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MÚSICA
"Sweet Tea", novo disco do guitarrista lançado no Brasil pela Zomba Records, mergulha no estilo rústico do Mississippi
Buddy Guy abre novas trilhas para o blues
EDSON FRANCO
EDITOR DE IMÓVEIS E CONSTRUÇÃO
Há alguns benefícios à espera de
quem chega aos 65 anos. Aposentadoria, carteirinha para o ônibus,
descontos na farmácia. Em vez de
aproveitar isso, o guitarrista norte-americano Buddy Guy, 65, resolveu sacudir a poeira e mostrar
que ainda pode abrir novas searas
para o velho blues.
Enquanto a maioria dos seus
colegas lança discos com convidados vindos do pop, Guy foi para
um estúdio num rincão isolado
do Mississippi, juntou músicos
tão desconhecidos quanto o repertório explorado e voltou de lá
com o revigorante CD "Sweet
Tea", lançado em maio nos EUA e
que agora aporta por aqui.
No álbum, ele soa mais Buddy
Guy que nunca. Energético, incisivo, desavergonhado, íntimo e
intocável ao mesmo tempo. Mas,
pelo que disse por telefone à Folha, ele teve muito a ver com o resultado final, mas pouco com o
plano original. "Foi uma idéia do
produtor Dennis Herring e da
gravadora. Eu não sabia nada a
respeito de gente como Junior
Kimbrough, R.L. Burnside e T-Model Ford. Ouvi o máximo que
pude desse tipo de música e fui
para o estúdio."
Os músicos citados por Guy são
contratados do selo Fat Possum
-que agora está sendo distribuído no Brasil pela Sum Records-
e fazem um tipo de blues rústico,
com pouca ou nenhuma mudança de acordes e insistente como
um mantra na repetição.
"Nesse estilo, o que mais importa é o "groove". Quando fui para
Chicago [1957", foi-me ensinado
tudo sobre mudanças de acordes
e refrões. Tive de reaprender a tocar de um jeito mais básico. Fiquei preocupado e falei para o
produtor que eu achava que não
conseguiria. Ele me acalmou dizendo que minha tarefa era apenas tocar Buddy Guy sobre esse
blues do norte do Mississippi."
Segundo o guitarrista, o que tornou mais difícil seu reaprendizado foi o fato de não haver rádios e
TVs que toquem blues nos EUA.
"Não sou muito diferente dos
adolescentes que ouvem rádio e
tentam imitar aquilo na garagem.
É por isso que eu dou tudo no palco, para tentar deixar mais jovens
interessados pelo blues."
"A maioria dos shows acontece
em clubes onde só são permitidas
pessoas com mais de 21 anos.
Nem meus filhos podem entrar.
Às vezes, vão a um show aberto e
dizem: "Nossa, pai, não sabia que
o senhor tocava desse jeito'".
Timbres
De volta a "Sweet Tea", uma de
suas características mais notáveis
é a variedade de timbres. Isso decorre da miríade de amplificadores usados, muitos fora de linha
há décadas. Não houve truques
ou pedais de efeito nas gravações.
"No estúdio onde gravamos, não
havia nada capaz de fazer você
soar como algo que você não é."
Apesar de estar recebendo "as
melhores críticas da minha carreira", Guy não se ilude quanto à
possibilidade de "Sweet Tea" rivalizar em vendas com estrelas pop.
Para ele, embora às vezes apareça
um músico jovem que faça as pessoas revisitarem o blues, o estilo
está fadado a jamais chegar ao topo das paradas. É por essas e outras que, além de passar dias em
estúdios, ele mantém uma agenda
de shows recheadíssima e administra seu clube de blues em Chicago, o Legends.
"O movimento do clube caiu
bastante depois dos ataques de 11
de setembro, mas as coisas estão
melhorando. Chicago é uma cidade que recebe muitas convenções.
Assim, é muito fácil você encontrar engravatados bebericando no
Legends." Para encerrar a conversa, o guitarrista fala de maneira
esperançosa sobre a possibilidade
de mostrar o repertório de "Sweet
Tea" aos brasileiros. "Se vocês me
convidarem amanhã, estarei aí no
dia seguinte."
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