São Paulo, terça-feira, 07 de novembro de 2000

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ANÁLISE
Blueseiro ensina a contar histórias com as cordas

DA REDAÇÃO

Um show de Buddy Guy pode ser uma experiência catártica ou uma aventura decepcionante. Não há meio termo. Essa dicotomia permeia também seus discos e seu jeito de tocar. E é por causa dela que Guy é grande, talvez o maior guitarrista de blues vivo, como lembra Eric Clapton.
Para explicar as razões que levam o músico a transitar por extremos basta uma palavra: honestidade. Guy não toca ou canta uma nota que não venha diretamente do seu estado de espírito.
Guitarristas que, como Clapton e Jimi Hendrix, citam Guy como uma de suas influências não estão atrás da sofisticação límpida de um B.B. King ou do fraseado rítmico de um Albert Collins. Eles querem aprender como contar histórias com as cordas.
Muito mais importante do que aquilo que Guy toca é a maneira como ele executa a peça na guitarra. Ataques ferozes temperados com trinados no limite do sussurro. Cordas esticadas até o ponto que antecede a quebra -"quando estico as cordas, sinto-me esticando a minha vida", diz ele.
Hoje, ele faz isso com a economia de notas que só os anos podem maturar. Guy é um especialista na arte tipicamente blueseira de falar pouco e dizer muito.
Isso não é tudo. Com os ouvidos sempre abertos para as novas musicalidades, ele não teme misturar suas raízes de blues com sonoridades contemporâneas. Às vezes dá certo -caso do dueto com Johnny Lang em "Midnight Train", registrado no CD "Heavy Love", de 98-, às vezes, não -como no CD "Feels Like Rain", de 93, em que enveredou pelo country ao lado de Travis Tritt.
Mas sua vida musical é assim mesmo, um risco, uma experiência em que se entra sem saber no que vai dar. No dicionário dele não há o verbete "covardia". (EF)


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