|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Música
Em CD, Ritmistas buscam variedades da percussão
Domenico, Stephane San Juan e Dany Roland vão do samba à balada em álbum
Projeto reúne bateristas do +2, da Orquestra Imperial e da extinta banda Metrô e tem convidados como Wilson das Neves e Pedro Sá
RAQUEL COZER
DA REPORTAGEM LOCAL
Existe um hábito, principalmente durante gravações de
samba, no Rio, de definir os instrumentistas como "os músicos
e os ritmistas", como se os percussionistas não se enquadrassem na categoria "músicos".
O costume virou piada no
meio musical, lembra Domenico Lancellotti. E, em 2005,
quando o baterista do projeto
+2 se juntou aos também bateristas Dany Roland (do Metrô,
banda pop na década de 80) e
Stephane San Juan (da Orquestra Imperial), foi essa mesma
praxe que inspirou o trio a assumir o nome Os Ritmistas.
A insólita formação, que deve
se apresentar neste semestre
no PercPan (Panorama Percussivo Mundial), teve seus resultados registrados no fim do ano
passado no CD "Os Ritmistas".
Não é uma procura pela batida perfeita, como o nome pode
dar a entender. "Só num disco
de três bateristas você vai encontrar uma faixa sem bateria",
ri Domenico, referindo-se a
"Palpite", em que canta acompanhado só pelo baixo e pela
guitarra de Pedro Sá, colega dele e de Stephane na Orquestra.
A proposta do trio é explorar
as nuances do ritmo como melodia. Daí que o resultado acabou mais parecido com o primeiro disco do +2 (o "Máquina de Escrever Música", que tinha
Moreno Veloso à frente e privilegiava as canções) do que com
o álbum "batera" do projeto,
comandado por Domenico,
("Sincerely Hot").
"As gravações foram muito
espontâneas, como no disco do
Moreno. É minimalista, quase
artesanal, com poucos recursos
técnicos", diz Domenico, que
assina quase todas as faixas, sozinho ou em parcerias. O clima
tranqüilo de Santa Teresa, bairro do Rio onde foram feitas as
gravações, ajudou. "A gente
gravava de janelas abertas, e, se
entrasse o som da rua, ficava."
Sambas e baladas
As experimentações valeram
tanto para faixas inéditas, caso
da lenta "Um Canto Quieto", de
Domenico e Adriana Calcanhotto, quanto para a releitura
de "Rádio-Patrulha", sucesso
de Silas de Oliveira (com José
Dias, Luisinho e Marcelino Ramos) em Carnavais dos anos
50. "Escutei "Rádio-Patrulha"
num terreiro de macumba, em
seis por oito, e achei que seria
interessante tocar um samba
nesse andamento", diz Domenico, sobre a versão em que divide os vocais com Virginie,
também do Metrô.
Ainda entre as faixas mais
dançantes, há "Samba de Pacto", um quase mantra assinado
pelos três Ritmistas e composto por apenas três versos (sendo que um deles se resume a
"...pacto com o capeta, pacto
com o capeta, pacto com o capeta..."). No Japão, onde o CD
chegou às lojas no meio do ano
passado, foi essa mistura de repique e agogô com eletrônico
que ganhou as pistas.
No outro extremo, a quase
bossa "O que Aconteceu", de
Domenico e Wilson das Neves,
divide-se entre a voz suave do
primeiro e os vocais graves do
(claro, baterista) veterano.
Em meio a tantos bateristas,
a variedade de estilos pode ser
creditada a outra peculiaridade, diz Domenico, carioca de
ascendência italiana. "O Stephane é francês, e o Dany é uma
mistura maluca de judeus do
norte da África com franceses e
nasceu em Buenos Aires. Ou
seja, é tudo brasileiro", brinca.
OS RITMISTAS
Artistas: Dany Roland, Domenico,
Stephane San Juan
Gravadora: Dubas
Quanto: R$ 25, em média
Texto Anterior: Carlos Heitor Cony: A história banal daquele homem Próximo Texto: Trio surgiu em desfile de grife carioca Índice
|