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Juliette Gréco celebra 60 anos de carreira
Musa dos intelectuais, cantora lança CD em Paris e relembra temporada no Rio
Aos 82 anos, a mais cerebral
entre intérpretes francesas
explora letras de poetas
contemporâneos no álbum
"Je me Souviens de Tout"
LENEIDE DUARTE-PLON
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM PARIS
A musa dos intelectuais de
Saint-Germain-des-Prés começou a carreira como atriz de
teatro. Em 1949, para a reinauguração do cabaré Le Boeuf Sur
le Toit, Juliette Gréco estreou
como cantora, interpretando
três canções compostas por Joseph Kosma, com letras de
Jean-Paul Sartre. Desde então,
sua voz rouca canta o amor com
sensualidade e elegância.
Um de seus maiores hits é a
canção "Déshabillez-moi", em
que ensina como seu homem
deve despi-la.
Para comemorar os 60 anos
de carreira, Juliette Gréco, a
mais cerebral das cantoras
francesas, lançou neste ano o
CD "Je me Souviens de Tout"
(eu me lembro de tudo).
A musa dos existencialistas,
símbolo da liberdade e rebeldia
das mulheres do pós-guerra,
recebeu a Folha elegantíssima,
num vestido preto, sua marca
registrada, no bar do Hotel Lutétia, em Paris. Aos 82 anos,
Gréco prova que o título do disco não mente: lembra de tudo,
inclusive de um brasileiro apaixonado que a pediu em casamento durante uma temporada carioca em 1952.
Ela foi ao Rio com o show
"April in Paris", que deveria
durar 15 dias na boate Vogue.
Ficou lá três meses. "É um país
que eu amo. Gosto da música,
das pessoas, da loucura."
Em 1993, Gréco se aproximou da música brasileira ao
gravar canções de Caetano Veloso e João Bosco. Mas ouvir a
musa cantando "Juazeiro" (de
Luiz Gonzaga) e "Sapato de Pobre" (de Luiz Antônio e Jota
Junior) é uma experiência quase surrealista. Ela canta, com
charme e ligeiro sotaque: "Sapato de pobre é tamanco, almoço de pobre é café, é café".
Gréco levou uma vida trepidante: fez cinema com Jean
Cocteau, e namorou o jazzman
Miles Davis. Nos anos 50, em
Hollywood, estrelou filmes de
John Huston e Orson Welles.
De volta à França, descobriu
novos talentos da música. Mais
tarde, casou-se com o ator Michel Piccoli. Desde 1989, é casada com o pianista e compositor Gérard Jouannest.
De Miles Davis, que conheceu em 1949, conta: "Você sabe
o que é paixão? Isso existe! A
gente se olhou e se descobriu".
Esse amor, diz, dura até hoje.
Gréco nunca foi popular como Edith Piaf. Ela era e é cult.
Seus fãs se identificam com a
elegância de seu repertório. No
início da carreira, entoava letras de poetas e escritores como Raymond Queneau, François Mauriac e Sartre. Sua turma era a dos surrealistas e dos
intelectuais de Saint-Germain.
Foi amiga de Françoise Sagan,
com quem costumava passar o
verão em Saint-Tropez. Depois, gravou Georges Brassens,
Jacques Brel, Léo Ferré e Serge
Gainsbourg -para quem abriu
as portas do showbiz ao gravar
"La Javanaise". Agora, a dama
da canção francesa se apropria
da poesia de uma nova geração,
como Miossec, Abd Al Malik,
Olivia Ruiz e do consagrado
Maxime Le Forrestier.
Dia 14 de dezembro, Juliette
canta na ópera do castelo de
Versalhes. "Me sinto como
uma garotinha, cheia de orgulho de cantar lá".
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