São Paulo, sexta-feira, 07 de dezembro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Crítica/"Conduta de Risco"

Roteirista de "Bourne" realiza estréia segura na direção em thriller político

PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA

A era Bush reacendeu a chama da indignação em Hollywood e resgatou o thriller político, gênero que praticamente hibernou nos anos 80 e 90 depois de viver seu ápice em filmes como "Os Três Dias do Condor", de Sidney Pollack (1975), e "Todos os Homens do Presidente", de Alan J. Pakula (1976).
Na nova configuração do gênero, porém, novos vetores geram a tensão do suspense -como mostra "Conduta de Risco", de Tony Gilroy, roteirista que construiu sua reputação ao adaptar os livros da "Trilogia Bourne" -e estréia na direção.
O maior aliado de Gilroy nessa nova empreitada é George Clooney. Hoje querido e reconhecido, o ator de "Plantão Médico" desistiu de se submeter aos papéis propostos (impostos?) no começo de sua carreira cinematográfica (herói de ação em "O Pacificador", galã de comédia romântica em "Um Dia Especial") para traçar um caminho singular e próprio, não raro co-produzindo e dirigindo seus próprios projetos.
Pois Clooney ganhou de Gilroy um dos melhores papéis de sua carreira. Michael Clayton é o funcionário de uma grande firma de advocacia que tem entre seus clientes algumas das maiores corporações em atividade. Sua especialidade é "limpar o terreno", ou seja, agir antes que um processo possa pôr em risco as corporações ou seus altos funcionários.
Nessa apresentação do personagem, já despontam os componentes que darão impulso à trama: os interesses do Estado, motores da ação nos anos 70, foram trocados pelos das grandes corporações, enquanto advogados ocupam o lugar de jornalistas e agentes secretos, que antes eram alvo de paranóia e perseguição.
Mas a maior transformação talvez seja de outra ordem. A "caixa preta", a informação sonegada e a manipulação que justificavam o suspense político já não fazem tanto sentido.
Gilroy trabalha em outra chave. Seu herói é um homem que faz parte do jogo, conhece suas regras, mas que se impõe um limite. Se ele encontra-se "sem saída", é por causa de sua própria consciência moral.

Desumanização
"Conduta de Risco" defende, em sua trama, que não há "a corporação" sem pessoas que tomem decisões em seu nome -muitas vezes atrás de interesses mesquinhos. Clayton está entre dois personagens simbólicos nesse processo de desumanização: Arthur Edens (Tom Wilkinson), o advogado que aparentemente enlouquece enquanto trabalha na defesa de um processo bilionário contra uma produtora de agrotóxicos, e Karen Crowder (Tilda Swinton), mulher masculinizada e despida de sensibilidade que aderiu por completo à engrenagem corporativa -e fará tudo que estiver ao seu alcance para defendê-la.
Gilroy vai bem até perto do final, quando apela para soluções fáceis que comprometem a credibilidade da trama. O desenho da personagem de Tilda Swinton é outro problema: muito desigual em relação aos de Clooney e Wilkinson. Mas, ainda assim, Gilroy demonstra domínio incomum para um estreante, principalmente na construção de uma atmosfera absolutamente soturna, em que se destaca a fotografia de Robert Elswit.


CONDUTA DE RISCO
Diretor:
Tony Gilroy
Com: George Clooney, Tom Wilkinson e Tilda Swinton
Produção: EUA, 2007
Onde: no Iguatemi Cinemark, HSBC Belas Artes e circuito
Avaliação: bom


Texto Anterior: Cinema/estréias: Filme nacional é lançado em cinema, TV, DVD e internet
Próximo Texto: Mostra expõe pesadelos da AL
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.