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PERSONALIDADE
"A História da Arte", seu best-seller, teve mais de 6 milhões de exemplares vendidos em 32 línguas
Morre E. Gombrich, 92, o humanista historiador da arte
DA REPORTAGEM LOCAL
Morreu no último sábado, em
Londres, o historiador da arte sir
Ernst Hans Gombrich, aos 92
anos. Seu livro "A História da Arte" (publicado no Brasil pela LTC,
na 16ª edição) teve mais de 6 milhões de exemplares vendidos em
32 línguas. Segundo o crítico Lorenzo Mammì, "Gombrich foi
responsável pela tentativa mais
poderosa, no século 20, de fundar
uma teoria da arte sobre bases
científicas".
"A História da Arte" foi escrito
em 1950 (fruto de uma encomenda feita em 1937), para ser um manual para estudantes compreenderem arte. Tornou-se rapidamente uma referência obrigatória, e graças a ele foi indicado para
ser professor em Oxford (1950 a
1953) e Cambridge (1961 a 1963) e
também convidado para inúmeras palestras nos Estados Unidos.
Vários de seus textos foram publicados no Brasil, entre eles
"Norma e Forma - Estudos sobre
a Arte da Renascença" (Martins
Fontes) e "Meditações sobre um
Cavalinho de Pau e Outros Ensaios" (Edusp).
Gombrich nasceu em Viena, filho de uma sofisticada família judia, em março de 1909. Formou-se à sombra da Escola de Viena,
que contava com tradição na história da arte, assim como literatura, música e psicologia. Como
método, o autor afirmava aproximar-se "das intensões prováveis
do artista", segundo o prólogo de
"A História da Arte".
Seu primeiro livro, "História do
Mundo para Crianças", foi publicado em Viena em 1936, mesmo
ano em que se casou com a pianista Ilse Heller. Foi também em
1936, com o avanço do nazismo
em Viena, que Gombrich se mudou para a Inglaterra, onde lecionou no Warburg Institute, do
qual seria diretor no ano seguinte.
Lá foi colega de intelectuais como
Panofsky e Wittkower.
Durante a Segunda Guerra
Mundial, o historiador trabalhou
na BBC. Foi dos primeiros a inferir a morte de Hitler, quando ouviu que as rádios alemãs transmitiam uma sinfonia de Bruckner,
composta para celebrar a morte
de Richard Wagner.
Sua área de análise foi bastante
abrangente. Tratou não só do renascimento, tema caro aos críticos europeus, mas também da
produção de fotografia moderna,
escrevendo sobre o francês Cartier-Bresson, ou ainda do pintor
norte-americano Robert Rauschenberg. Gombrich confessava
que havia odiado as obras do pintor quando as viu pela primeira
vez, mas que, ao sair para a rua,
passou a compreender o que havia visto e também que a obra o
ajudava a entender o entorno urbano. "A arte nos ensina a prestar
atenção às novas combinações visuais do mundo", disse.
"Em certo sentido, pode-se dizer que a arte é como um ser vivo
e que tem portanto sua própria
ecologia: o espaço social em que
se move. Quando o espaço muda,
a arte também se transforma",
disse Gombrich em entrevista publicada no "El País", em 1991.
O prestigiado escultor inglês
Antony Gormley afirmou ontem
ao jornal "The Guardian" que decidiu tornar-se artista após ler "A
História da Arte", quando tinha
15 anos. "Compare-o com os
atuais críticos e teóricos da arte
como Jacques Derrida, Pierre
Bourdieu e Jean Baudrillard.
Gombrich é o mais inovador por
ser humanista. Ele vê a arte como
história humana, e é por isso que
"A História da Arte" tornou-se tão
popular", disse o artista.
(FABIO CYPRIANO)
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