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DA RUA
Feijão adorado
FERNANDO BONASSI
Tinha essa mania de cortar
as unhas. Nem vou contar o
que tinha embaixo delas.
Cortava quando queria e onde fosse, espalhando os cacos dele na cama, nos tapetes
e até na mesa. Avisar eu avisei. Disse que era higiene e
que higiene é o mínimo que
se tem que ter em casa. Mesmo quando se é pobre desse
jeito. Um pobre não precisa
ser sujo. Ele fazia questão de
ser sujo, parece. Eu não admito, tenho certeza. E aquele
palito de dente pendurado
no bigode? Difícil tomar banho. Não deve ter doído. Minha mãe disse que era o melhor jeito. O jeito justo. Um
pouco no feijão. Diz que dá
até assim... um soninho. Passou mal no começo da noite
e já acordou morto. Ele adorava o meu feijão, mas não tinha higiene.
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