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Diretor faz as pazes com o circuito
RYAN GILBEY
DO "INDEPENDENT"
O ator e diretor francês Mathieu
Kassovitz, 34, sente-se à vontade
na área de recepção da embaixada
francesa em Londres. "Aqui é o
meu barraco", diz ele."Mas não é
fácil trazer garotas de programa
para um lugar como este."
A última vez que estive com
Kassovitz foi em 1997, época em
que mantinha duas carreiras paralelas: atuava para outros diretores e dirigia os próprios roteiros.
Tinha ganho elogios da crítica por
seu segundo longa, "O Ódio"
(1995), um drama estiloso sobre
distúrbios raciais ambientado
num conjunto habitacional na periferia parisiense. As reações ao
filme se dividiam entre os que se
sentiam aliviados por alguém ter
ousado tirar a tampa da panela de
pressão e aqueles que recuavam
diante de seu calor implacável.
Para equilibrar a balança, Kassovitz escreveu, dirigiu e atuou
em "Assassinos", um suspense.
Depois de "Assassinos", ele passou dois anos em Hollywood e retornou à França como empresário responsável. "Agora preciso
cuidar de minha carreira e me dar
melhor com as pessoas", diz ele,
fazendo a frase soar como um
mantra.
"Se você pisa na bola demais,
acaba não conseguindo fazer outro filme." Parece difícil acreditar,
mas o antes irreverente Kassovitz
já se redimiu por completo aos
olhos de seus conterrâneos.
Primeiro ele fez um thriller para
o grande público, "Rios Vermelhos". Agora, aparece no enorme
sucesso de bilheteria "O Fabuloso
Destino de Amélie Poulain", a
adocicada fábula em cores primárias dirigida por Jean-Pierre Jeunet, que levou o Goya de melhor
filme europeu e está indicado para nada menos que 12 César.
Algumas vozes discordantes reclamaram que todos os rostos não
brancos foram removidos da Paris retratada em "Amélie". Um
crítico chegou a acusar o filme de
lembrar a propaganda política
fascista, e Kassovitz não demora a
reiterar suas ameaças de violência
contra o autor da crítica. "Não tenho problemas com críticos
ruins", ele ruge, "mas esse sujeito
está criando encrenca. Só quero
que ele saiba que vou lhe dar uns
sopapos."
Na realidade, se alguma coisa
puder ser criticada em "Amélie",
será que, em meio a suas idéias
fantásticas, existe uma espécie de
clima que remete a Forrest Gump.
Popularidade
Kassovitz, por sua vez, atribui o
sucesso de "Amélie" ao fato de
que "as pessoas em todo o mundo
sonham os mesmos sonhos". A
popularidade do filme é reconfortante para ele, dado que não foi
escolhido para concorrer em
Cannes. "Acabei fazendo parte do
júri", ele conta, indignado, "e todos os filmes franceses eram uma
droga, pode acreditar".
Ele aceitou o papel para poder
trabalhar com Jeunet. Na outra
ocasião em que estivemos juntos,
Kassovitz disse que atuar era apenas um hobby para ajudá-lo a tornar-se um diretor melhor.
"Atuando, você consegue dinheiro, conforto, mulheres", ele disse.
"Mas não é um trabalho muito
criativo."
Seu trabalho de ator em seu primeiro filme, "Métisse" (1993), lhe
valeu prêmios de melhor ator revelação em lugares nos quais não
se imaginaria nem sequer que tivessem eletricidade, muito menos
festivais de cinema. Mesmo quando ele apareceu por 30 segundos
como assaltante que ri sem parar
e tenta roubar Bruce Willis em "O
Quinto Elemento" (1997), energizou a tela com algumas centenas
de volts de dinamismo travesso.
Kassovitz não parou de atuar
-no ano que vem, será visto ao
lado de Nicole Kidman na adiada
comédia "Birthday Girl", de Jez
Butterworth. Mesmo suas colaborações com Audiard são relegadas
ao segundo plano. "Diziam-me o
que fazer, mas eu não sabia realmente o que estava acontecendo."
Mathieu Kassovitz teve uma espécie de epifania quando representava um padre do Vaticano em
"Eyewitness", o novo filme do veterano Costa-Gavras. "Foi a primeira vez que eu realmente me
senti desafiado ao atuar", conta.
"Esse foi o padre que descobriu o
que estava acontecendo com os
judeus nos campos de concentração. Era algo que eu podia sentir
com paixão. Senti o peso da história sobre os ombros. E, quando eu
fazia algo bom no set, voltava para
casa com uma ereção."
Assim, quando você for assistir
a "Eyewitness", vai poder dizer a
você mesmo: "Este é o filme que
fez Mathieu Kassovitz ter uma
ereção". E, quando for ver "O Fabuloso Destino de Amélie Poulain", poderá dizer: "E este, não".
Tradução de Clara Allain
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