São Paulo, terça-feira, 08 de janeiro de 2002

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MÚSICA

Internet vira ponto-de-venda das grandes gravadoras e força queda no preço dos CDs nos EUA

Trilhas alternativas

CLAUDIA ASSEF
DA REPORTAGEM LOCAL

Demorou, mas parece que a ficha caiu para a indústria fonográfica: 2002 deve marcar a entrada maciça das gravadoras no mercado de música digital.
Depois de forçar a aposentadoria do Napster e assistir, logo em seguida, à proliferação de uma centena de mecanismos tão eficientes quanto o pioneiro trocador de arquivos digitais, a indústria do disco deu o braço a torcer.
As gravadoras vão elas mesmas funcionar na internet como napsters. Só que, em vez de fornecer música de graça, como ainda fazem endereços como o kazaa. com, vão cobrar -seja por faixas isoladamente ou mediante o pagamento de mensalidades.
Parece que não dá mais para ignorar um mercado que contabiliza por semana mais de 5 milhões de downloads.
"A indústria fonográfica é a maior culpada pelo aparecimento dos napsters", diz André Szajman, 29, um dos presidentes da Trama, a primeira gravadora brasileira a vender faixas de seus artistas pela internet.
"Ainda estamos na idade da pedra da internet, mas quem não entrar agora estará comprando um problema", avalia o empresário. Ele conta que a venda de faixas pelo site da gravadora em 2001 ficou em torno de 500 músicas. Cada faixa é vendida, em média, por R$ 1,50.
O número, segundo ele, não é "nem bom nem ruim", mas mostra que há pessoas dispostas a pagar pelo serviço. Szajman calcula que, em três ou quatro anos, a venda de música pela internet represente cerca de 20% do faturamento da Trama.
Por enquanto, as gravadoras terão de medir isoladamente seu faturamento on-line. A ABPD (Associação Brasileira dos Produtores de Discos), porém, promete começar a verificar o tamanho do mercado digital em breve.
Um estudo da Jupiter Media Metrix, empresa norte-americana especializada em análise de mercado on-line, avalia que até 2005 a venda de CDs pela internet e o download de músicas pela rede representarão cerca de 25% do movimento total.
Nos EUA, as gravadoras tentam se organizar primeiramente em grupo para testar como o mercado de venda de música digital vai funcionar.
A primeira iniciativa aconteceu em 98. Foi a criação da SDMI, sigla para Iniciativa para Música Digital Segura. A associação tem em seu conselho virtual cerca de 200 empresas de tecnologia, comunicação e música, incluindo aí as grandes gravadoras.
Segundo a SDMI, foi a movimentação no mercado digital que forçou a queda -inédita e bem-vinda- dos preços dos CDs nos EUA, que fecharam o ano custando US$ 10, no lugar dos habituais US$ 13.
Acontece que, pela primeira vez em dez anos, os EUA enfrentam recessão. De 91 a 2000, o número de CDs vendidos no país triplicou. No ano passado, os atentados, as eleições e outros fatores brecaram o aumento nas vendas de CDs, da mesma forma que não decolaram as vendas de, digamos, abajures.
Se a indústria pode apontar os napsters como culpados por alguma coisa, seria do sumiço dos singles. Segundo a SoundScan, que mede vendas da indústria norte-americana, houve queda de 38% nas vendas nesse formato.

Napster pago
Para atuar na venda propriamente dita de música pela net, os gigantes da indústria fonográfica se dividiram em dois grupos.
O MusicNet, que entrou no ar no início de dezembro e ainda opera somente nos EUA, representa artistas da AOL Time Warner, BMG, EMI e Zomba Records.
Segundo o site (www.musicnet.com), o usuário que topar pagar mensalidade de US$ 19,95 terá direito a usufruir de cerca de 75 mil músicas e games.
"A MusicNet ainda apresenta problemas. Vamos ver como as coisas funcionam por lá. Ainda não decidimos como vamos atuar no Brasil, mas a internet é sem dúvida um mercado em que apostamos muito", diz Ivo Júnior, do braço brasileiro da BMG.
No final de dezembro, outro site representando majors entrou no ar em caráter experimental. É o Pressplay (www.pressplay.com), que funciona de forma parecida com o MusicNet, representando Sony, Universal, MSN Music, Yahoo! e Roxio.
O próprio Napster, que saiu do ar em julho, anuncia que volta a funcionar em 2002. Segundo texto que está no ar, o Napster funcionará mediante cobrança de mensalidade dos usuários.


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