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"CORAÇÃO DE ESTUDANTE"
Clima morno não contribuirá para sucesso de novela
ESTHER HAMBURGER
ESPECIAL PARA A FOLHA
"Coração de Estudante", a
nova novela das 18h da
Rede Globo, estreou, há quase 15
dias, junto com a volta às aulas
dos universitários e o trote que
ocupa os cruzamentos com calouros pedindo contribuições para causas sociais.
Ainda pouco azeitada na costura de fragmentos que fizeram sucesso em outras épocas e emissoras, a primeira incursão no gênero de Emanoel Jacobina, autor
com experiência em humorísticos, ainda pode esquentar.
A coincidência entre o tema da
novela e o calendário escolar é literal, como outros elementos da
trama do "horário cor-de-rosa",
aquele que visa o público infantil,
adolescente e feminino de mais
idade. A cada um desses segmentos sociológicos da audiência corresponde um núcleo na trama. O
resultado é uma colcha de retalhos nem sempre alinhavada.
"Coração de Estudante" tem
um pouco de "Chiquititas" ou
"Carrossel": a escola primária, a
professora, o recreio, uma coleção
de órfãos de matizes e graus de revolta diferentes. Aqui há mistura
da pieguice com atuação precária.
O núcleo dos universitários que
sofrem longe de suas famílias
ecoa "Minha Doce Namorada",
sucesso do início da década de 70.
O protagonista de então, Cláudio
Marzo, faz aqui o papel do viúvo
vilão que movimenta a parte central da trama.
O núcleo jovem, horizonte preferido das adolescentes colegiais,
lembra seriados contemporâneos
como "Friends". O que ocorre
também em outras novelas, em
versão não estudantil, como "Desejos de Mulher".
A novela começa morna como
pede a prudência excessiva adotada em dias de incerteza no mercado televisivo. Mas o sucesso depende de conseguir marcar alguma novidade. E para isso a temperatura média não basta.
O conflito central que move a
trama opõe um rico senhor de terras, autoritário e corrupto, e um
esclarecido portador da razão,
aqui, o reitor da universidade. O
tema que recheia o clichê, lhe conferindo atualidade, é a ecologia.
Clara (Helena Ranaldi) encarna
mais uma mulher moderna, forte
e decidida. A personagem defende o projeto preservacionista da
universidade. Seu encontro com
Edu (Fábio Assunção), professor
entendido de árvores e plantas,
pai dedicado e solteiro, promete.
Aqui a trama tem liga porque reúne algo mais do que o feijão com
arroz que alimenta a fofoca das vizinhas.
Esther Hamburger é antropóloga e
professora da ECA-USP
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