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LITERATURA
Livro é versão de tese defendida na Sorbonne
Julián Boal apresenta visão crítica sobre teatro popular dos anos 60
DA REPORTAGEM LOCAL
Na última terça, "As Imagens
de um Teatro Popular", livro que
marca a estréia literária de Julián
Boal, foi lançado com debate entre especialistas no auditório da
Folha.
Além do autor, participaram do
evento o dramaturgo Chico de
Assis e o ator, diretor e teatrólogo
Fernando Peixoto. Também esteve presente o dramaturgo Augusto Boal, pai de Julián e um dos
mais importantes militantes dos
Centros Populares de Cultura, os
CPCs, tema do livro.
A obra é uma versão revista e
ampliada de sua dissertação de
mestrado, realizada na Universidade Sorbonne, em Paris.
"Minha intenção era pesquisar
o teatro nacionalista brasileiro,
mas, por questões acadêmicas,
restringi minha pesquisa a um período específico, no caso, durante
a existência dos Centros Populares de Cultura", disse Julián Boal.
Os CPCs tiveram um período
bastante curto. Criados em 1961,
foram extintos em 1964 pelo regime militar.
A intenção de Boal foi "revelar o
Brasil veiculado pelos CPCs".
"Realizei a pesquisa em dois momentos: sobre quem proferia o
discurso e sobre a legitimidade do
movimento, isto é, os meios utilizados para tanto."
O resultado do livro revela uma
avaliação crítica dos CPCs. "Havia uma grande sinceridade e
vontade de transformação por
parte de seus membros, mas, ao
mesmo tempo, eles utilizavam
métodos contraditórios com seus
objetivos."
Justamente essa postura crítica
foi apontada pelos debatedores
como o grande mérito do livro. "É
vital aprofundar dúvidas e contradições nos CPCs, pois estudar
o significado daquele momento é
estimular o confronto com a realidade hoje", afirmou Fernando
Peixoto. O diretor foi participante
dos CPCs e confirmou o caráter
"dogmático e a falta de diálogo
com o público" apontados no livro de Boal.
Já Assis ressaltou "o aprendizado sobre a cultura brasileira no
trabalho dos CPCs". Entretanto o
dramaturgo, também militante
do movimento, confirmou os
problemas apontados por Boal.
"Minha idéia nunca foi mesmo
aquela, eu achava que era muito
importante misturar, provocar
um diálogo mais amplo, o que ficou muito restrito aos estudantes
de classe média", disse.
Comparação inevitável, durante o debate, Julián falou sobre a relação entre os CPCs e o Teatro do
Oprimido (TO), criação de seu
pai. "O TO é encenado apenas por
quem tem um problema, o que
não era o caso dos CPCs, que tinha uma ação mais paternalista."
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