São Paulo, quarta-feira, 07 de novembro de 2001

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LITERATURA

Escrito a oito mãos, "Erico Verissimo: O Romance da História" traz entrevista e artigo de Antonio Candido

Críticos começam a ler Erico Verissimo

MARCELO PEN
FREE-LANCE PARA A FOLHA

"Só há um romancista brasileiro que partilha com Jorge Amado o êxito maciço junto ao público: Erico Verissimo." A frase do crítico literário Alfredo Bosi explica por que parte dos estudiosos se mantém reticente em relação ao escritor gaúcho, morto em 1975. Ao contrário dos americanos, que reverenciam autores bem-sucedidos no mercado, como Norman Mailer e John Updike, os brasileiros se sentem desconfortáveis com seus campeões de vendas.
A situação pode estar mudando. A Nova Alexandria saiu na frente com "Erico Verissimo: O Romance da História", em que quatro críticos se reúnem para analisar a obra-prima do autor, a trilogia "O Tempo e o Vento". O livro de ensaios, que traz como "pièce de résistance" um artigo e uma entrevista inéditos do professor Antonio Candido, coincide com os planos da editora Globo de relançar, até 2003, toda a produção de Verissimo.
A reedição começou este ano com "Um Certo Capitão Rodrigo", volume extraído de "O Tempo e o Vento", e continua em 2002 com dois títulos sendo lançados por mês. Para janeiro, estão programados "Ana Terra" (também retirado de "O Tempo e O Vento") e "Olhai os Lírios do Campo". Em 2003, dez títulos restantes concluem o relançamento.
A decisão de editar separadamente "Um Certo Capitão Rodrigo" e "Ana Terra" se dá não só por sua popularidade, mas também porque esses dois excertos de "O Tempo e o Vento" costumam ser leituras exigidas por escolas e exames vestibulares.
Os mais puristas ainda podem conseguir "O Continente", "O Retrato" e "O Arquipélago", as três partes de que se constitui o "vasto painel diacrônico" (outra frase de Bosi) de "O Tempo e o Vento" na antiga edição da própria Globo. Vão desembolsar em torno de R$ 140 pelos sete volumes que compõem a trilogia.
Mas, afinal, Verissimo é um bom ou mau ficcionista? Candido, que alerta para a tendência "sentimentaleira" no escritor, procura defendê-lo dos "falsos requintados": ao contrário destes, o crítico acredita que Verissimo joga no mesmo time de Balzac e Dickens, justamente por sua tendência de agradar tanto o leitor culto quanto as massas.
Essa afirmação respalda as opiniões dos autores de "Erico Verissimo: O Romance da História": Lígia Chiappini Leite, titular em literatura brasileira da Freie Universitat de Berlim; Jacques Leenhardt, diretor da École de Hautes Études en Sciences Sociales de Paris; Flávio Aguiar, diretor do Centro Angel Rama de Estudos Latino-Americanos, e Sandra Jatahy Pesavento, professora titular de história do Brasil da UFRGS e organizadora do volume.
O cardápio da obra é variado. Vai desde aspectos de caráter mais literário até discussões amplas, que procuram investigar a visão histórica promovida pela ficção de Verissimo. Como tese geral, está a hipótese de que o romancista "extrapola o regional para atingir não só questões nacionais como universais".
Os autores também entrevistaram Antonio Candido, que lhes cedeu seu artigo, inédito há quase 60 anos. Escrito para o jornal "Folha da Manhã", o texto defende Verissimo dos ataques moralistas desferidos por um certo padre Fritzer. Acabou engavetado por temor à censura punitiva do Estado Novo.


ERICO VERISSIMO: O ROMANCE DA HISTÓRIA. De: Sandra Jatahy Pesavento, Jacques Leenhardt, Lígia Chiappini, Flávio Aguiar. Editora: Nova Alexandria. Quanto: R$ 25 (224 págs.).



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