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Artistas visuais franceses interpretam mundo onírico de Carroll em mostra
DA REPORTAGEM LOCAL
Enquanto não chega a mais
nova versão cinematográfica de
"Alice no País das Maravilhas",
que vem pelas mãos de Tim
Burton em março do ano que
vem, o enredo da garota britânica que estica e encolhe às voltas com um coelho apressado
alimenta artistas visuais numa
exposição em São Paulo.
Esse jogo de escalas, aliás, é o
mote de quase todas as obras
reunidas em "Um Mundo Sem
Medidas", nome mais do que
óbvio para a mostra de artistas
franceses que revisitam o mundo de Alice no Museu de Arte
Contemporânea da USP.
Se existem exemplos grosseiros dessa subversão de escalas,
como o suéter gigantesco pendurado num cabide também
desproporcional, de Jean-François Fourtou, ou um sapatinho de Alice em tamanho GG,
de Françoise Pétrovitch, há
obras que atingem uma interpretação mais sofisticada das
charadas da personagem.
Esses mesmos artistas tentam ir além do banal em desenhos e fotografias. Fourtou troca Alice por um garoto gigante
dormindo encolhido numa casa diminuta. Não é uma grande
sacada, mas sublinha um dos
pontos polêmicos da obra de
Carroll, acusado de pedofilia,
trocando o sexo do personagem
e exacerbando o potencial erótico -o menino está quase nu.
Pétrovitch vai ao fio da navalha que separa os mundos de
Carroll numa série de obras sobre papel, em que o vermelho
dá o tom dessa fusão entre realidade e fantasia -junção metabólica e tensa dos universos,
que parece jorrar sangue.
Numa interpretação mais sóbria dos jogos de Carroll, Gilbert Garcin relembra as construções enigmáticas de M.C.
Escher ou mesmo as composições monocromáticas do minimalismo numa série de fotos.
Nelas, um homem aparece
desenrolando o que seria o fio
da vida, ou surge carregando
uma moldura quadrada num
mar de círculos, estendendo
um manto gigantesco sobre o
horizonte ou mergulhado em
combinações numéricas.
De volta ao porto seguro da
subversão de escalas, Samuel
Rousseau projeta homenzinhos minúsculos sobre uma
montanha de pano, um gigante
preso num prédio em praça pública e outro pequeno homem
que tenta saltar ao próximo degrau de uma escada branca.
Bertrand Gardenne dá as dimensões de um homem a um
rato, projetado numa tela que
vai do chão ao teto, enquanto as
fotografias de Simone Decker
mostram chicletes descartados, em tamanho gigante, pelas
ruas e canais de Veneza.
No jogo de encolhe e estica,
resta esperar se no cinema de
Burton a imaginação será mais
elástica do que um suéter gigante, sapatinhos e bolas de
chiclete hipertrofiadas.
(SM)
UM MUNDO SEM
MEDIDAS
Quando: ter. a sex., 10h às 18h; sáb.
e dom., 10h às 16h; até 31/1
Onde: MAC-USP (r. da Reitoria, 160,
tel. 0/xx/ 11/3091-3039)
Quanto: entrada franca
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