São Paulo, terça-feira, 08 de janeiro de 2008

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Centro de arte em MG ganha dois pavilhões

Com inauguração em março, novos espaços serão para Varejão e Salcedo

Centro de Arte Contemporânea Inhotim exibe trabalhos de outros nomes de destaque, como Cildo Meireles e Tunga

Reprodução
"Através', instalação de Cildo Meireles, feita entre 1983 e 1989; centro de arte tem galeria especialmente realizada para o artista

MARIO GIOIA
ENVIADO ESPECIAL A BRUMADINHO (MG)

Inóspita é o nome de uma palmeira rara, cuja pequena placa de identificação indica que ela, no Brasil, é um exemplar exclusivo. Originária das Ilhas Salomão, a planta não é a única surpresa entre lagos, cisnes, buritis e centenas de espécies nativas e exóticas do jardim botânico do Centro de Arte Contemporânea Inhotim, em Brumadinho (a 60 km de Belo Horizonte), desenhado por Burle Marx.
O surpreendente centro, que é um dos principais espaços no Brasil de arte contemporânea, tem hoje cerca de 40 hectares (o equivalente a 40 campos de futebol) e passa por um processo de expansão. Em 15 de março, dobrará de tamanho ao ganhar dois novos pavilhões, um para a carioca Adriana Varejão, 43, e o outro para a colombiana Doris Salcedo, 47.
Os dois novos espaços não são exemplares únicos em importância dentro do centro de arte. Entre as 80 obras expostas, há trabalhos de Chris Burden, Larry Clark e Franz Ackermann, além de peças de brasileiros valorizados no exterior, como Hélio Oiticica, Cildo Meireles e Tunga (leia ao lado).
Em meio aos jardins, há obras de destacados artistas da cena internacional, como uma instalação de vidro do artista norte-americano Dan Graham e outra instalação do dinamarquês Olafur Eliasson, uma espécie de iglu que utiliza uma das fontes d'água do parque.
Idealizado pelo colecionador Bernardo Paz, Inhotim tem um acervo de 300 trabalhos de arte contemporânea. A coleção começou a ganhar corpo quando Paz vendeu telas de Portinari e Di Cavalcanti, entre outros modernistas, mudando de foco.

Novos espaços
Varejão é das mais destacadas artistas contemporâneas brasileiras, tendo participado de mostras como as Bienais de Veneza e de São Paulo, além de coletivas em museus de peso, como o MoMA e o Guggenheim, em Nova York.
Já Salcedo estreou há pouco um polêmico trabalho ambiental na Tate Modern, em Londres, intitulado "Shibboleth". A obra consiste em uma grande rachadura no chão de uma das grandes salas expositivas do prestigiado museu. "Shibboleth" fica na Tate até 6 de abril.
Os dois novos espaços vão aumentar para nove as galerias onde parte do acervo do centro é exibida. O pavilhão de Varejão é o primeiro a ser projetado com um partido arquitetônico forte, de autoria de Rodrigo Cerviño Lopez. O edifício é um cubo feito de materiais como concreto e vidro, com aberturas generosas para o exterior.
Varejão criou uma espécie de retrospectiva de algumas de suas séries de maior força no espaço. No andar de cima do pavilhão, desenhou um grande painel, cujas paredes repletas de telas com motivos inspirados em azulejos históricos de Cachoeira (BA) remetem à sua obra "Celacanto Provoca Maremoto", exibido na Fundação Cartier, em Paris, em 2004.
"Depois de uma exposição na Fortes Vilaça, esses meus trabalhos foram todos vendidos parte por parte. De certa forma, esse painel restitui a unidade para a obra", contou ela à Folha, de pincel na mão, com seus assistentes, no mês passado.
Na sala de entrada da galeria, Varejão colocou nas paredes série exposta em São Paulo no final de 2005, com pinturas que simulam banheiros, piscinas e saunas. No centro do espaço, a artista optou por exibir obras da série "Ruínas de Charque", na qual ela cria um tipo de muro recortado por desenhos irregulares, com cores e texturas que lembram partes internas do corpo.
Na área externa, Varejão criou um banco azulejado, variante de obra apresentada no MAM-SP, em 2003. "Foi a primeira vez em que trabalhei com ladrilhos de verdade. Peguei um tratado de botânica antigo, escolhi 50 plantas alucinógenas e pedi para reproduzir as imagens delas na superfície do azulejo", diz ela. "O texto que fala das propriedades das plantas parece estar falando de arte contemporânea. Por isso também foi inscrito na peça."
O pavilhão de Salcedo reconstrói obra inicialmente exibida na galeria White Cube, em Londres, em 2004, que consiste em um grande ambiente retangular branco, formado por uma malha metálica que recobre as paredes. "É um ambiente asfixiante", avalia o curador Rodrigo Moura, um dos responsáveis pela linha artística de Inhotim, ao lado do norte-americano Alan Schwartzman e do alemão Jochen Volz.


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