|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CINEMA
Berlim
destaca
brasileiros
AMIR LABAKI
da Equipe de Articulistas
``Demonstrar ao mundo o renascimento do cinema brasileiro''
é o objetivo do ciclo de oito filmes
que acontece em Berlim a partir da
próxima quinta no Fórum Internacional do Novo Cinema.
A definição é do curador da mostra, o crítico alemão Peter B. Schumann, ligado à produção latino-americana desde o final dos anos 60.
Numa entrevista via Internet,
Schumann historia a relação do
festival com a produção brasileira,
diz como nasceu a idéia do ciclo e
explica os critérios da seleção.
O curador destaca ainda os dois
outros títulos latino-americanos,
ambos argentinos, presentes no
Fórum deste ano.
O Fórum é a principal mostra paralela e autônoma do Festival de
Berlim, dedicada à produção independente e a cinematografias e diretores em ascensão. Leia a seguir
trechos da entrevista.
Folha - Como surgiu a idéia da
mostra?
Peter B. Schumann - O Festival
de Berlim tem uma larga tradição
com o Brasil. Começou em 1966,
quando organizei a primeira retrospectiva de cinema brasileiro,
chamado naquele momento cinema novo. Foi a primeira retrospectiva de Berlim dedicada a um cinema atual, isto é, foi a primeira
``perspectiva'' e, até certo ponto,
foi um germe do Fórum.
Um ano depois criamos a Semana do Novo Cinema no festival,
cuja última edição foi dirigida por
mim em 1970 e dedicada aos latino-americanos. Um ano depois
converteram a semana no Fórum
Internacional do Novo Cinema.
Desde o início, o Fórum dedicou-se não somente ao novo cinema latino-americano, mas também ao cinema brasileiro como
uma das mais expressões mais
criativas.
Fizemos duas mostras paralelas,
em 1980 e 1985, para exibir novas
tendências e novos talentos. Alguns títulos: ``Braços Cruzados,
Máquinas Paradas'', ``Cabra Marcado para Morrer'', "A Idade da
Terra", "Limite", "Ganga Bruta", "Na Boca da Noite", "Terra
dos Índios", "Tudo Bem",
"Chuvas de Verão", "Memórias
do Cárcere" etc.
Nos anos 90 o cinema brasileiro
sofreu o golpe escandaloso deste
"pistoleiro governante" chamado Collor de Mello. Não foi possível, assim, mostrar algo nos primeiros anos da década.
Por isso queremos aproveitar o
primeiro "boom" de produtividade para demonstrar ao nosso
mundo o renascimento do cinema
brasileiro e canalizá-lo em nosso
mercado.
Recebemos todo o apoio possível
por meio da Riofilme, Cima, Funarte e Ministério das Relações Exteriores. O pacote de oito filmes vai
circular depois por cidades como
Munique, Hamburgo, Zurique e
Friburgo.
Folha - Quais foram seus critérios
de seleção?
Schumann - Tratamos de tentar
um panorama de estilos muito distintos e talentos muito diversos, de
representantes da geração dos
anos 60/70, que sofreu muito com
o golpe de Collor, como (João) Batista (de Andrade), até novos talentos como Tata Amaral, Bia Lessa (que veio do teatro) ou José
Araújo.
Filmes com estilos sempre originais, de uma tendência mais opulenta ("Carlota Joaquina") até o
cinema pobre ("Crede-Mi"), do
mais tradicional ("Como Nascem
os Anjos") até um de pesquisa estética ("Sertão das Memórias",
"Crede-Mi"), de distintas expressões do cinema político ("O Cego
Que Gritava Luz", "Doces Poderes") até o cinema histórico-político ("Yndio do Brasil") e um cinema radical-feminista ("Um Céu
de Estrelas"). Um panorama realmente amplo, exemplo da criatividade cinematográfica e cultural do
Brasil.
Folha - Por que ficaram de fora
os vencedores dos principais festivais brasileiros, "Quem Matou Pixote?" (Gramado) e "Baile Perfurmado" (Brasília)?
Schumann - Não quero falar de
filmes que não selecionei.
Folha - Apenas duas outras produções latino-americanas estão no
Fórum. Fale delas.
Schumann - Esses filmes refletem um outro cinema da América
Latina. São produções totalmente
independentes dos sistemas de fomento cinematográfico.
"Moebius" é um trabalho coletivo da Universidade de Cinema de
Buenos Aires, a maior escola de cinema privada da América Latina,
um filme de estreantes.
Seus jovens autores não contam
nenhuma história, apenas trabalham um dogma científico do físico alemão Moebius, uma relação
entre espaço e tempo em seu ponto
médio, para condensá-la numa
parábola inverossímil e perfeita
sobre a possibilidade de manipular
a mente humana.
"Picado Fino", o primeiro longa-metragem de Esteban Sapir, em
preto-e-branco, é a descrição de
um jovem desesperado de 18 anos
que busca seu lugar na sociedade
argentina.
Um filme marginal sobre a marginalidade argentina, que supera a
penúria financeira para transformá-la em virtude de inusual estética de imagens. São dois filmes que
saem do esquematismo estético do
cinema latino-americano.
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|