São Paulo, quarta-feira, 08 de fevereiro de 2006

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ANALISANDO UM MESTRE

Rodrigues construiu identidade brasileira

"É um pioneiro", dizem designers

DO ENVIADO ESPECIAL AO RIO

Pioneiro. Essa é a qualificação mais citada por designers, teóricos e professores da área quando se referem a Sergio Rodrigues.
"Com o Tenreiro, o considero pioneiro do design nacional. Ele foi precursor na construção de um mobiliário que acompanhou a modernidade da arquitetura brasileira dos anos 50 e 60", afirma a designer Claudia Moreira Salles, uma das preferidas de Rodrigues entre as gerações mais recentes de profissionais.
Rodrigues concorda com a avaliação. "A arquitetura brasileira era muito considerada no exterior, elogiava-se muito Lucio Costa, Oscar Niemeyer, Henrique Mindlin, Affonso Reidy, Olavo Redig de Campos. Mas em projetos deles, o interior não tinha móveis que possuíssem uma identidade brasileira moderna; eram importados ou copiados. Como desde cedo tive ligação com o desenho do móvel, a madeira com que era feita o móvel, a feitura do móvel, o cheiro da cola e dos vernizes, passei então a desenhá-los", diz.
"A "Poltrona Mole", seu projeto mais importante, tinha marcas muito fortes, como o desenho dos pés, grossos. As técnicas construtivas e a improvisação de Rodrigues conferiram a ela uma identidade efetivamente brasileira", avalia Moreira Salles.

Resgate crítico
A crítica de design e diretora do Museu da Casa Brasileira, Adélia Borges, acredita que a recente valorização do design de Sergio Rodrigues se insere em um movimento mais amplo . "Sinto uma curiosidade no exterior muito grande pelo Brasil, inclusive pelo design, também pelo sucesso dos irmãos Campana, que são chamados de "modernos tropicais'", afirma ela.
"Depois da recente onda do art déco, a produção dos anos 50 e início dos 60 de design foi muito valorizada, principalmente dos escandinavos. Houve uma saturação deles, e aí o foco caiu no Brasil, que tem uma produção que é pouco conhecida lá fora", avalia.
Para Borges, o design de Rodrigues foi revolucionário em sua época e é uma evolução em relação ao que produziram nomes como Gregori Warchavchik e Flavio de Carvalho anos antes do carioca. "Eles foram muito importantes, mas, de certa forma, "transplantaram" para cá o que as vanguardas européias faziam."
O designer e professor da Esdi (Escola Superior de Design Industrial) Freddy Van Camp, que trabalhou na Oca (empresa de mobiliário criada por Rodrigues) logo após a saída do mestre, lembra que o designer dizia que sua produção tinha um "sentar à carioca" e um "sentar à paulista".
"O lado carioca seria representado pela "Mole" -mais generoso e relaxado; você se joga na poltrona. O paulista seria sua produção menos informal, que foi para o Itamaraty, por exemplo", diz ele.
Van Camp destaca a importância cultural da Oca em sua fundação, em 1955, no bairro de Ipanema. "Era uma mistura de loja, galeria de arte e estúdio, que em suas inaugurações de exposições invadia a rua e fazia da praça General Osório uma festa." (MARIO GIOIA)


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