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CRÍTICA
Rebuscamento é cada vez maior
DO ENVIADO AO RIO
Há problemas de apresentação em "Setembro". Sua
capa exibe uma Marina feminina,
sensual, mas estranhamente encabulada. Um "funk das cachorras" entra na esteira, meio de bobeira. Seu conteúdo é breve (nove
faixas). Três remixes ao final passam a impressão de que "Setembro" fosse CD concluído às pressas e preenchido no artifício modernoso (e, aqui, pouco interessante) das faixas remixadas.
Ela parece colocar pedrinhas
em seu próprio caminho, dando
artilharia fácil aos que ignorarem
o lançamento. Mas essa é, por ora,
sua responsabilidade no que possa haver de fumaça em "Setembro". O resto é puro preconceito.
Porque o disco reforça a sofisticação e o rebuscamento musical
que vêm norteando Marina há já
dez anos. No auge da crise, "Pierrot do Brasil" (98) despiu a Marina compositora, musicista, jobiniana. Este chega bem perto, à
parte as pequenas sabotagens.
Talvez "Notícias" seja, para os
homens de gravadora, lenta demais, mas e os órgãos gemendo
ao fundo, não são de arrepiar?
Talvez "Me Diga (Francisca)"
pareça carona aburguesada de
um Jobim mulher no rap de protesto -mas tente investir na densidade da não-canção, nas intervenções sonoras, no canto hipermelancólico. Ouça a faixa-título,
de timbre bem francês (tipo Air) e
acordeom muito nordestino, uma
simbiose para fundir a cuca.
O resto? O resto é uma sucessão
de leves espantos. Passa pela frieza de "Paris-Dakar", talvez a mais
inteligente (e eficaz) do CD, aguda
e aveludada nos dramáticos vocais e pela sempre vigorosa parceria com Alvin L., nessa e na concentrada "Alguma Prova".
Passeia por "Dois Durões (Lagoa)", Dolores Duran sem saudosismo, e até pelo tema de TV "No
Escuro", de letra e melodia tristes.
Bossa nova, banquinho, violão?
Olha, um Tom Jobim que nascesse hoje poderia fazer da sra. Marina seu Villa-Lobos. Porque "o
mundo gira e cai de joelhos", como ela geme em "Paris-Dakar".
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)
Setembro
Artista: Marina Lima
Lançamento: Abril Music
Quanto: R$ 19,90 (preço sugerido)
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