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"REFERENCIAL ANITA MALFATTI"
Exposição em SP esclarece trajetória complexa de 60 anos de pintura da modernista
Malfatti freia a vanguarda em arte irregular
FELIPE CHAIMOVICH
CRÍTICO DA FOLHA
"Referencial Anita Malfatti" esclarece uma trajetória complexa. Reúne 60 anos de
sua produção, entre 1909 e 60, no
Conjunto Cultural da Caixa. A visita é prejudicada por iluminação
inadequada e textos explicativos
confusos. Apesar da montagem
precária, mostram-se 90 trabalhos, desde a explosão antiacadêmica até o retorno à ordem.
Malfatti (1889-1964) detonou a
Semana de Arte Moderna. Aprendera os rudimentos da pintura
clássica com a mãe. Mas cedo
abraçou a vanguarda durante sucessivas estadias no estrangeiro.
Em 1917, exibe 53 obras aos
paulistanos. Regressava de Nova
York, aos 21 anos. Monteiro Lobato publicou retumbante crítica
depreciativa. Intelectuais como
Oswald e Mário de Andrade reúnem-se para defendê-la, iniciando uma colaboração que desembocaria no movimento de 22.
A primeira fase exibida traz a
iniciação doméstica nos gêneros
tradicionais: "Burrinho" e "Paisagem", ambos de 1909.
O contato inicial com a linha expressionista e a pincelada fragmentária ganham forma no "Professor" (13). O aprendizado amadurece rápido, como testemunham "A Estudante Russa" (15) e
"Homem Amarelo" (16). Ela prolonga as diagonais do fundo nas
cores que constróem o retratado,
criando um estiramento do todo
que contraria a regra acadêmica.
O pastel de "Mário de Andrade"
(22) promete um desabrochar do
experimentalismo analítico: as
lentes do óculos são indicadas
apenas pelo reflexo amarelado.
Mas retornando a Paris nos anos
20, Malfatti freia a vanguarda.
Vemos seguir-se um retorno à
ordem neoacadêmica. Primeiro
em desenhos contínuos e sinuosos, sem a angulosidade da década anterior, sejam "As Lavadeiras" (24), ou "Mulher Sentada"
(25). Depois, em quadros conservadores, qual "Valência" (27).
Entretanto o nacionalismo temático permanece como índice
de modernidade. O Brasil figura
exuberante na "Época da Colonização", no "Samba" (45) e na
"Viola Quebrada" (54).
Malfatti dialoga com o gosto
modernista dominante em SP.
Acompanha os primórdios do
abstrato nacional, com "Outono"
(52) e "Primavera" (52), um ano
após participar da primeira Bienal. Contudo, a figuração primitivista, ao estilo da Família Artística
Paulistana, predomina no edifício
da Sé; lado a lado estão as toscas
"Liliane" (37) e "Bethy" (43).
O acervo agrupado evidencia a
irregularidade da produção de
Malfatti. As sucessivas mudanças
de estilo acabaram por diluir o foco da pesquisa artística.
Referencial Anita Malfatti
Onde: Conjunto Cultural da Caixa (pça.
da Sé, 111, SP, tel. 0/xx/ 11/3107-0498)
Quando: ter. a dom., 9h às 21h; até 30/5
Quanto: entrada franca
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