São Paulo, sábado, 07 de outubro de 2006

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Crítica/história

Coletânea sobre 1964 tem altos e baixos

GILBERTO FELISBERTO VASCONCELLOS
ESPECIAL PARA A FOLHA

O livro "Brasil, 1964/1968: A Ditadura Já Era Ditadura" (ed. LCTE) aborda um assunto que para nós, brasileiros, é de vital importância: a ditadura de 64 analisada do presente para o passado, como aliás preconiza o método dialético em pesquisas históricas. Do homem para o macaco e não o contrário. Isso é mais relevante do que ficar sacudindo o esqueleto do óbvio: que a ditadura não começou em 1968, e sim em 1964.
Em coletâneas há altos e baixos; o melhor artigo deste lançamento é o de autoria de um marinheiro, Antonio Duarte, que lembra o estilo iracundo de Darcy Ribeiro: a indignação que não afasta no entanto a objetividade.
O golpe de Estado de 1964 é fruto de uma amálgama entre o obscurantismo das oligarquias brasileiras e os interesses norte-americanos ligados à Guerra Fria. Eis o alucinado paradoxo, que hoje já está escancarado: as Forças Armadas brasileiras deram um golpe contra si mesmas em 1964.
O ocaso do caráter nacional das Forças Armadas começou com a deposição do então presidente João Goulart. Essa é a tese do historiador e coronel Nelson Werneck Sodré [1911-1999], que atualmente começa a ser reabilitado da injustiça cometida pela reacionária historiografia chapa-branca.
Mas essa justa e necessária reabilitação, que significa reavaliar a confluência ou desencontro do nacionalismo com o marxismo na cultura política brasileira, ainda está sendo feita de leve e em marcha lenta, arrastada e tardígrada, à semelhança do que ocorre no ambiente acadêmico com o tratamento dado a João Goulart, Leonel Brizola e Darcy Ribeiro.
Tudo aí sobre isso rola intelectualmente muito devagar. A professorança universitária meteu na cachola o preconceito de que o nacionalismo no Brasil é autoritário, arcaico ou senão populismo.

Petucanismo
O triunfo inconteste do petucanismo (ou seja, a forma sincrética que aglutina os partidos PT e PSDB) corresponde historicamente à destruição do Iseb (Instituto Superior de Estudos Brasileiros) pelos golpistas em 1964, "invadido e destruído pelo lúmpen do Rio de Janeiro, sob organização dos policiais da Guanabara", no dizer de Ivan Ducatti.
No prefácio do livro, Wilson do Nascimento Barbosa assinala que a "ditadura de 64 é um monstro". Verdade. Um monstro que continua devorando nosso destino como povo e nação, a despeito do Congresso estar a plenos pulmões funcionando e da existência venalizada de eleições.


GILBERTO FELISBERTO VASCONCELLOS é professor de ciências sociais na Universidade Federal de Juiz de Fora

BRASIL, 1964/1968: A DITADURA JÁ ERA DITADURA    
Organização: Marcos Silva
Editora: LCTE
Quanto: R$ 49 (272 págs.)


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