São Paulo, quarta-feira, 07 de novembro de 2001

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PERSONALIDADE

"A História da Arte", seu best-seller, teve mais de 6 milhões de exemplares vendidos em 32 línguas

Morre E. Gombrich, 92, o humanista historiador da arte

DA REPORTAGEM LOCAL

Morreu no último sábado, em Londres, o historiador da arte sir Ernst Hans Gombrich, aos 92 anos. Seu livro "A História da Arte" (publicado no Brasil pela LTC, na 16ª edição) teve mais de 6 milhões de exemplares vendidos em 32 línguas. Segundo o crítico Lorenzo Mammì, "Gombrich foi responsável pela tentativa mais poderosa, no século 20, de fundar uma teoria da arte sobre bases científicas".
"A História da Arte" foi escrito em 1950 (fruto de uma encomenda feita em 1937), para ser um manual para estudantes compreenderem arte. Tornou-se rapidamente uma referência obrigatória, e graças a ele foi indicado para ser professor em Oxford (1950 a 1953) e Cambridge (1961 a 1963) e também convidado para inúmeras palestras nos Estados Unidos.
Vários de seus textos foram publicados no Brasil, entre eles "Norma e Forma - Estudos sobre a Arte da Renascença" (Martins Fontes) e "Meditações sobre um Cavalinho de Pau e Outros Ensaios" (Edusp).
Gombrich nasceu em Viena, filho de uma sofisticada família judia, em março de 1909. Formou-se à sombra da Escola de Viena, que contava com tradição na história da arte, assim como literatura, música e psicologia. Como método, o autor afirmava aproximar-se "das intensões prováveis do artista", segundo o prólogo de "A História da Arte".
Seu primeiro livro, "História do Mundo para Crianças", foi publicado em Viena em 1936, mesmo ano em que se casou com a pianista Ilse Heller. Foi também em 1936, com o avanço do nazismo em Viena, que Gombrich se mudou para a Inglaterra, onde lecionou no Warburg Institute, do qual seria diretor no ano seguinte. Lá foi colega de intelectuais como Panofsky e Wittkower.
Durante a Segunda Guerra Mundial, o historiador trabalhou na BBC. Foi dos primeiros a inferir a morte de Hitler, quando ouviu que as rádios alemãs transmitiam uma sinfonia de Bruckner, composta para celebrar a morte de Richard Wagner.
Sua área de análise foi bastante abrangente. Tratou não só do renascimento, tema caro aos críticos europeus, mas também da produção de fotografia moderna, escrevendo sobre o francês Cartier-Bresson, ou ainda do pintor norte-americano Robert Rauschenberg. Gombrich confessava que havia odiado as obras do pintor quando as viu pela primeira vez, mas que, ao sair para a rua, passou a compreender o que havia visto e também que a obra o ajudava a entender o entorno urbano. "A arte nos ensina a prestar atenção às novas combinações visuais do mundo", disse.
"Em certo sentido, pode-se dizer que a arte é como um ser vivo e que tem portanto sua própria ecologia: o espaço social em que se move. Quando o espaço muda, a arte também se transforma", disse Gombrich em entrevista publicada no "El País", em 1991.
O prestigiado escultor inglês Antony Gormley afirmou ontem ao jornal "The Guardian" que decidiu tornar-se artista após ler "A História da Arte", quando tinha 15 anos. "Compare-o com os atuais críticos e teóricos da arte como Jacques Derrida, Pierre Bourdieu e Jean Baudrillard. Gombrich é o mais inovador por ser humanista. Ele vê a arte como história humana, e é por isso que "A História da Arte" tornou-se tão popular", disse o artista.
(FABIO CYPRIANO)




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