São Paulo, terça-feira, 08 de janeiro de 2002

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MODA

Mestre do glamour anuncia seu último desfile, no Centro Georges Pompidou

Yves Saint Laurent dá adeus à alta-costura

ALCINO LEITE NETO
DE PARIS

De terno e gravata pretos, Yves Saint Laurent, 65, o maior estilista do século 20, deu adeus ontem à alta-costura. Os jornais, TVs, todo o sistema de comunicação francês e órgãos de imprensa do mundo se concentraram na sua maison, na elegante avenida Marceau, em Paris, ontem, ao meio-dia, para ouvir seu aguardado pronunciamento de despedida.
A frase fatídica, esperada desde a semana passada, quando começaram os boatos da aposentadoria do mestre, chegou quase ao final do discurso comovente, que foi cercado de pompa histórica: "Escolhi dizer hoje adeus a esta profissão que eu amei tanto".
Saint Laurent falou em tom emocionado durante 15 minutos e depois embarcou, sorrindo, numa Mercedes também preta.
A aposentadoria de Saint Laurent encerra a época de ouro da alta-costura francesa e todo um tempo de sofisticação e glamour, do qual ele era o principal símbolo vivo. Grandes corporações adquiriram as marcas célebres e travam guerras pelo mercado.
A própria marca YSL é controlada desde 1999 pela empresa Pinault-Printemps-Redoute, também proprietária da Gucci. O prêt-à-porter YSL saiu do controle do costureiro e foi entregue ao texano Tom Ford. A casa de alta-costura de Saint Laurent era mantida, mesmo deficitária, pelo empresário François Pinault. Com o seu afastamento, será fechada.
No discurso, Saint Laurent citou Proust e Rimbaud e agradeceu às personalidades que o acompanharam -de Christian Dior, de quem foi pupilo, a Pierre Bergé, seu companheiro de mais de 30 anos. Num ato que parece selar o fim dos atritos com o empresário, agradeceu a François Pinault.
São as mulheres, porém, as principais homenageadas. "Criei o guarda-roupa da mulher contemporânea, participei da transformação de uma época. Agradeço às mulheres que vestiram minhas roupas, às célebres e às desconhecidas, que foram tão fiéis e me trouxeram tanta alegria."
Saint Laurent, nascido na Argélia, não ocultou a sua depressão nervosa, considerada um dos motivos de seu afastamento: "Marcel Proust me ensinou que "a magnífica e lamentável família dos nervosos é o sal da terra". Eu, sem saber, fiz parte dessa família". E também anunciou o seu último desfile, no próximo dia 22, no Centro Georges Pompidou, que será uma mostra retrospectiva de sua obra e de novos modelos.



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