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CINEMA
Crítica/"Sherlock Holmes"
Com menos maneirismos, Guy Ritchie atualiza detetive
Aeróbico e cínico, novo Holmes fala mais do século 21 que da Inglaterra vitoriana
RICARDO CALIL
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Corra, Lola, corra. Corra,
Forrest. O novo James
Bond corre demais. E,
agora, Sherlock Holmes também. A essência do herói moderno parece residir na impossibilidade de ficar parado, ou
mesmo de se mover lentamente. Se antes deitavam o personagem no divã, hoje o matriculam em uma academia de ginástica. Tudo é aceleração.
No caso de Sherlock Holmes,
a tendência é particularmente
curiosa, porque o detetive londrino, tal como concebido pelo
escritor Arthur Conan Doyle, é
não apenas um mestre da lógica
como ainda um adepto obstinado do sedentarismo. Na nova
versão para o cinema, já na primeira sequência, o personagem
surge correndo, mas também
usando seus poderes dedutivos
-para descobrir os pontos fracos de um oponente mais forte
e, assim, melhor golpeá-lo (o
domínio de alguma arte marcial parece ser a segunda característica essencial do herói moderno).
Aeróbico e cínico, meio ninja,
meio dândi. E com uma inclinação homoerótica mais evidente
por seu colega Watson. Assim é
o "Sherlock Holmes" de Guy
Ritchie. As críticas ao filme
concentraram-se no fato de
que este não é o típico Sherlock
que conhecemos. Mas essa é a
proposta do filme: atualizar o
personagem, fazer com que ele
fale mais sobre o século 21,
mesmo que sintomaticamente,
do que sobre a Inglaterra vitoriana em que se passa a ação.
E
um filme não pode ser julgado
por sua proposta, e sim pela
maneira com que a desenvolve.
No aspecto do entretenimento, não há muito do que reclamar. "Sherlock Holmes" é
uma máquina hollywoodiana
bem azeitada, eficiente e impessoal. A trama de mistério
-em que Holmes (Robert
Downey Jr.) e Watson (Jude
Law) combatem o plano de lorde Blackwood (Mark Strong)
para destruir a Inglaterra- é
banal, mas cumpre a função de
reapresentar os personagens.
Já a escolha de Downey Jr.
como Sherlock se revela um
enorme acerto, o maior do filme. Ele se alterna entre as personas de gênio atormentado e
de campeão de luta livre com
total desembaraço. Aqui há que
se dar um crédito a Hollywood:
depois de anos tentando ensinar brutamontes a atuar em filmes de ação, agora os estúdios
contratam logo um personal
trainer para transformar bons
atores em brutamontes -com
excelentes resultados, tanto físicos quanto dramáticos.
Por fim, o filme tem um mérito inesperado. As pessoas reclamam que este não é um típico Sherlock Holmes sem reparar que há uma bela compensação: também não é um típico
filme de Ritchie. A direção surge mais contida, menos rococó
que em "Jogos, Trapaças e Dois
Canos Fumegantes" (98) e
"Snatch" (00). Seu "Sherlock"
pode não ter muita substância,
mas tem bem menos maneirismos. Desta vez, Ritchie joga a
favor do filme, não do efeito.
Em alguns casos, a falta de estilo pode ser uma bênção.
SHERLOCK HOLMES
Direção: Guy Ritchie
Produção: Reino Unido/Austrália/
EUA, 2009
Com: Robert Downey Jr., Jude Law
Onde: Cine TAM, Unibanco Arteplex e
circuito
Classificação: 14 anos
Avaliação: bom
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