São Paulo, sábado, 8 de fevereiro de 1997.

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POLÊMICA
Partituras do compositor alemão teriam sido revisadas sem rigor, diz professor da universidade inglesa de Nottingham
Especialista aponta erros na obra de Brahms

MARIA CRISTINA FRIAS
em Londres

Músicos estariam tocando Brahms (1833-1897) com centenas de erros porque as partituras publicadas da obra do compositor teriam sido revisadas sem rigor. A afirmação é de um acadêmico, especialista na música do compositor alemão.
Robert Pascall, professor da Universidade de Nottingham, Inglaterra, estudou os manuscritos originais do compositor e descobriu que os editores de Leipzig, ao publicarem as partituras de Brahms, fizeram 281 erros só na "Primeira Sinfonia".
Para o professor, o compositor alemão não teria notado os vários erros nas provas por estar muito ocupado com a redação da segunda de suas quatro sinfonias, que foram escritas entre os anos de 1876 e 1885.
A maioria dos erros não chega a ser grave, mas impediria uma reprodução exata do que Brahms criou.
O professor Pascall diz ter descoberto, por exemplo, que nas marcações do "crescendo" estaria faltando um compasso ou uma barra. Já nas marcações de "spacatto" teriam sido omitidas ou até colocadas notas erradas.
Os enganos, segundo Pascall, continuariam na Segunda Sinfonia. Comparando com o manuscrito, o professor encontrou falhas como a marca "sf", de "sforzando", em vez das anotações "rf", de "rinforzando", feitas pelo compositor para uma nota que cresce, mas não com uma ênfase repentina.
Nova interpretação
O maestro Roger Norrington, que já participou de vários projetos sobre a obra de Brahms, declarou por meio de sua assessoria que já gravou a "Primeira Sinfonia" com as correções de Pascall.
Segundo Norrington, essas descobertas são muito importantes e mudam a interpretação da obra de Brahms.
"Se, no passado, os regentes não se importavam em seguir rigorosamente as determinações dos compositores e até mudavam orquestrações, hoje nós queremos saber exatamente o que eles escreveram".
Simon Rattle, o principal maestro da Orquestra Sinfônica da cidade de Birmingham (região central da Inglaterra), que vai reger neste ano todas as obras de Brahms nas comemorações do centenário da morte do compositor alemão, entusiasmou-se com as descobertas.
"Todo maestro sempre quis telefonar para o compositor e perguntar: `O que você quis dizer com isso?' Esse ajuste na obra dele é a melhor coisa depois de falar com Brahms pelo telefone", disse Simon Rattle ao jornal inglês "The Times".
Pascall continua a revisar o repertório de Brahms. A previsão é de que a equipe da Norrington University ainda leve pelo menos 30 anos para corrigir toda a obra do compositor.

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