São Paulo, segunda-feira, 07 de dezembro de 2009

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Juliette Gréco celebra 60 anos de carreira

Musa dos intelectuais, cantora lança CD em Paris e relembra temporada no Rio

Aos 82 anos, a mais cerebral entre intérpretes francesas explora letras de poetas contemporâneos no álbum "Je me Souviens de Tout"

LENEIDE DUARTE-PLON
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM PARIS

A musa dos intelectuais de Saint-Germain-des-Prés começou a carreira como atriz de teatro. Em 1949, para a reinauguração do cabaré Le Boeuf Sur le Toit, Juliette Gréco estreou como cantora, interpretando três canções compostas por Joseph Kosma, com letras de Jean-Paul Sartre. Desde então, sua voz rouca canta o amor com sensualidade e elegância.
Um de seus maiores hits é a canção "Déshabillez-moi", em que ensina como seu homem deve despi-la.
Para comemorar os 60 anos de carreira, Juliette Gréco, a mais cerebral das cantoras francesas, lançou neste ano o CD "Je me Souviens de Tout" (eu me lembro de tudo).
A musa dos existencialistas, símbolo da liberdade e rebeldia das mulheres do pós-guerra, recebeu a Folha elegantíssima, num vestido preto, sua marca registrada, no bar do Hotel Lutétia, em Paris. Aos 82 anos, Gréco prova que o título do disco não mente: lembra de tudo, inclusive de um brasileiro apaixonado que a pediu em casamento durante uma temporada carioca em 1952.
Ela foi ao Rio com o show "April in Paris", que deveria durar 15 dias na boate Vogue. Ficou lá três meses. "É um país que eu amo. Gosto da música, das pessoas, da loucura."
Em 1993, Gréco se aproximou da música brasileira ao gravar canções de Caetano Veloso e João Bosco. Mas ouvir a musa cantando "Juazeiro" (de Luiz Gonzaga) e "Sapato de Pobre" (de Luiz Antônio e Jota Junior) é uma experiência quase surrealista. Ela canta, com charme e ligeiro sotaque: "Sapato de pobre é tamanco, almoço de pobre é café, é café".
Gréco levou uma vida trepidante: fez cinema com Jean Cocteau, e namorou o jazzman Miles Davis. Nos anos 50, em Hollywood, estrelou filmes de John Huston e Orson Welles.
De volta à França, descobriu novos talentos da música. Mais tarde, casou-se com o ator Michel Piccoli. Desde 1989, é casada com o pianista e compositor Gérard Jouannest.
De Miles Davis, que conheceu em 1949, conta: "Você sabe o que é paixão? Isso existe! A gente se olhou e se descobriu". Esse amor, diz, dura até hoje.
Gréco nunca foi popular como Edith Piaf. Ela era e é cult. Seus fãs se identificam com a elegância de seu repertório. No início da carreira, entoava letras de poetas e escritores como Raymond Queneau, François Mauriac e Sartre. Sua turma era a dos surrealistas e dos intelectuais de Saint-Germain.
Foi amiga de Françoise Sagan, com quem costumava passar o verão em Saint-Tropez. Depois, gravou Georges Brassens, Jacques Brel, Léo Ferré e Serge Gainsbourg -para quem abriu as portas do showbiz ao gravar "La Javanaise". Agora, a dama da canção francesa se apropria da poesia de uma nova geração, como Miossec, Abd Al Malik, Olivia Ruiz e do consagrado Maxime Le Forrestier.
Dia 14 de dezembro, Juliette canta na ópera do castelo de Versalhes. "Me sinto como uma garotinha, cheia de orgulho de cantar lá".


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