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"JUSCELINO KUBITSCHEK, O MÉDICO"
Jotaká, além de presidente, foi um esculápio da pesada
GILBERTO VASCONCELLOS
ESPECIAL PARA A FOLHA
Nós, reles mortais, que não
saímos da mediania, dificilmente somos capazes de imaginar que um escritor genial como
João Guimarães Rosa tenha sido
um excelente médico, formado
em 1930 na Faculdade de Medicina de Belo Horizonte.
A mesma coisa ocorre em relação a um homem público notável
como Juscelino Kubitschek, a respeito do qual somos levados a supor que tivesse sido presidente da
República por faltar-lhe vocação
para outra coisa. Ledo engano.
Não é assim que a banda toca,
conforme mostrou o pesquisador
e também médico Fernando
Araújo, trazendo-nos preciosas
informações acerca de Jotaká, órfão de pai aos 3 anos, filho de professora primária, estudante pobre, frequentando seminário eclesiástico em Diamantina, sem a
menor vocação para ser padre;
depois, telegrafista em Belo Horizonte, trabalhando à noite para
poder estudar de dia na faculdade
de medicina, em 1922.
Juscelino Kubitschek foi o primeiro e único médico a ser eleito
presidente do Brasil. Ei-lo rememorando a época de estudante
pobre e aplicado de medicina:
"Nada na vida me custou tanto esforço como cursar a faculdade de
medicina e formar-me. Pertenci à
estirpe dos estudantes sem mesada, dos que, durante o curso, trabalham por necessidade".
Teve notas excelentes, foi aluno
exemplar e, detalhe importante,
ficou inteiramente alheio à política estudantil de sua época. Não
queria ser senão médico. A política nunca lhe passou pela cabeça.
Formou-se em 1927, na mesma
turma de Pedro Nava, o qual se
revelaria um dos grandes escritores memorialistas da literatura
brasileira. Aliás, a Faculdade de
Medicina de Belo Horizonte é um
celeiro de personalidades notáveis, a exemplo do dermatologista
Oswaldo Costa, do parasitologista
Hamílcar Martins, do historiador
da medicina brasileira Pedro Sales, do psicanalista Hélio Pellegrino e do antropólogo Darcy Ribeiro, que não chegou a se formar,
mas por lá estudou uns tempos.
Percebe-se, nos dias de hoje, um
saudável surto memorialístico na
intelectualidade mineira, empenhada em recuperar vultos e períodos da história de Minas. Sem
esquecer a advertência do grande
historiador Michelet: na verdadeira história não existe nostalgia.
O médico e historiador João
Amílcar Salgado, o Michel Foucault da memória médica mineira, professor de clínica médica,
informou-me que nem a fofoca
alardeada pela UDN conseguiu
ofuscar a fama de bom médico
que teve Juscelino, o qual recebeu
o justo epíteto de "o bisturi de ouro da Força Pública mineira"
quando prestou serviços em Passa Quatro, sul de Minas, durante a
Revolução Constitucionalista de
32, época em que conheceu o delegado Benedito Valadares, que o
nomeou, em 1940, prefeito de Belo Horizonte.
Cirurgião talentoso, estudou cirurgia e urologia em Paris, em
1930, morando no Hôtel de la
Paix, boulevard Raspail. Em Belo
Horizonte, foi assistente da Casa
da Misericórdia, onde fazia cirurgia em pessoas pobres.
Mesmo depois de nomeado
prefeito de Belo Horizonte, Juscelino operava todas as manhãs no
Hospital Militar, o que revela sua
dedicação à medicina, como se
pode constatar pela sua biblioteca
particular forrada de livros médicos especializados.
Junto com o doutor Júlio Soares, que seria seu cunhado, montou consultório no edifício Parc
Royal, rua Bahia, que foi a maior
clínica particular de Belo Horizonte. Sua última cirurgia feita
por Juscelino sucedeu em 1944.
Apendicite aguda.
Segundo o estudo acurado de
Fernando Araújo, que passou cinco anos escarafunchando os documentos e colhendo depoimentos, o presidente que mais cuidou
da saúde pública foi Juscelino Kubitschek (1956-60), o qual conseguiu erradicar moléstias como a
malária, a febre amarela e a tuberculose, doenças terríveis que estão de volta atualmente com a
medievalização tucana do país.
Juscelino Kubitschek, o Médico
Autor: Fernando Araújo
Editora: Academia Mineira de Medicina
(0/xx/31/237-3287)
Quanto: R$ 25 (378 págs.)
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