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CINEMA
"Novos independentes são comerciais", diz Al Ruban, fotógrafo do precursor diretor indie (1929-1989)
Festival Rio 99 terá John Cassavetes
RONALDO SOARES
da Sucursal do Rio
O atual cinema independente
norte-americano está distante de
suas raízes tanto no tempo -já se
vão quase quatro décadas de produções alternativas- como nas
intenções, hoje em dia bem mais
"comerciais".
A constatação é de um dos protagonistas dos primórdios do cinema independente nos EUA, Al
Ruban, 63, fotógrafo e produtor
de John Cassavetes (1929-1989),
precursor do cinema alternativo.
Em entrevista por telefone à Folha, de Nova York, Ruban classificou como "comercial" a atual
produção independente, incluindo o badalado "A Bruxa de Blair".
Para ele, a grande diferença é que
os filmes de Cassavetes eram "difíceis de vender", porque tratavam de "relacionamentos humanos", enquanto os atuais seriam
voltados para a "exploração do
público".
Segundo Ruban, o cinema independente surgiu de uma "energia
juvenil" presente num grupo de
nova-iorquinos que gravitava em
torno de Cassavetes nos anos 60
-entre eles o próprio fotógrafo- e que acabaria constituindo
o staff de suas produções.
Os dez anos da morte de Cassavetes serão lembrados no Rio
com uma retrospectiva do cineasta no Festival Rio 99, mostra de cinema que será realizada entre os
dias 16 e 30 (veja destaques da
programação ao lado).
A seguir, os principais trechos
da entrevista de Ruban:
Folha - Os filmes independentes conquistaram seu espaço no
mercado. Isso faz de Cassavetes
um diretor cada vez mais atual?
Al Ruban - Não sei. Existe muita
diferença entre os filmes independentes de hoje e os feitos por
John. Ele fez filmes sobre pessoas,
sobre relacionamentos humanos.
Acho que os filmes de hoje, como
"A Bruxa de Blair" (que será exibido no Festival Rio 99), são mais
comerciais. São mais fáceis de
vender porque você pode sentir
neles uma certa exploração do
público, no sentido de fazer o espectador se sentir dentro do filme. Nossos filmes são bem mais
difíceis porque são sobre pessoas,
sobre emoções. Mas o mais importante é que as pessoas que vão
vê-los, ao final do filme, se sentem
afetadas por eles. E conversam sobre isso, porque dizem respeito a
suas próprias vidas. Essa é a principal diferença.
Folha - Cassavetes sempre trabalhou com as mesmas pessoas.
Vocês ainda mantêm contato?
Ruban - Sim. Mesmo que a gente fique sem se falar durante dois
anos, somos sempre grandes amigos. Somos todos famintos, temos
desejo de descobrir as coisas.
Folha - Que recordações o sr.
guarda daquela época?
Ruban - Quando fizemos filmes
como "Sombras" (1960) e "Faces"
(1968), por exemplo, não tínhamos muita noção do que estávamos fazendo. Havia uma certa
inocência, um misto de energia e
desejo que nos movia. Acho que
essa energia juvenil foi o fator
criador do cinema independente.
Folha - Qual a maior lição que
o sr. teve de Cassavetes?
Ruban - Persistência. Ser capaz
de ir até o fim, de começar alguma
coisa e, apesar das dificuldades,
não desistir nunca. Ele costumava
dizer que uma das coisas mais difíceis da vida era começar alguma
coisa e concluí-la. Ele falava assim: "Isso é o que queremos fazer,
é assim que vamos fazer, então
vamos nessa até o fim".
Folha - O que é importante para fazer filmes independentes?
Ruban - Ter a coragem de encarar as coisas honestamente. É
muito importante não ficar dando ouvidos a pessoas de fora do
projeto dizendo o que é bom para
você, o que é bom para o filme,
que você tem de fazer isso e aquilo. Acho que se você não tiver
convicção não vai adiante. Tem
de seguir adiante e fazer, mesmo
que cometa alguns erros.
Folha - E o que é importante
para fazer filmes independentes
de sucesso?
Ruban - Diga-me você (risos).
Eu não sei. Sei que se você tiver
confiança em si próprio e fizer tudo o que pode já é o suficiente.
Porque você teve a coragem de seguir adiante, terminar e mostrar
isso às pessoas.
Folha - O sr. acha que os diretores de "A Bruxa de Blair" teriam a resposta para essa pergunta?
Ruban- Não. Acho que eles tiveram sorte.
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