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ANÁLISE
Blueseiro ensina a contar histórias com as cordas
DA REDAÇÃO
Um show de Buddy Guy pode ser uma experiência catártica ou uma aventura decepcionante. Não há meio termo. Essa dicotomia permeia também
seus discos e seu jeito de tocar. E é
por causa dela que Guy é grande,
talvez o maior guitarrista de blues
vivo, como lembra Eric Clapton.
Para explicar as razões que levam o músico a transitar por extremos basta uma palavra: honestidade. Guy não toca ou canta
uma nota que não venha diretamente do seu estado de espírito.
Guitarristas que, como Clapton
e Jimi Hendrix, citam Guy como
uma de suas influências não estão
atrás da sofisticação límpida de
um B.B. King ou do fraseado rítmico de um Albert Collins. Eles
querem aprender como contar
histórias com as cordas.
Muito mais importante do que
aquilo que Guy toca é a maneira
como ele executa a peça na guitarra. Ataques ferozes temperados
com trinados no limite do sussurro. Cordas esticadas até o ponto
que antecede a quebra -"quando estico as cordas, sinto-me esticando a minha vida", diz ele.
Hoje, ele faz isso com a economia de notas que só os anos podem maturar. Guy é um especialista na arte tipicamente blueseira
de falar pouco e dizer muito.
Isso não é tudo. Com os ouvidos
sempre abertos para as novas musicalidades, ele não teme misturar
suas raízes de blues com sonoridades contemporâneas. Às vezes
dá certo -caso do dueto com
Johnny Lang em "Midnight
Train", registrado no CD "Heavy
Love", de 98-, às vezes, não
-como no CD "Feels Like Rain",
de 93, em que enveredou pelo
country ao lado de Travis Tritt.
Mas sua vida musical é assim
mesmo, um risco, uma experiência em que se entra sem saber no
que vai dar. No dicionário dele
não há o verbete "covardia".
(EF)
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