São Paulo, quarta-feira, 07 de novembro de 2001

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DA RUA

Feijão adorado

FERNANDO BONASSI

Tinha essa mania de cortar as unhas. Nem vou contar o que tinha embaixo delas. Cortava quando queria e onde fosse, espalhando os cacos dele na cama, nos tapetes e até na mesa. Avisar eu avisei. Disse que era higiene e que higiene é o mínimo que se tem que ter em casa. Mesmo quando se é pobre desse jeito. Um pobre não precisa ser sujo. Ele fazia questão de ser sujo, parece. Eu não admito, tenho certeza. E aquele palito de dente pendurado no bigode? Difícil tomar banho. Não deve ter doído. Minha mãe disse que era o melhor jeito. O jeito justo. Um pouco no feijão. Diz que dá até assim... um soninho. Passou mal no começo da noite e já acordou morto. Ele adorava o meu feijão, mas não tinha higiene.


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