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CRÍTICA
Finalmente, chega o produto por inteiro
SÉRGIO DÁVILA
DA CALIFÓRNIA
A principal qualidade de
"Kill Bill 2", a continuação
do épico demente-feminista de
Quentin Tarantino, é dar unidade
a uma obra que originalmente foi
planejada para ser única, perdoe o
pleonasmo. Fica cada vez mais
evidente que nunca existiu "Kill
Bill 1" e "Kill Bill 2", a não ser na
cabeça dos Weinstein, os irmãos
comerciantes da Miramax.
Na (desproporcionalmente
enorme, em todos os sentidos) cabeça do diretor, "KB" era um só,
tivesse duas, três ou quatro horas
de duração. Mas Tarantino passou tempo suficiente pagando sapo atrás daquele balcão de videolocadora na Califórnia para saber
a regra básica de sobrevivência
em Hollywood: você não morde a
mão que o alimenta.
Quando Harvey Weinstein entrou no estúdio em que Tarantino
finalizava algumas cenas na Ásia,
no meio de 2003, conforme relatou o diretor à Folha, e "sugeriu"
que o filme fosse dividido em
dois, para não cansar a audiência
e para ser viável comercialmente,
minutos foram o suficiente para
que o autor da obra dissesse sim.
O que não tirou o brilho de
"KB", apenas o adiou. Assistir à
primeira parte sozinha era uma
coisa, ver a segunda parte tendo
aquela como referência é outra
experiência. Mesmo o mercado
doméstico americano, cujo Q.I.
médio tende ao dígito único, percebeu e deu mais dinheiro em bilheteria, proporcionalmente, à
continuação. Criou-se a "tendência": o sujeito assistia a "KB2" no
cinema, saía impressionado, alugava o DVD de "KB1" e então voltava para o repeteco de "KB2".
Recomendo o mesmo ao sujeito
brasileiro. A recompensa é um
dos filmes mais bem realizados
dos últimos anos, com tudo aquilo que fez a fama do diretor mais
influente a surgir nos anos 90, autor de pelo menos dois filmes,
"Cães de Aluguel" (92) e "Pulp
Fiction" (94), que são a raiz de
muita árvore genealógica cinematográfica: os diálogos verborrágicos, estilo metralhadora, as referências (pilhagem seria palavra
mais exata) a outros filmes, dezenas e dezenas -os westerns de
Sergio Leone com mais evidência.
Como quem viu o primeiro filme já sabe, a Noiva (Uma Thurman) não se casa. Depois de se livrar de quase toda a gangue que a
atacou na parte 1, ela parte para
pegar quem restou: Budd (Michael Madsen), Elle Driver (Daryl
Hannah) e o próprio Bill (David
Carradine), obviamente. O que
ela não sabe é que sua filha com
ele está viva e bem...
A coisa toda é toda tão certa,
mas vale a pena destacar três momentos. O primeiro é a atuação de
Carradine. Acontece com ele, que
foi o Kung-Fu da série de TV dos
anos 70 e nunca mais fez nada relevante, o mesmo que com John
Travolta pós-"Pulp Fiction": um
mau ator (no caso de Carradine,
inclusive um ator que sibila, o que
é um problema se você não é genial como o Miguel Magno) que
encontra um bom diretor, que o
ajuda a elevar sua canastrice à categoria de arte.
O segundo é a briga entre Uma
Thurman e Daryl Hannah. O diretor pega as duas loiras mais
crumbianas do cinema, no sentido de mulheres fartas e grandes,
que dariam inveja às desenhadas
por Robert Crumb, e as coloca
num "cat fight" de fazer marmanjo pedir água. O terceiro, mas não
último, é a seqüência em que o
personagem de Uma passa por
uma situação extrema de claustrofobia (não dá para entregar
mais do que isso) -tem gente
que deixa a sala nessa hora.
Não deixe. Pouca coisa melhor
do que isso vai estrear no cinema
nos próximos meses.
Kill Bill 2
Idem
Produção: EUA, 2004
Direção: Quentin Tarantino
Com: Uma Thurman, David Carradine
Quando: a partir de amanhã, nos cines
Morumbi, Penha e circuito
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