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CD começa 2002 perdendo espaço para formato DVD
DA REPORTAGEM LOCAL
O ano de 2001 termina demarcando para a indústria fonográfica brasileira o início de uma fase
de transição, em que o combalido
e pirateado CD começa a perder
terreno para o DVD. É o que revelam dados preliminares que englobam o ano passado de janeiro
a novembro e apontam uma queda do mercado oficial de CD em
torno de 30%.
Se no mercado total (de CD,
VHS e DVD) a queda em relação a
2000 foi de 28,2% (em termos de
cópias vendidas) e 26,9% (em termos de faturamento), o comércio
de DVDs musicais vive pequena
explosão. Cresceu, em comparação com 2000, 218,6% (em cópias)
e 210,6% (em faturamento).
"O acontecimento positivo de
2001 foi o bom crescimento do
DVD. O negativo, a história da pirataria", admite o diretor-geral da
Associação Brasileira dos Produtores de Discos (ABPD), Márcio
Gonçalves, 29.
A comparação ainda é desproporcional: quase 60 milhões de
CDs vendidos versus menos de
1,3 milhão de DVDs. De qualquer
modo, os dados reforçam a impressão de que a avalanche de
CDs ao vivo que acometeu o Brasil de 98 em diante servia, também, para preparar o mercado
para o formato música com vídeo.
Para Gonçalves, não há um processo de substituição: "O DVD é
uma tendência, mas não acredito
que vá substituir o CD. O DVD
Audio é um outro novo formato
que pode acontecer, mas mesmo
nos EUA é pouco disseminado".
Assim, neste final de ano, houve
uma pequena explosão de lançamentos de shows ao vivo em formato DVD. Marisa Monte se destacou por tentar consolidar uma
migração real de formato. Seu
show mais recente, "Memórias,
Crônicas e Declarações de
Amor", saiu no formato DVD,
sem CD correspondente. Funcionou: já recebeu DVD de platina,
correspondente a 50 mil cópias
vendidas (para CD, a platina corresponde a 250 mil exemplares).
O DVD não foi a salvação da lavoura, no entanto, como explica o
diretor da ABPD: "Apesar de o
crescimento ser muito grande,
não minimizou as quedas que
houve no mercado em 2001, por
causa de recessão e da pirataria".
Falando do dito maior problema do ano na indústria do disco, a
ABPD define a posição atual da
pirataria como ocupante de mais
de 50% do mercado total de CDs.
Mas, como admite o diretor Gonçalves, a instituição ainda não encontrou meios de auferir objetivamente esses números.
"Estamos fazendo pesquisas
aprofundadas para ter uma idéia
melhor do impacto econômico e
cultural da pirataria no Brasil. Estimamos em cerca de 50%, mas
não é um número exato. Se alguém falar que é 70%, não vou ficar surpreso", diz.
Gonçalves mantém a reclamação do conglomerado de gravadoras contra a atuação do governo na repressão à pirataria: "O comitê interministerial de combate
à pirataria foi criado no meio do
ano, mas ainda não teve ação prática". Ele continua: "O Estado de
São Paulo criou uma delegacia especializada, que, em menos tempo, fez muito mais que o comitê".
Com o cenário sombrio trazido
pela pirataria descontrolada,
Gonçalves tenta injetar elementos
otimistas nos prognósticos para
2002. Enxerga um crescimento
estimado em 5% para o novo ano,
que seria não de crescimento, mas
de recuperação de perda.
"A Price-Waterhouse, uma empresa de auditoria, fez um estudo
que aponta o Brasil como o mercado mais sofisticado na América
Latina, prevendo um crescimento
de 16% nos próximos cinco anos.
O consumo de música no país
continua o mesmo. O problema é
que, do jeito que vai a impunidade, é difícil dizer que vai crescer
esse tanto, se é que vai crescer."
E sobre os prognósticos apocalípticos da ABPD em agosto passado, de que a indústria fonográfica seria extinta até o final de 2001
se o governo não entrasse em
ação contra a pirataria?
"O que se falou ali continua valendo", diz Gonçalves. "Em 2001,
já houve nas gravadoras diminuição de pessoal, de elenco, de número de lançamentos. A longo
prazo, talvez as pessoas que vivem
de música tenham de acabar procurando outra atividade."
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)
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