São Paulo, terça-feira, 07 de novembro de 2006

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"Criminal Minds" ameaça a supremacia de "Lost"

Nos EUA, agentes do FBI "roubam" a audiência dos ilhéus liderados por Jack

Série semanal se concentra em decodificar a mente dos criminosos mais perversos do país e, com isso, prevenir possíveis delitos


LUCAS NEVES
ENVIADO ESPECIAL A LOS ANGELES

Que urso polar, que nada. Ultimamente, a maior ameaça aos sobreviventes do acidente aéreo de "Lost" tem vindo de fora da ilha: mais precisamente, do vilarejo de Quântico, no Estado norte-americano da Virgínia. É lá onde atuam os agentes da Unidade de Análise Comportamental do FBI, protagonistas da série "Criminal Minds", que, depois de flertar por meses com o primeiro lugar na audiência, ultrapassou pela primeira vez, na semana passada, a cada vez mais rocambolesca saga de Jack, Kate e cia.
A diferença foi pequena: 16,72 milhões de espectadores para "Criminal Minds" contra 16,12 milhões para "Lost". Mas serviu para colocar o programa -em sua segunda temporada- no radar da crítica local.
A premissa é simples: nos escritórios da unidade especial, os policiais Jason Gideon, Derek Morgan, Jennifer Jareau e Spencer Reid tentam, sob o comando do agente Aaron Hotchner, decodificar a mente dos criminosos mais procurados dos EUA e impedir que voltem à carga. Os esforços se concentram, portanto, em prevenir delitos, e não em solucioná-los.
Saem as cenas de crimes e entram o estudo de padrões e a observação da conduta profissional e social de suspeitos. Essa inversão de perspectiva, aliada a personagens cujos perfis a audiência americana comprovadamente adora -como o nerd que não consegue reproduzir o brilho intelectual na vida afetiva e o veterano que retorna ao posto para exorcizar fantasmas do passado-, responde por boa parte do sucesso do programa. "A indústria [imprensa especializada, executivos dos estúdios e emissoras] não está assistindo, mas as massas gostam. Isso nos basta", esnoba Matthew Gray Gubler, que interpreta Spencer (o CDF da descrição acima), em entrevista a jornalistas estrangeiros em Los Angeles. "Eu gosto de não ter tanta publicidade", emenda Mandy Patinkin, voz e corpo de Jason Gideon.

Esquecer atrocidades
Longe dos holofotes da mídia, Patinkin acredita que o programa possa se concentrar no estímulo à discussão dos temas abordados (pedofilia, abuso sexual e uma vasta galeria de perversões), deixando para as atrações mais assistidas a tarefa de alimentar boatos de tablóides sobre rusgas entre atores e mal-estar nos bastidores.
Mas o ator se excede muito -e adentra o arenoso terreno da generalização- ao exemplificar o alcance que ele crê que o programa possa ter. "Há mais de 6 bilhões de pessoas neste mundo. Um bilhão é de fé muçulmana. Desse total, 10% são consideradas extremistas.
Acho que uma delas, ao assistir ao episódio que gravamos, poderá decidir não se explodir pelos ares", delira Patinkin.
Ares menos soturnos são tudo a que o elenco aspira depois de uma jornada no encalço de mentes doentias. Mas, depois de mais de 30 episódios, os atores parecem já ter aprendido a se "desligar" das atrocidades da ficção. "Para mim, é só fingimento. Finjo que é Halloween. Se você se deixa afetar, fica se sentindo mal", diz Shemar Moore, intérprete de Derek.
"Você tem que ter um mínimo de senso de humor, buscar encarar com leveza os assuntos abordados. Ou fica igual aos criminosos que mostramos", acrescenta A. J. Cook, que saltou de "As Virgens Suicidas", de Sofia Coppola, para os corredores do FBI, onde atende pelo nome de Jennifer Jareau.


O repórter LUCAS NEVES viajou a convite da Sony Pictures Television International

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