DA REPORTAGEM LOCAL

Não estranhe se você espirrar ao entrar na nova exposição de Rivane Neuenschwander, que é inaugurada hoje. Essa é a resposta natural à pimenta-do-reino, parte de uma das obras expostas, que tem como objetivo provocar a participação dos visitantes de maneira inusitada.
"Enjoei de mim, quero dividir a autoria das coisas", diz Rivane. Assim, até involuntariamente como no espirro, as pessoas também participam das obras da artista. A pimenta-do-reino faz parte da instalação "Attachment", feita também com fita adesiva.
Entretanto, não é apenas para gente que Rivane pede colaboração. Duas séries em exibição, "N-S-W-E (twice)" e "Carta Faminta", foram realizadas por lesmas que a artista cria. Elas vão comendo pedaços de papel até que o desenho fique do agrado de Rivane. "Vou orientando as lesmas por meio de sombras sobre o papel, que é uma maneira delas se sentirem mais protegidas", conta.
O resultado dessas obras são imagens próximas a um mapa irreal. O tema cartográfico não aparece nas obras casualmente. "Tenho viajado tanto ultimamente que grande parte do que apresento agora são anotações de viagem."
Por isso os títulos "N-S-W-E", iniciais dos pontos cardeais em inglês. A idéia de "Carta Faminta" também remete a mapas e cartas.
O conjunto das obras expostas apresenta uma fragilidade muito próxima ao comportamento tímido e contido de Rivane. "Estou tentando mudar isso em minhas obras", diz.
No mezanino da galeria, Rivane apresenta um filme em super 8, feito em colaboração com o cineasta e fotógrafo Cao Guimarães. Mais uma vez a fragilidade é tema na obra da artista, que retrata uma bolha de sabão em suspensão permanente. Contudo, sem explodir nos cinco minutos que dura o filme, ela já retrata a vontade de superação da fragilidade da artista. Bolhas de sabão também estão na série de fotos "Pertence. Não Pertence".
Rivane é uma das artistas da geração dos 90 de maior destaque. Foi em 96, na mostra Antártica Artes, com apoio da Folha, que Rivane foi revelada. Uma de suas obras foi a capa do catálogo de Arte Contemporânea da Mostra do Redescobrimento, e ela foi das poucas brasileiras selecionadas para a nova versão do livro alemão "Art at the Turn of the Millenium". Mesmo assim, suas obras têm uma característica nada comercial. "Ainda bem que existem colecionadores maravilhosos que entendem meu trabalho."
(FABIO CYPRIANO)


Exposição: Rivane Neuenschwander Onde: galeria Camargo Vilaça (r. Fradique Coutinho, 1.500, tel. 3032-7066) Quando: abertura hoje, às 21h. De seg. a sex., das 10h às 19h; sáb., das 10h às 14h. Até 1º/12 Quanto: entrada franca; obras de US$ 1.500 a US$ 20.000

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