São Paulo, segunda-feira, 07 de dezembro de 2009

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Artistas visuais franceses interpretam mundo onírico de Carroll em mostra

DA REPORTAGEM LOCAL

Enquanto não chega a mais nova versão cinematográfica de "Alice no País das Maravilhas", que vem pelas mãos de Tim Burton em março do ano que vem, o enredo da garota britânica que estica e encolhe às voltas com um coelho apressado alimenta artistas visuais numa exposição em São Paulo.
Esse jogo de escalas, aliás, é o mote de quase todas as obras reunidas em "Um Mundo Sem Medidas", nome mais do que óbvio para a mostra de artistas franceses que revisitam o mundo de Alice no Museu de Arte Contemporânea da USP.
Se existem exemplos grosseiros dessa subversão de escalas, como o suéter gigantesco pendurado num cabide também desproporcional, de Jean-François Fourtou, ou um sapatinho de Alice em tamanho GG, de Françoise Pétrovitch, há obras que atingem uma interpretação mais sofisticada das charadas da personagem.
Esses mesmos artistas tentam ir além do banal em desenhos e fotografias. Fourtou troca Alice por um garoto gigante dormindo encolhido numa casa diminuta. Não é uma grande sacada, mas sublinha um dos pontos polêmicos da obra de Carroll, acusado de pedofilia, trocando o sexo do personagem e exacerbando o potencial erótico -o menino está quase nu. Pétrovitch vai ao fio da navalha que separa os mundos de Carroll numa série de obras sobre papel, em que o vermelho dá o tom dessa fusão entre realidade e fantasia -junção metabólica e tensa dos universos, que parece jorrar sangue.
Numa interpretação mais sóbria dos jogos de Carroll, Gilbert Garcin relembra as construções enigmáticas de M.C. Escher ou mesmo as composições monocromáticas do minimalismo numa série de fotos. Nelas, um homem aparece desenrolando o que seria o fio da vida, ou surge carregando uma moldura quadrada num mar de círculos, estendendo um manto gigantesco sobre o horizonte ou mergulhado em combinações numéricas.
De volta ao porto seguro da subversão de escalas, Samuel Rousseau projeta homenzinhos minúsculos sobre uma montanha de pano, um gigante preso num prédio em praça pública e outro pequeno homem que tenta saltar ao próximo degrau de uma escada branca. Bertrand Gardenne dá as dimensões de um homem a um rato, projetado numa tela que vai do chão ao teto, enquanto as fotografias de Simone Decker mostram chicletes descartados, em tamanho gigante, pelas ruas e canais de Veneza. No jogo de encolhe e estica, resta esperar se no cinema de Burton a imaginação será mais elástica do que um suéter gigante, sapatinhos e bolas de chiclete hipertrofiadas. (SM)


UM MUNDO SEM MEDIDAS

Quando: ter. a sex., 10h às 18h; sáb. e dom., 10h às 16h; até 31/1
Onde: MAC-USP (r. da Reitoria, 160, tel. 0/xx/ 11/3091-3039)
Quanto: entrada franca


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