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CRÍTICA
Quando "Traffic" estrear, não perca de jeito nenhum
SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK
Se você não for assistir a mais
nada neste ano no cinema, dê
um jeito de ver pelo menos "Traffic", do diretor Steven Soderbergh, um dos favoritos ao Oscar
2001.
O Festival de Berlim exibe hoje o
filme, que está em cartaz nos EUA
e deve estrear no Brasil ainda neste semestre. É incrível. Nenhuma
outra obra retratou tão bem a hipócrita e talvez inútil cruzada antidrogas mundial liderada pelo
governo norte-americano.
O tema, que nas mãos de um diretor menos talentoso poderia virar panfletário qualquer que fosse
a pegada (pró ou contra), se torna
uma envolvente história humana
com Soderbergh, o mesmo que
fez "Erin Brockovich - Uma Mulher de Talento".
São três histórias que em algum
momento se encontram, como
nos melhores momentos de Robert Altman. Todas ricas em personagens, cada um tão bem apresentado e colocado que poderia
estar liderando um filme só seu.
Cada uma foi diferenciada na
tela por uma cor predominante
na hora de filmar. Assim, é azul a
vida do novo czar da repressão às
drogas de Washington (Michael
Douglas), cuja filha é viciada.
Ganha tons avermelhados a reviravolta sofrida pela típica dona-de-casa (Catherine Zeta-Jones)
que nem desconfia que o bem-sucedido marido é o chefão local do
narcotráfico até sua prisão numa
emboscada.
E amarela é a realidade do policial mexicano da fronteira com os
EUA (Benicio del Toro), que tem
de decidir diariamente se se entrega à corrupção ou continua lutando uma batalha perdida.
Michael Douglas é Michael
Douglas, com tudo de bom e ruim
que há nesta frase, mas é o resto
do elenco que brilha. Zeta-Jones,
sua mulher na vida real, está ótima como a lady Macbeth grávida
que quer manter seu status custe
o que custar.
Os novatos Erika Christensen e
Topher Grace (irreconhecível para quem só se lembra dele como o
Eric do seriado "That '70s Show"),
alter egos do roteirista, são os responsáveis pelas cenas mais perturbadoras.
Mas o filme é mesmo de Benicio
del Toro, injustamente indicado
aos prêmios como coadjuvante (o
critério para o principal ser Michael Douglas só pode ser o salário). Seu policial dividido entre
abraçar a corrupção e se dar bem
ou entregar os traficantes e dormir tranquilo é comovente.
Em entrevista na segunda ao
"The New York Times", Stephen
Gaghan, o roteirista, admitiu que
grande parte do filme é autobiográfica. "Perguntavam de onde
vinham as histórias, e eu respondia em código", disse. "E parte do
processo de se curar da dependência é dizer a verdade."
Diz o roteirista, que levou o Globo de Ouro deste ano: "Num fim-de-semana, meus três traficantes
de heroína foram presos. Foi
quando eu bati a cabeça na parede, fiquei cinco dias trancado no
banheiro e falei: "Chega!'".
"Traffic" é uma co-produção
entre Alemanha e EUA e foi bancada por um canal de TV paga, o
USA Filmes. Não consigo pensar
em dinheiro mais bem empregado. Fica a inspiração para as emissoras locais.
Avaliação:
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