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Crítica/história
Coletânea sobre 1964 tem altos e baixos
GILBERTO FELISBERTO VASCONCELLOS
ESPECIAL PARA A FOLHA
O livro "Brasil, 1964/1968: A Ditadura Já
Era Ditadura" (ed.
LCTE) aborda um assunto que
para nós, brasileiros, é de vital
importância: a ditadura de 64
analisada do presente para o
passado, como aliás preconiza
o método dialético em pesquisas históricas. Do homem para
o macaco e não o contrário. Isso
é mais relevante do que ficar
sacudindo o esqueleto do óbvio: que a ditadura não começou em 1968, e sim em 1964.
Em coletâneas há altos e baixos; o melhor artigo deste lançamento é o de autoria de um
marinheiro, Antonio Duarte,
que lembra o estilo iracundo de
Darcy Ribeiro: a indignação
que não afasta no entanto a objetividade.
O golpe de Estado de 1964 é
fruto de uma amálgama entre o
obscurantismo das oligarquias
brasileiras e os interesses norte-americanos ligados à Guerra
Fria. Eis o alucinado paradoxo,
que hoje já está escancarado: as
Forças Armadas brasileiras deram um golpe contra si mesmas
em 1964.
O ocaso do caráter nacional
das Forças Armadas começou
com a deposição do então presidente João Goulart. Essa é a
tese do historiador e coronel
Nelson Werneck Sodré [1911-1999], que atualmente começa
a ser reabilitado da injustiça cometida pela reacionária historiografia chapa-branca.
Mas essa justa e necessária
reabilitação, que significa reavaliar a confluência ou desencontro do nacionalismo com o
marxismo na cultura política
brasileira, ainda está sendo feita de leve e em marcha lenta,
arrastada e tardígrada, à semelhança do que ocorre no ambiente acadêmico com o tratamento dado a João Goulart,
Leonel Brizola e Darcy Ribeiro.
Tudo aí sobre isso rola intelectualmente muito devagar.
A professorança universitária meteu na cachola o preconceito de que o nacionalismo no
Brasil é autoritário, arcaico ou
senão populismo.
Petucanismo
O triunfo inconteste do petucanismo (ou seja, a forma sincrética que aglutina os partidos
PT e PSDB) corresponde historicamente à destruição do Iseb
(Instituto Superior de Estudos
Brasileiros) pelos golpistas em
1964, "invadido e destruído pelo lúmpen do Rio de Janeiro,
sob organização dos policiais
da Guanabara", no dizer de
Ivan Ducatti.
No prefácio do livro, Wilson
do Nascimento Barbosa assinala que a "ditadura de 64 é um
monstro". Verdade. Um monstro que continua devorando
nosso destino como povo e nação, a despeito do Congresso
estar a plenos pulmões funcionando e da existência venalizada de eleições.
GILBERTO FELISBERTO VASCONCELLOS é
professor de ciências sociais na Universidade
Federal de Juiz de Fora
BRASIL, 1964/1968: A DITADURA JÁ ERA DITADURA
Organização: Marcos Silva
Editora: LCTE
Quanto: R$ 49 (272 págs.)
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