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"Criminal Minds" ameaça a supremacia de "Lost"
Nos EUA, agentes do FBI "roubam" a audiência dos ilhéus liderados por Jack
Série semanal se concentra em decodificar a mente dos criminosos mais perversos do país e, com isso, prevenir possíveis delitos
LUCAS NEVES
ENVIADO ESPECIAL A LOS ANGELES
Que urso polar, que nada. Ultimamente, a maior ameaça aos
sobreviventes do acidente aéreo de "Lost" tem vindo de fora
da ilha: mais precisamente, do
vilarejo de Quântico, no Estado
norte-americano da Virgínia. É
lá onde atuam os agentes da
Unidade de Análise Comportamental do FBI, protagonistas
da série "Criminal Minds", que,
depois de flertar por meses
com o primeiro lugar na audiência, ultrapassou pela primeira vez, na semana passada,
a cada vez mais rocambolesca
saga de Jack, Kate e cia.
A diferença foi pequena:
16,72 milhões de espectadores
para "Criminal Minds" contra
16,12 milhões para "Lost". Mas
serviu para colocar o programa
-em sua segunda temporada-
no radar da crítica local.
A premissa é simples: nos escritórios da unidade especial,
os policiais Jason Gideon, Derek Morgan, Jennifer Jareau e
Spencer Reid tentam, sob o comando do agente Aaron Hotchner, decodificar a mente dos
criminosos mais procurados
dos EUA e impedir que voltem
à carga. Os esforços se concentram, portanto, em prevenir
delitos, e não em solucioná-los.
Saem as cenas de crimes e entram o estudo de padrões e a
observação da conduta profissional e social de suspeitos.
Essa inversão de perspectiva,
aliada a personagens cujos perfis a audiência americana comprovadamente adora -como o
nerd que não consegue reproduzir o brilho intelectual na vida afetiva e o veterano que retorna ao posto para exorcizar
fantasmas do passado-, responde por boa parte do sucesso
do programa. "A indústria [imprensa especializada, executivos dos estúdios e emissoras]
não está assistindo, mas as
massas gostam. Isso nos basta",
esnoba Matthew Gray Gubler,
que interpreta Spencer (o CDF
da descrição acima), em entrevista a jornalistas estrangeiros
em Los Angeles. "Eu gosto de
não ter tanta publicidade",
emenda Mandy Patinkin, voz e
corpo de Jason Gideon.
Esquecer atrocidades
Longe dos holofotes da mídia, Patinkin acredita que o
programa possa se concentrar
no estímulo à discussão dos temas abordados (pedofilia, abuso sexual e uma vasta galeria de
perversões), deixando para as
atrações mais assistidas a tarefa de alimentar boatos de tablóides sobre rusgas entre atores e mal-estar nos bastidores.
Mas o ator se excede muito
-e adentra o arenoso terreno
da generalização- ao exemplificar o alcance que ele crê que o
programa possa ter. "Há mais
de 6 bilhões de pessoas neste
mundo. Um bilhão é de fé muçulmana. Desse total, 10% são
consideradas extremistas.
Acho que uma delas, ao assistir
ao episódio que gravamos, poderá decidir não se explodir pelos ares", delira Patinkin.
Ares menos soturnos são tudo a que o elenco aspira depois
de uma jornada no encalço de
mentes doentias. Mas, depois
de mais de 30 episódios, os atores parecem já ter aprendido a
se "desligar" das atrocidades da
ficção. "Para mim, é só fingimento. Finjo que é Halloween.
Se você se deixa afetar, fica se
sentindo mal", diz Shemar
Moore, intérprete de Derek.
"Você tem que ter um mínimo de senso de humor, buscar
encarar com leveza os assuntos
abordados. Ou fica igual aos criminosos que mostramos",
acrescenta A. J. Cook, que saltou de "As Virgens Suicidas", de
Sofia Coppola, para os corredores do FBI, onde atende pelo
nome de Jennifer Jareau.
O repórter LUCAS NEVES viajou a convite da
Sony Pictures Television International
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