São Paulo, sábado, 7 de novembro de 1998

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LIVRO - LANÇAMENTO
Papas se movem entre a fé e o pecado

CELSO FIORAVANTE
da Reportagem Local

Intrigas, corrupção, poder, amor, fé e caridade. Com todos esses ingredientes, dignos de um thriller, o cristianismo construiu uma das mais sólidas instituições da história da humanidade: o papado, que, ao longo de 2.000 anos, tem exercido papel fundamental não apenas no destino espiritual de milhões de pessoas, mas em campos como política, economia, filosofia, ciência e artes.
Tanta história é reconstituída em "Santos & Pecadores - História dos Papas", de Eamon Duffy, que chega às livrarias nesta segunda.
"Santos & Pecadores" enfrenta uma tarefa inglória: fazer um levantamento e avaliar em 326 páginas (ricamente ilustradas) a trajetória de 261 papas, de são Lino a Karol Wojtyla (João Paulo 2º).
O pouco espaço força, evidentemente, a omissão de detalhes ou mesmo a citação de alguns deles no livro, como são Marcelo, o 29º da lista, que comandou a igreja entre 308 e 309. Ele é citado na lista cronológica, mas não comparece no índice remissivo. O próprio autor avisa no prefácio que o livro faz um esboço de uma história "muito mais intrincada".
Duffy mostra-se crítico e mordaz em seu levantamento. Sabe que o papado nem sempre se pautou no desejo de propagação da fé, mas na luta pelo poder político e pela riqueza material, o que incluiu ameaças, violência e corrupção.
O cristianismo surgiu em Jerusalém e dali se expandiu pelo mundo, inicialmente com Paulo de Tarso, um rabino que falava grego, mas que tinha cidadania romana. Mas a difusão dos ensinamentos da igreja se deve às epístolas do apóstolo Paulo e ao trabalho de Pedro, líder e porta-voz dos apóstolos.
Pedro era um pescador na Galiléia. Chamava-se Simão Barjona e foi o próprio Jesus que resolveu batizá-lo como Pedro (pedra). "Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja e te darei as chaves do Reino dos Céus." Essas palavras de Jesus aparecem na cúpula da basílica de são Pedro, em Roma.
O livro é rico em detalhes, como ao narrar o fim de são Calisto 1º (217-222, aproximadamente), que foi linchado por pagãos revoltados com a expansão cristã em Roma. Essas revoltas, porém, só animavam o cristianismo, que valorizava o mártir, pois ele sofria pela fé.
A igreja em Roma ganha importância no século 3, quando a cidade passa por uma grande instabilidade política (25 imperadores em 47 anos) e com a conversão do imperador Constantino ao cristianismo, em 315, que garante a liberdade de religião na cidade "aos cristãos e a todos os demais".
De lá para cá, a história do papado passou por toda sorte de intempéries: patrocinou guerras (cruzadas, no século 11), teve duas sedes (Roma e Avignon, no século 14) e se calou frente a um dos maiores crimes da história da humanidade, a Segunda Guerra, mas isso tudo pouco maculou a imagem de uma instituição que ainda hoje zela pela conduta de cerca de 900 milhões de católicos em todo o mundo.
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Livro: Santos & Pecadores - História dos Papas Autor: Eamon Duffy Lançamento: Cosac & Naify Quanto: R$ 52 (326 páginas)


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