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Obra do autor foi do "mau ao excelente"
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Leia a seguir trechos da entrevista inédita do crítico Antonio
Candido que está no livro "Erico
Verissimo: O Romance da História", em que ele faz um balanço da
trajetória literária do autor.
(MP)
Pergunta - Professor, falemos dos
bons livros de Erico. Em primeiro lugar, quais são eles, na sua visão?
Antonio Candido - Comecemos
pelo começo, lembro que em 1980
fiz em Porto Alegre uma palestra
sobre a importância da Revolução
de 30 na cultura. Nela eu disse
que, para a minha geração, o romance brasileiro dos anos 30 teve
um papel extraordinário de revelação do Brasil, quebrando o isolamento das regiões e mostrando
a realidade diversificada de seu
conjunto. Nesse sentido, os livros
de Erico foram antes de mais nada uma espécie de revelação do
Rio Grande do Sul (...).
Eu não lera "Clarissa", mas li
encantado "Música ao Longe".
Em seguida li "Caminhos Cruzados". A técnica narrativa nos fascinou, e percebemos que ali estava um escritor que sabia ver a sociedade com olhos retos (...).
Pergunta - Como o sr. definiria,
ou melhor, o que unificaria esse tipo de boa literatura que ele estaria
fazendo nesse conjunto de obras?
Candido - (...) Há, em primeiro
lugar, a simplicidade expressiva
de sua prosa, que traduz uma visão íntegra e correta da realidade.
Em seguida, é preciso salientar
um traço importante: a sua capacidade de inserir bem o tempo na
estrutura literária, seja injetando-o no tecido da narrativa, seja quebrando-o por meio do relato descontínuo. Aí ele geralmente acerta
a mão. Um terceiro traço positivo
é a capacidade de se tornar convincente tanto para o leitor culto
quanto para o leitor mais simples.
Isso o aproxima da família espiritual de escritores como Eça de
Queirós, Dickens e Balzac.
Por causa desse último traço,
desenvolveu-se em relação a ele
um certo esnobismo segundo o
qual seria escritor de segunda ordem, por ser fácil. Isso me irritava
um pouco.
Quando chegamos a "O Tempo
e o Vento" sentimos que Erico finalmente alcançou a sua melhor
forma (...). A irregularidade que
faz a obra de Erico se escalonar do
mau ao excelente talvez seja uma
das causas da sua voga e do seu
êxito junto ao público.
Entrando um pouco pelo paradoxo, seria talvez possível dizer
que, sob esse ponto de vista, as
suas fraquezas podem ser uma
força, porque desvendam a sua
humanidade e assim o aproximam do nosso falível gabarito.
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