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LITERATURA
Escrito a oito mãos, "Erico Verissimo: O Romance da História" traz entrevista e artigo de Antonio Candido
Críticos começam a ler Erico Verissimo
MARCELO PEN
FREE-LANCE PARA A FOLHA
"Só há um romancista brasileiro
que partilha com Jorge Amado o
êxito maciço junto ao público:
Erico Verissimo." A frase do crítico literário Alfredo Bosi explica
por que parte dos estudiosos se
mantém reticente em relação ao
escritor gaúcho, morto em 1975.
Ao contrário dos americanos, que
reverenciam autores bem-sucedidos no mercado, como Norman
Mailer e John Updike, os brasileiros se sentem desconfortáveis
com seus campeões de vendas.
A situação pode estar mudando. A Nova Alexandria saiu na
frente com "Erico Verissimo: O
Romance da História", em que
quatro críticos se reúnem para
analisar a obra-prima do autor, a
trilogia "O Tempo e o Vento". O
livro de ensaios, que traz como
"pièce de résistance" um artigo e
uma entrevista inéditos do professor Antonio Candido, coincide
com os planos da editora Globo
de relançar, até 2003, toda a produção de Verissimo.
A reedição começou este ano
com "Um Certo Capitão Rodrigo", volume extraído de "O Tempo e o Vento", e continua em 2002
com dois títulos sendo lançados
por mês. Para janeiro, estão programados "Ana Terra" (também
retirado de "O Tempo e O Vento") e "Olhai os Lírios do Campo". Em 2003, dez títulos restantes concluem o relançamento.
A decisão de editar separadamente "Um Certo Capitão Rodrigo" e "Ana Terra" se dá não só por
sua popularidade, mas também
porque esses dois excertos de "O
Tempo e o Vento" costumam ser
leituras exigidas por escolas e exames vestibulares.
Os mais puristas ainda podem
conseguir "O Continente", "O Retrato" e "O Arquipélago", as três
partes de que se constitui o "vasto
painel diacrônico" (outra frase de
Bosi) de "O Tempo e o Vento" na
antiga edição da própria Globo.
Vão desembolsar em torno de R$
140 pelos sete volumes que compõem a trilogia.
Mas, afinal, Verissimo é um
bom ou mau ficcionista? Candido, que alerta para a tendência
"sentimentaleira" no escritor,
procura defendê-lo dos "falsos requintados": ao contrário destes, o
crítico acredita que Verissimo joga no mesmo time de Balzac e
Dickens, justamente por sua tendência de agradar tanto o leitor
culto quanto as massas.
Essa afirmação respalda as opiniões dos autores de "Erico Verissimo: O Romance da História":
Lígia Chiappini Leite, titular em
literatura brasileira da Freie Universitat de Berlim; Jacques Leenhardt, diretor da École de Hautes Études en Sciences Sociales de
Paris; Flávio Aguiar, diretor do
Centro Angel Rama de Estudos
Latino-Americanos, e Sandra Jatahy Pesavento, professora titular
de história do Brasil da UFRGS e
organizadora do volume.
O cardápio da obra é variado.
Vai desde aspectos de caráter
mais literário até discussões amplas, que procuram investigar a
visão histórica promovida pela
ficção de Verissimo. Como tese
geral, está a hipótese de que o romancista "extrapola o regional
para atingir não só questões nacionais como universais".
Os autores também entrevistaram Antonio Candido, que lhes
cedeu seu artigo, inédito há quase
60 anos. Escrito para o jornal "Folha da Manhã", o texto defende
Verissimo dos ataques moralistas
desferidos por um certo padre
Fritzer. Acabou engavetado por
temor à censura punitiva do Estado Novo.
ERICO VERISSIMO: O ROMANCE DA
HISTÓRIA. De: Sandra Jatahy Pesavento,
Jacques Leenhardt, Lígia Chiappini,
Flávio Aguiar. Editora: Nova Alexandria.
Quanto: R$ 25 (224 págs.).
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