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TELEVISÃO
Documentário resgata
memória dos bairros de SP
PATRICIA DECIA
da Reportagem Local
Há várias maneiras de contar a
história. Uma delas, no entanto,
privilegia o olhar do cidadão comum. É nessa categoria que se enquadra "São Paulo - Memória em
Pedaços", série de quatro documentários que a TV Cultura exibe
a partir do dia 18.
Concebido como um conjunto
de dez programas sobre bairros
tradicionais, "São Paulo - Memória em Pedaços" ecoa na televisão
uma tendência que ganha espaço
nos museus de história oral e nos
livros dedicados a reconstruir a vida cotidiana de outros tempos.
A realização é das repórteres
Neide Duarte e Maria Cristina Poli, com o apoio financeiro do banco Sudameris, que deverá distribuir cem cópias dos programas
para escolas e bibliotecas.
Por enquanto, serão exibidos
quatro episódios: Brás, Bexiga,
Mooca e Ipiranga. Para 98, estão
prometidos outros seis: Santo
Amaro, Freguesia do Ó, Jardim
América, Barra Funda, Liberdade
e Bom Retiro.
Em cada bairro, transformações
gigantescas -arquitetônicas e populacionais- ocorreram neste século. Um dos exemplos mais gritantes está no Brás.
Entrada de imigrantes europeus,
local de fortíssima colonização italiana, o Brás foi demolido em um
quinto para a construção da avenida Radial Leste, nos anos 50.
Cinemas tradicionais, como o
Brás-Politeama, foram destruídos
ou viraram estacionamentos. Coreanos, judeus, bolivianos e nordestinos fazem a nova realidade do
local, nas centenas de lojas populares que se espalham pelo bairro.
Pouco sobrou do início do século, denotando a vertiginosa degradação do que poderia se tornar patrimônio histórico em todo o território paulistano.
Uma parte dessas sobras resiste
na documentação da Hospedaria
dos Imigrantes, no Brás. São fotos
e documentos de famílias vindas
de Itália, Espanha, Alemanha, Japão etc. Famílias como a do aposentado Alfredo Castagna, 88, que
vive hoje na Mooca.
Ele é um dos muitos imigrantes
que contaram o que viram e viveram a Duarte e Poli. Os relatos trazem à tona alguns fatos que ficaram obscuros na memória da
maioria dos paulistanos.
A greve de 1917, a epidemia de
gripe espanhola em 1918 e a revolução legalista de 1924, por exemplo, tiveram um impacto forte nas
populações do Brás e da Mooca.
Muitos morreram doentes ou
executados, famílias tiveram casas
saqueadas e operários invadiram o
moinho que produzia a farinha de
exportação para a Europa durante
a Primeira Guerra Mundial.
A cidade ainda guarda revelações: o italiano canta sem culpa o
hino fascista, espanhóis mostram
sua admiração por Francisco
Franco e, na versão mais paulistana da cantina, o cantor de tarantela é japonês e o dono, português.
Programa: São Paulo - Memória em
Pedaços
Emissora: TV Cultura
Quando: de 18/11 a 21/11, às 22h
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