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Marina Lima lança 16º CD, composto há três anos
"Setembro" em dezembro
Cantora, que se auto-define como "vira-lata", apresenta álbum que marca sua estréia em nova gravadora
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
ENVIADO ESPECIAL AO RIO
Já é dezembro, mas Marina Lima, 46, ainda está em "Setembro"
-é o nome de seu 16º disco, que
chega às lojas na próxima semana. E ela vai enumerando razões
para pingar mais primavera no
quase verão de 2001: "A gravadora se chama Abril,
compus em setembro, lanço em
dezembro", começa, citando a
chegada à nova casa, que sucede
em sua carreira a Universal, em
que esteve acolhida (não sem desavenças) na fase em que passou
por aguda crise de perda de voz.
"Setembro é o mês em que nasci. Meu reencontro musical com
meu irmão Antonio Cícero (co-autor de três faixas do CD) aconteceu em setembro. Foi também
quando ele fez uma cirurgia no
pulmão, que era simples, mas resultou numa infecção hospitalar,
e ele quase morreu", continua.
"Quando Cícero foi para o hospital, houve os ataques de 11 de setembro. Era muita coisa intensa,
do bem e do mal, ao mesmo tempo. Fui bombardeada."
E culminou na faixa-título, em
que ela fala do Brasil, "desse Brasil
pacífico, em que pessoas são felizes com tão pouco". Um disco de
temática social? Mais ou menos.
A outra faixa que parece visitar
o social, "Me Diga (Francisca)",
tem na verdade caráter pessoal. A
personagem, uma mulher que
veio do Piauí, é real e atuante nas
vidas de Marina e de Cícero.
"Ela é minha babá, a mulher que
me criou. É do Piauí, como são
meus pais. Mora até hoje com minha mãe. Ficou mexida com a homenagem, chorou e tudo. Toda a
família ficou emocionada." Um
disco sentimental? Nem sempre.
"A canção "Paris-Dakar" tem
pouca instrumentação, é extremamente vazia. Comprei um teclado que imita sons analógicos
antigos, procurei timbres que
dessem a sensação de gelo."
Marina, negociante
Mudando a fama de artista difícil no estúdio, ela gravou "Setembro" a toque de caixa. "Sou rápida
quando decido fazer. Chamei Edu
Martins para produzir comigo. A
pressa da Abril só fez apressar o
processo de criação. Tive que dar
um gás, mas foi desafiador."
Defende o modelo de contrato,
por um disco apenas: "Não quero
mais fazer grandes contratos, que
impliquem em muito dinheiro.
Assim me policio para não ficar
no lugar de diva. Não tenho o menor interesse, sou vira-lata".
Volta a elogiar a casa nova ("Lá
fica claro quem é o artista e quem
é a empresa: o trabalho deles é comercializar, o meu é criar"), mas
isso não significa que a Abril não
se meta em seu trabalho. "O Marcos Maynard [presidente" me
perguntou: "Quantas músicas você pode me dar para tocar no rádio?". Garanti umas quatro. Mas
"Notícias" ele achou lenta demais,
então propus um remix. Ele disse:
"Garota, grande idéia!"." O drible
vitaminou a idéia de fechar o curto disco com três remixes de DJs.
Marina, compositora
"Setembro" agudiza tendência
já exposta em "Pierrot do Brasil"
(98), de Marina adotar o piano na
composição, em lugar do violão.
"Violão é um instrumento intimista, piano e teclado são orquestras. Minha questão harmônica,
hoje, é ir atrás dos estados de espírito jobinianos com loop e sintetizador", explica. Uma herdeira de
Tom Jobim? Mais ou menos.
"Pensei nele ao compor "Dois
Durões (Lagoa)", mas também em
Dolores Duran. Se eu fosse homem, talvez fosse reconhecida como uma artista muito mais importante na trajetória da MPB do
que sou. Você pode ficar doente
porque as coisas não vêm como
você queria", confessa.
Teria vindo dali sua crise? "Eu
havia meio brigado com o meu
trabalho. Na hora em que vi que
era questão de ir à luta, fiquei boa.
Hoje vejo o que aconteceu e acho
até bacana. Não estou mais preocupada com a voz, isso já foi. Ela
vai, sai, me traduz. Meu negócio é
compor. Não sou homem, sou
mulher, pacata, penso sempre em
Dolores como compositora e mulher. E me sinto feliz."
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