São Paulo, terça-feira, 07 de novembro de 2000

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CRÍTICA
Com quantas Madonnas se faz um show?

Associated Press
Madonna em apresentação no "talk show" de David Letterman


SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK

Com quantas Madonnas se faz um bom show? Pelo menos três. E uma Britney Spears.
A primeira Madonna é gorda, bem gorda, se veste exatamente como a cantora, mas nasceu em Nova Jersey e se considera sua maior fã. Está na platéia.
A segunda Madonna é magra, esquálida, na verdade um homem, uma drag queen, que está usando o mesmo modelito com que ela se mostra no clipe de "Music". Está na entrada.
A terceira é o ícone pop, mãe de dois filhos, que fez show anteontem, se é que se pode chamar de show algo que durou 19 minutos e cinco músicas. Está no palco.
Aconteceu na casa de shows Roseland, no centro de Manhattan. Serviu para responder ao que todos se perguntavam. Sim, Madonna ainda segura uma platéia lotada vidrada nela. Sim, ela ainda tem ginga. E, sim, ela está com pneuzinhos na cintura. Mas continua sexy como nunca. E adora a musa teen Britney Spears.
A "festa da Madonna", como ela chamou o primeiro show de seu novo disco, começou com um set acústico do Everlast. Depois, Ali "Dubfire" Shirazinia e Sharam Tayebi (o Deep Dish) assumiram os pratos por meia hora, até colocarem uma versão de "Music". Era o sinal.
Madonna entra sob a música "Impressive Instant". Aparece no palco lateral, um cenário imitando um deserto, com cactus, carro abandonado e dançarinos sem camisa vestidos de caubóis.
Está de cowgirl estilizada. Calça preta com detalhes dourados e camiseta aberta dos lados. Na camiseta, lê-se: "Britney Spears".
Há duas semanas, perguntei a ela o que achava de Britney Spears ser chamada de "a Madonna do ano 2000". Ela disse que achava ótimo, que gostaria de ser esperta como ela aos 18. Mas que ser Madonna era mais do que tirar a roupa. Anteontem, deu o troco.
Até então, o cenário estava coberto por uma bandeira americana. Faz sentido: Madonna declarou na sexta, no programa de David Letterman, que já tinha votado em Al Gore.
Ela voltou ao "talk show" seis anos e meio depois da polêmica aparição em que deu sua calcinha ao apresentador ("Eu a guardo num cofre", disse ele sexta), falou "fuck" mais de 50 vezes e o constrangeu ao máximo.
Agora, terminada a primeira música do show, Madonna faz um falso "stage-diving" nos braços dos caubóis, que a levam para o palco principal.
Lá, ela emenda "Runaway Lover". Depois, sentada lado a lado com o francês Mirwais e violão e acompanhada de violinos, canta a melhor da noite, "Don't Tell Me". Aí, dedica a quarta "à Britney": o popinho pós-feminista "What it Feels for a Girl". Termina com "Music", que já virou um lota-pista, um clássico dos clubs, ótima, ótima. Ao fundo, um clipe com o melhor de Madonna desde "Material Girl". "Viram? Ter filhos não ferrou com minha memória (de palco)", diz. Essa é a Madonna velha (42 anos) de guerra.


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