São Paulo, terça-feira, 08 de janeiro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CD começa 2002 perdendo espaço para formato DVD

DA REPORTAGEM LOCAL

O ano de 2001 termina demarcando para a indústria fonográfica brasileira o início de uma fase de transição, em que o combalido e pirateado CD começa a perder terreno para o DVD. É o que revelam dados preliminares que englobam o ano passado de janeiro a novembro e apontam uma queda do mercado oficial de CD em torno de 30%.
Se no mercado total (de CD, VHS e DVD) a queda em relação a 2000 foi de 28,2% (em termos de cópias vendidas) e 26,9% (em termos de faturamento), o comércio de DVDs musicais vive pequena explosão. Cresceu, em comparação com 2000, 218,6% (em cópias) e 210,6% (em faturamento).
"O acontecimento positivo de 2001 foi o bom crescimento do DVD. O negativo, a história da pirataria", admite o diretor-geral da Associação Brasileira dos Produtores de Discos (ABPD), Márcio Gonçalves, 29.
A comparação ainda é desproporcional: quase 60 milhões de CDs vendidos versus menos de 1,3 milhão de DVDs. De qualquer modo, os dados reforçam a impressão de que a avalanche de CDs ao vivo que acometeu o Brasil de 98 em diante servia, também, para preparar o mercado para o formato música com vídeo.
Para Gonçalves, não há um processo de substituição: "O DVD é uma tendência, mas não acredito que vá substituir o CD. O DVD Audio é um outro novo formato que pode acontecer, mas mesmo nos EUA é pouco disseminado".
Assim, neste final de ano, houve uma pequena explosão de lançamentos de shows ao vivo em formato DVD. Marisa Monte se destacou por tentar consolidar uma migração real de formato. Seu show mais recente, "Memórias, Crônicas e Declarações de Amor", saiu no formato DVD, sem CD correspondente. Funcionou: já recebeu DVD de platina, correspondente a 50 mil cópias vendidas (para CD, a platina corresponde a 250 mil exemplares).
O DVD não foi a salvação da lavoura, no entanto, como explica o diretor da ABPD: "Apesar de o crescimento ser muito grande, não minimizou as quedas que houve no mercado em 2001, por causa de recessão e da pirataria".
Falando do dito maior problema do ano na indústria do disco, a ABPD define a posição atual da pirataria como ocupante de mais de 50% do mercado total de CDs. Mas, como admite o diretor Gonçalves, a instituição ainda não encontrou meios de auferir objetivamente esses números.
"Estamos fazendo pesquisas aprofundadas para ter uma idéia melhor do impacto econômico e cultural da pirataria no Brasil. Estimamos em cerca de 50%, mas não é um número exato. Se alguém falar que é 70%, não vou ficar surpreso", diz.
Gonçalves mantém a reclamação do conglomerado de gravadoras contra a atuação do governo na repressão à pirataria: "O comitê interministerial de combate à pirataria foi criado no meio do ano, mas ainda não teve ação prática". Ele continua: "O Estado de São Paulo criou uma delegacia especializada, que, em menos tempo, fez muito mais que o comitê".
Com o cenário sombrio trazido pela pirataria descontrolada, Gonçalves tenta injetar elementos otimistas nos prognósticos para 2002. Enxerga um crescimento estimado em 5% para o novo ano, que seria não de crescimento, mas de recuperação de perda.
"A Price-Waterhouse, uma empresa de auditoria, fez um estudo que aponta o Brasil como o mercado mais sofisticado na América Latina, prevendo um crescimento de 16% nos próximos cinco anos. O consumo de música no país continua o mesmo. O problema é que, do jeito que vai a impunidade, é difícil dizer que vai crescer esse tanto, se é que vai crescer."
E sobre os prognósticos apocalípticos da ABPD em agosto passado, de que a indústria fonográfica seria extinta até o final de 2001 se o governo não entrasse em ação contra a pirataria?
"O que se falou ali continua valendo", diz Gonçalves. "Em 2001, já houve nas gravadoras diminuição de pessoal, de elenco, de número de lançamentos. A longo prazo, talvez as pessoas que vivem de música tenham de acabar procurando outra atividade."
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)



Texto Anterior: EMI é primeira major a colocar acervo na rede
Próximo Texto: Cássia admitiu uso de cocaína, diz advogado
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.