São Paulo, sexta-feira, 08 de janeiro de 2010

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CINEMA

Crítica/"Sherlock Holmes"

Com menos maneirismos, Guy Ritchie atualiza detetive

Aeróbico e cínico, novo Holmes fala mais do século 21 que da Inglaterra vitoriana

RICARDO CALIL
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Corra, Lola, corra. Corra, Forrest. O novo James Bond corre demais. E, agora, Sherlock Holmes também. A essência do herói moderno parece residir na impossibilidade de ficar parado, ou mesmo de se mover lentamente. Se antes deitavam o personagem no divã, hoje o matriculam em uma academia de ginástica. Tudo é aceleração.
No caso de Sherlock Holmes, a tendência é particularmente curiosa, porque o detetive londrino, tal como concebido pelo escritor Arthur Conan Doyle, é não apenas um mestre da lógica como ainda um adepto obstinado do sedentarismo. Na nova versão para o cinema, já na primeira sequência, o personagem surge correndo, mas também usando seus poderes dedutivos -para descobrir os pontos fracos de um oponente mais forte e, assim, melhor golpeá-lo (o domínio de alguma arte marcial parece ser a segunda característica essencial do herói moderno).
Aeróbico e cínico, meio ninja, meio dândi. E com uma inclinação homoerótica mais evidente por seu colega Watson. Assim é o "Sherlock Holmes" de Guy Ritchie. As críticas ao filme concentraram-se no fato de que este não é o típico Sherlock que conhecemos. Mas essa é a proposta do filme: atualizar o personagem, fazer com que ele fale mais sobre o século 21, mesmo que sintomaticamente, do que sobre a Inglaterra vitoriana em que se passa a ação.
E um filme não pode ser julgado por sua proposta, e sim pela maneira com que a desenvolve. No aspecto do entretenimento, não há muito do que reclamar. "Sherlock Holmes" é uma máquina hollywoodiana bem azeitada, eficiente e impessoal. A trama de mistério -em que Holmes (Robert Downey Jr.) e Watson (Jude Law) combatem o plano de lorde Blackwood (Mark Strong) para destruir a Inglaterra- é banal, mas cumpre a função de reapresentar os personagens.
Já a escolha de Downey Jr. como Sherlock se revela um enorme acerto, o maior do filme. Ele se alterna entre as personas de gênio atormentado e de campeão de luta livre com total desembaraço. Aqui há que se dar um crédito a Hollywood: depois de anos tentando ensinar brutamontes a atuar em filmes de ação, agora os estúdios contratam logo um personal trainer para transformar bons atores em brutamontes -com excelentes resultados, tanto físicos quanto dramáticos.
Por fim, o filme tem um mérito inesperado. As pessoas reclamam que este não é um típico Sherlock Holmes sem reparar que há uma bela compensação: também não é um típico filme de Ritchie. A direção surge mais contida, menos rococó que em "Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes" (98) e "Snatch" (00). Seu "Sherlock" pode não ter muita substância, mas tem bem menos maneirismos. Desta vez, Ritchie joga a favor do filme, não do efeito. Em alguns casos, a falta de estilo pode ser uma bênção.


SHERLOCK HOLMES

Direção: Guy Ritchie
Produção: Reino Unido/Austrália/ EUA, 2009
Com: Robert Downey Jr., Jude Law
Onde: Cine TAM, Unibanco Arteplex e circuito
Classificação: 14 anos
Avaliação: bom




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