São Paulo, segunda-feira, 08 de março de 2004

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"REFERENCIAL ANITA MALFATTI"

Exposição em SP esclarece trajetória complexa de 60 anos de pintura da modernista

Malfatti freia a vanguarda em arte irregular

FELIPE CHAIMOVICH
CRÍTICO DA FOLHA

"Referencial Anita Malfatti" esclarece uma trajetória complexa. Reúne 60 anos de sua produção, entre 1909 e 60, no Conjunto Cultural da Caixa. A visita é prejudicada por iluminação inadequada e textos explicativos confusos. Apesar da montagem precária, mostram-se 90 trabalhos, desde a explosão antiacadêmica até o retorno à ordem.
Malfatti (1889-1964) detonou a Semana de Arte Moderna. Aprendera os rudimentos da pintura clássica com a mãe. Mas cedo abraçou a vanguarda durante sucessivas estadias no estrangeiro.
Em 1917, exibe 53 obras aos paulistanos. Regressava de Nova York, aos 21 anos. Monteiro Lobato publicou retumbante crítica depreciativa. Intelectuais como Oswald e Mário de Andrade reúnem-se para defendê-la, iniciando uma colaboração que desembocaria no movimento de 22.
A primeira fase exibida traz a iniciação doméstica nos gêneros tradicionais: "Burrinho" e "Paisagem", ambos de 1909.
O contato inicial com a linha expressionista e a pincelada fragmentária ganham forma no "Professor" (13). O aprendizado amadurece rápido, como testemunham "A Estudante Russa" (15) e "Homem Amarelo" (16). Ela prolonga as diagonais do fundo nas cores que constróem o retratado, criando um estiramento do todo que contraria a regra acadêmica.
O pastel de "Mário de Andrade" (22) promete um desabrochar do experimentalismo analítico: as lentes do óculos são indicadas apenas pelo reflexo amarelado. Mas retornando a Paris nos anos 20, Malfatti freia a vanguarda.
Vemos seguir-se um retorno à ordem neoacadêmica. Primeiro em desenhos contínuos e sinuosos, sem a angulosidade da década anterior, sejam "As Lavadeiras" (24), ou "Mulher Sentada" (25). Depois, em quadros conservadores, qual "Valência" (27).
Entretanto o nacionalismo temático permanece como índice de modernidade. O Brasil figura exuberante na "Época da Colonização", no "Samba" (45) e na "Viola Quebrada" (54).
Malfatti dialoga com o gosto modernista dominante em SP. Acompanha os primórdios do abstrato nacional, com "Outono" (52) e "Primavera" (52), um ano após participar da primeira Bienal. Contudo, a figuração primitivista, ao estilo da Família Artística Paulistana, predomina no edifício da Sé; lado a lado estão as toscas "Liliane" (37) e "Bethy" (43).
O acervo agrupado evidencia a irregularidade da produção de Malfatti. As sucessivas mudanças de estilo acabaram por diluir o foco da pesquisa artística.


Referencial Anita Malfatti
   
Onde: Conjunto Cultural da Caixa (pça. da Sé, 111, SP, tel. 0/xx/ 11/3107-0498)
Quando: ter. a dom., 9h às 21h; até 30/5
Quanto: entrada franca




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