São Paulo, sexta-feira, 07 de dezembro de 2001

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Marina Lima lança 16º CD, composto há três anos

"Setembro" em dezembro

Cantora, que se auto-define como "vira-lata", apresenta álbum que marca sua estréia em nova gravadora

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

Já é dezembro, mas Marina Lima, 46, ainda está em "Setembro" -é o nome de seu 16º disco, que chega às lojas na próxima semana. E ela vai enumerando razões para pingar mais primavera no quase verão de 2001: "A gravadora se chama Abril, compus em setembro, lanço em dezembro", começa, citando a chegada à nova casa, que sucede em sua carreira a Universal, em que esteve acolhida (não sem desavenças) na fase em que passou por aguda crise de perda de voz.
"Setembro é o mês em que nasci. Meu reencontro musical com meu irmão Antonio Cícero (co-autor de três faixas do CD) aconteceu em setembro. Foi também quando ele fez uma cirurgia no pulmão, que era simples, mas resultou numa infecção hospitalar, e ele quase morreu", continua.
"Quando Cícero foi para o hospital, houve os ataques de 11 de setembro. Era muita coisa intensa, do bem e do mal, ao mesmo tempo. Fui bombardeada."
E culminou na faixa-título, em que ela fala do Brasil, "desse Brasil pacífico, em que pessoas são felizes com tão pouco". Um disco de temática social? Mais ou menos.
A outra faixa que parece visitar o social, "Me Diga (Francisca)", tem na verdade caráter pessoal. A personagem, uma mulher que veio do Piauí, é real e atuante nas vidas de Marina e de Cícero.
"Ela é minha babá, a mulher que me criou. É do Piauí, como são meus pais. Mora até hoje com minha mãe. Ficou mexida com a homenagem, chorou e tudo. Toda a família ficou emocionada." Um disco sentimental? Nem sempre.
"A canção "Paris-Dakar" tem pouca instrumentação, é extremamente vazia. Comprei um teclado que imita sons analógicos antigos, procurei timbres que dessem a sensação de gelo."

Marina, negociante
Mudando a fama de artista difícil no estúdio, ela gravou "Setembro" a toque de caixa. "Sou rápida quando decido fazer. Chamei Edu Martins para produzir comigo. A pressa da Abril só fez apressar o processo de criação. Tive que dar um gás, mas foi desafiador."
Defende o modelo de contrato, por um disco apenas: "Não quero mais fazer grandes contratos, que impliquem em muito dinheiro. Assim me policio para não ficar no lugar de diva. Não tenho o menor interesse, sou vira-lata".
Volta a elogiar a casa nova ("Lá fica claro quem é o artista e quem é a empresa: o trabalho deles é comercializar, o meu é criar"), mas isso não significa que a Abril não se meta em seu trabalho. "O Marcos Maynard [presidente" me perguntou: "Quantas músicas você pode me dar para tocar no rádio?". Garanti umas quatro. Mas "Notícias" ele achou lenta demais, então propus um remix. Ele disse: "Garota, grande idéia!"." O drible vitaminou a idéia de fechar o curto disco com três remixes de DJs.

Marina, compositora
"Setembro" agudiza tendência já exposta em "Pierrot do Brasil" (98), de Marina adotar o piano na composição, em lugar do violão.
"Violão é um instrumento intimista, piano e teclado são orquestras. Minha questão harmônica, hoje, é ir atrás dos estados de espírito jobinianos com loop e sintetizador", explica. Uma herdeira de Tom Jobim? Mais ou menos.
"Pensei nele ao compor "Dois Durões (Lagoa)", mas também em Dolores Duran. Se eu fosse homem, talvez fosse reconhecida como uma artista muito mais importante na trajetória da MPB do que sou. Você pode ficar doente porque as coisas não vêm como você queria", confessa.
Teria vindo dali sua crise? "Eu havia meio brigado com o meu trabalho. Na hora em que vi que era questão de ir à luta, fiquei boa. Hoje vejo o que aconteceu e acho até bacana. Não estou mais preocupada com a voz, isso já foi. Ela vai, sai, me traduz. Meu negócio é compor. Não sou homem, sou mulher, pacata, penso sempre em Dolores como compositora e mulher. E me sinto feliz."


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