São Paulo, sexta-feira, 08 de março de 2002

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"CORAÇÃO DE ESTUDANTE"

Clima morno não contribuirá para sucesso de novela

ESTHER HAMBURGER
ESPECIAL PARA A FOLHA

"Coração de Estudante", a nova novela das 18h da Rede Globo, estreou, há quase 15 dias, junto com a volta às aulas dos universitários e o trote que ocupa os cruzamentos com calouros pedindo contribuições para causas sociais.
Ainda pouco azeitada na costura de fragmentos que fizeram sucesso em outras épocas e emissoras, a primeira incursão no gênero de Emanoel Jacobina, autor com experiência em humorísticos, ainda pode esquentar.
A coincidência entre o tema da novela e o calendário escolar é literal, como outros elementos da trama do "horário cor-de-rosa", aquele que visa o público infantil, adolescente e feminino de mais idade. A cada um desses segmentos sociológicos da audiência corresponde um núcleo na trama. O resultado é uma colcha de retalhos nem sempre alinhavada.
"Coração de Estudante" tem um pouco de "Chiquititas" ou "Carrossel": a escola primária, a professora, o recreio, uma coleção de órfãos de matizes e graus de revolta diferentes. Aqui há mistura da pieguice com atuação precária.
O núcleo dos universitários que sofrem longe de suas famílias ecoa "Minha Doce Namorada", sucesso do início da década de 70. O protagonista de então, Cláudio Marzo, faz aqui o papel do viúvo vilão que movimenta a parte central da trama.
O núcleo jovem, horizonte preferido das adolescentes colegiais, lembra seriados contemporâneos como "Friends". O que ocorre também em outras novelas, em versão não estudantil, como "Desejos de Mulher".
A novela começa morna como pede a prudência excessiva adotada em dias de incerteza no mercado televisivo. Mas o sucesso depende de conseguir marcar alguma novidade. E para isso a temperatura média não basta.
O conflito central que move a trama opõe um rico senhor de terras, autoritário e corrupto, e um esclarecido portador da razão, aqui, o reitor da universidade. O tema que recheia o clichê, lhe conferindo atualidade, é a ecologia.
Clara (Helena Ranaldi) encarna mais uma mulher moderna, forte e decidida. A personagem defende o projeto preservacionista da universidade. Seu encontro com Edu (Fábio Assunção), professor entendido de árvores e plantas, pai dedicado e solteiro, promete. Aqui a trama tem liga porque reúne algo mais do que o feijão com arroz que alimenta a fofoca das vizinhas.


Esther Hamburger é antropóloga e professora da ECA-USP

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