São Paulo, terça-feira, 07 de novembro de 2000

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LITERATURA
Livro é versão de tese defendida na Sorbonne
Julián Boal apresenta visão crítica sobre teatro popular dos anos 60

DA REPORTAGEM LOCAL

Na última terça, "As Imagens de um Teatro Popular", livro que marca a estréia literária de Julián Boal, foi lançado com debate entre especialistas no auditório da Folha.
Além do autor, participaram do evento o dramaturgo Chico de Assis e o ator, diretor e teatrólogo Fernando Peixoto. Também esteve presente o dramaturgo Augusto Boal, pai de Julián e um dos mais importantes militantes dos Centros Populares de Cultura, os CPCs, tema do livro.
A obra é uma versão revista e ampliada de sua dissertação de mestrado, realizada na Universidade Sorbonne, em Paris.
"Minha intenção era pesquisar o teatro nacionalista brasileiro, mas, por questões acadêmicas, restringi minha pesquisa a um período específico, no caso, durante a existência dos Centros Populares de Cultura", disse Julián Boal.
Os CPCs tiveram um período bastante curto. Criados em 1961, foram extintos em 1964 pelo regime militar.
A intenção de Boal foi "revelar o Brasil veiculado pelos CPCs". "Realizei a pesquisa em dois momentos: sobre quem proferia o discurso e sobre a legitimidade do movimento, isto é, os meios utilizados para tanto."
O resultado do livro revela uma avaliação crítica dos CPCs. "Havia uma grande sinceridade e vontade de transformação por parte de seus membros, mas, ao mesmo tempo, eles utilizavam métodos contraditórios com seus objetivos."
Justamente essa postura crítica foi apontada pelos debatedores como o grande mérito do livro. "É vital aprofundar dúvidas e contradições nos CPCs, pois estudar o significado daquele momento é estimular o confronto com a realidade hoje", afirmou Fernando Peixoto. O diretor foi participante dos CPCs e confirmou o caráter "dogmático e a falta de diálogo com o público" apontados no livro de Boal.
Já Assis ressaltou "o aprendizado sobre a cultura brasileira no trabalho dos CPCs". Entretanto o dramaturgo, também militante do movimento, confirmou os problemas apontados por Boal. "Minha idéia nunca foi mesmo aquela, eu achava que era muito importante misturar, provocar um diálogo mais amplo, o que ficou muito restrito aos estudantes de classe média", disse.
Comparação inevitável, durante o debate, Julián falou sobre a relação entre os CPCs e o Teatro do Oprimido (TO), criação de seu pai. "O TO é encenado apenas por quem tem um problema, o que não era o caso dos CPCs, que tinha uma ação mais paternalista."


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