergam no vinho uma carreira.
Mas isso está mudando. Na Inglaterra há mulheres trabalhando na área em supermercados. O numero delas na industria está aumentando, e na Califórnia muitas têm sucesso como enólogas. Minha área, de leilões de vinhos finos, o topo do mercado, ainda é dominada pelos homens.
Folha - O que define os grandes vinhos e de onde eles vêm hoje?
Serena
- Para mim é fácil definir um grande vinho, cujas características são bem diferentes das de um vinho bom ou muito bom. Primeiramente, um grande vinho deve ser complexo, nunca simples. Claro, tem que ter um aroma fantástico, um grande começo, um meio e um longo final. E, por último, um grande vinho tem de ter o potencial de envelhecer, tornando-se melhor com a idade.
Podem-se encontrar grandes vinhos em Bordeaux, Borgonha, Rhône, Loire ou Alsace, na França, mas há também grandes Rieslings alemães e Cabernets californianos, como o Ridge Monte Bello.
Folha - Já na área de leilões, onde se concentram as melhores e mais valiosas coleções de vinhos que poderiam ser colocadas à venda?
Serena
- Há coleções extraordinárias na Europa, principalmente na Inglaterra, Bélgica e França, umas poucas na Suíça e na Alemanha e também algumas, obviamente mais recentes, nos EUA.
Folha - E onde há compradores?
Serena
- Em toda parte. Europa, América do Norte , América do Sul -onde, certamente, do ponto de vista dos leilões, o Brasil lidera.
Folha - Como é o processo para tornar-se Master of Wine?
Serena
- Há um exame,o mais difícil da indústria de vinhos, com questionários que abrangem todos os aspectos relacionados à bebida: o cultivo das uvas, sua elaboração, amadurecimento, características bioquímicas e os aspectos legais da sua comercialização.
Dentro do exame, que leva cerca de uma semana, três dias são dedicados a degustar vinhos às cegas (sem saber o que se está provando), quando os candidatos devem identificar as amostras e responder a perguntas sobre o tipo de vinificação, comidas que combinam com elas e variedades de uvas utilizadas na produção.
De 10% a 15% dos inscritos são aprovados.
Folha - Durante a avaliação de uma adega são degustados alguns dos vinhos. Qual foi a garrafa mais memorável que provou?
Serena
- Uma das minhas melhores experiências foi quando trabalhava numa casa de campo inglesa e encontrei um lote de Château d'Yquem 1921 que não es tava registrado no livro da adega. Experimentei uma das garrafas e estava impecável. Foi um grande dia.



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