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GASTRONOMIA
Serena Sutcliffe, uma das 35 mulheres Master of Wine do mundo, veio conhecer o mercado nacional
"Mestra do vinho' inglesa visita o Brasil
Marlene Bergamo/Folha Imagem
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A enóloga inglesa Serena Sutcliffe, que esteve no Brasil nesta semana
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JORGE CARRARA
Colunista da Folha
A enóloga inglesa Serena Sutcliffe, uma das maiores autoridades
mundiais dentro do comércio do
vinho, esteve no Brasil no começo
desta semana para conhecer um
dos mais importantes mercados da
América do Sul na compra de coleções de vinhos finos.
Serena, diretora do Departamento de Vinhos da Sotheby's (uma
das mais importantes casas de leilões do planeta, para a qual avalia
coleções antes de colocá-las à venda), é também autora de livros de
sucesso, como "Champagne" e
"The Simon & Schuster Guide of
the Wines of Burgundy", duas das
melhores obras existentes sobre
essas regiões vinícolas francesas.
Seu interesse pelo vinho nasceu
na França, quando trabalhava como tradutora para a Unesco, em
Paris, e dedicava seu tempo livre a
percorrer adegas e vinhedos.
De volta à Inglaterra, passou a
trabalhar numa importadora de
vinhos e estudar para os exames
que a tornariam, em 1976, uma das
primeiras mulheres com o título
de Master of Wine, um dos mais
cobiçados da indústria.
Hoje, ela é uma das 35 mulheres
Master of Wine em todo o mundo
(apenas 240 pessoas no planeta ostentam o título). Serena tem atuado como consultora, selecionando
vinhos para importadoras. Durante a visita ao país, concedeu a seguinte entrevista à Folha.
Folha - Considera-se que as mulheres têm sensibilidade e habilidade para julgar vinhos, no mínimo, equivalente à dos degustadores masculinos. Por que há tão
poucas entre os Master of Wine?
Serena Sutcliffe - Concordo que
as mulheres podem ser até mais
acuradas no julgamento, porém
acredito que muitas não enxergam
no vinho uma carreira.
Mas isso está mudando. Na Inglaterra há mulheres trabalhando
na área em supermercados. O numero delas na industria está aumentando, e na Califórnia muitas
têm sucesso como enólogas. Minha área, de leilões de vinhos finos,
o topo do mercado, ainda é dominada pelos homens.
Folha - O que define os grandes
vinhos e de onde eles vêm hoje?
Serena - Para mim é fácil definir
um grande vinho, cujas características são bem diferentes das de um
vinho bom ou muito bom. Primeiramente, um grande vinho deve
ser complexo, nunca simples. Claro, tem que ter um aroma fantástico, um grande começo, um meio e
um longo final. E, por último, um
grande vinho tem de ter o potencial de envelhecer, tornando-se
melhor com a idade.
Podem-se encontrar grandes vinhos em Bordeaux, Borgonha,
Rhône, Loire ou Alsace, na França,
mas há também grandes Rieslings
alemães e Cabernets californianos,
como o Ridge Monte Bello.
Folha - Já na área de leilões, onde
se concentram as melhores e mais
valiosas coleções de vinhos que
poderiam ser colocadas à venda?
Serena - Há coleções extraordinárias na Europa, principalmente
na Inglaterra, Bélgica e França,
umas poucas na Suíça e na Alemanha e também algumas, obviamente mais recentes, nos EUA.
Folha - E onde há compradores?
Serena - Em toda parte. Europa,
América do Norte , América do Sul
-onde, certamente, do ponto de
vista dos leilões, o Brasil lidera.
Folha - Como é o processo para
tornar-se Master of Wine?
Serena - Há um exame,o mais difícil da indústria de vinhos, com
questionários que abrangem todos
os aspectos relacionados à bebida:
o cultivo das uvas, sua elaboração,
amadurecimento, características
bioquímicas e os aspectos legais da
sua comercialização.
Dentro do exame, que leva cerca
de uma semana, três dias são dedicados a degustar vinhos às cegas
(sem saber o que se está provando), quando os candidatos devem
identificar as amostras e responder a perguntas sobre o tipo de vinificação, comidas que combinam
com elas e variedades de uvas utilizadas na produção.
De 10% a 15% dos inscritos são
aprovados.
Folha - Durante a avaliação de
uma adega são degustados alguns
dos vinhos. Qual foi a garrafa mais
memorável que provou?
Serena - Uma das minhas melhores experiências foi quando trabalhava numa casa de campo inglesa
e encontrei um lote de Château
d'Yquem 1921 que não es tava registrado no livro da adega. Experimentei uma das garrafas e estava
impecável. Foi um grande dia.
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