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Gênero policial é levado mais a sério, defende Lawrence Block
EDUARDO SIMÕES
DA REPORTAGEM LOCAL
Um dos mais prolíficos autores
de romances policiais da atualidade, o americano Lawrence Block,
68, é também um do mais reticentes. Deixa sua retórica para os
mais de 40 títulos que já publicou,
dez deles já editados no Brasil pela
Nova Fronteira e pela Companhia
das Letras. Block é a principal estrela entre os convidados estrangeiros da 19ª Bienal do Livro de
São Paulo, que começa amanhã
no Anhembi e vai até o dia 19 de
março. O escritor participa no dia
12, às 15h30, do Salão de Idéias,
num debate com o colega e "titã"
Tony Bellotto. Na pauta, o romance policial.
"O gênero ficou melhor do que
era há 40, 50 anos, porque passou
a ser levado mais a sério tanto por
leitores, quanto escritores e editores", avalia Block, em entrevista à
Folha, ainda sem nada na manga
para falar na Bienal. "Nunca me
preparo, mas saberei o que dizer a
tempo."
Considerado pela crítica um hábil manipulador das fórmulas policialescas, Block evita comentar
análises de sua obra que sentenciam seus livros como releituras
de clássicos noir com roupagem
modernosa. Tampouco aceita
que apóia uma linguagem simples
com elementos sofisticados e intelectuais, presentes em títulos como "O Ladrão que Pintava como
Mondrian" ou "O Ladrão que Estudava Espinosa", entre outros.
"Não me importo com a opinião da crítica. Apenas me preocupo em escrever meus livros,
não interessa se eles se encaixam
ou não em alguma tradição", esquiva-se o autor.
Nova York contra o crime
Nascido no dia 24 de junho de
1938 em Buffalo, no Estado de
Nova York, Block se iniciou na escrita ainda na adolescência e passou a publicar pequenas histórias
já em 1957. Pai de quatro personagens recorrentes -os detetives
Matt Scudder, Chip Harrison e
Evan Tanner, além do livreiro
Bernie Rhodenbarr, que divide
seu tempo entre o roubo a residências e a investigação de crimes-, Block situa suas histórias
em Nova York, segundo ele, sua
fonte de energia.
Sem uma rotina para sua escrita, o autor reflete a realidade da
metrópole em suas tramas, como
em "Cidade Pequena", que tem os
atentados do 11 de Setembro como pano de fundo. Mas diz que
não busca, de modo consciente,
inserir o mundo real no ficcional.
"A única coisa importante é
contar uma história interessante,
de modo interessante. Além disso, não há nada muito consciente
ou intencional de minha parte,
como observar o mundo ou as
pessoas. Muitas pessoas não entendem o papel da imaginação na
ficção. O escritor precisa acessar
sua imaginação. Quando ele consegue, o livro flui", afirma o autor,
que nega também espelhar nos livros, propositadamente, tipos
que o circundam.
"Embora sejam efetivamente
nova-iorquinos, por conta de minhas conexões com a cidade,
meus personagens poderiam se
adaptar a outra cidade. Eles surgem de algum lugar em minha
imaginação", diz Block, para
quem seus tipos tendem a ser um
pouco diferentes do normal. "Pode-se chamá-los de anti-heróis."
Block se diz insatisfeito com todas as adaptações de seus livros
para o cinema: "Nightmare Honeymoon" (Elliot Silverstein),
"Burglar - A Ladrona" (Hugh
Wilson, com Whoopi Goldberg) e
"Right Million Ways to Die" (Hal
Ashby, com Jeff Bridges). Apesar
de considerá-los fracassos, pela
falta de qualidade, não se interessa em acompanhar as possíveis
adaptações de "Cidade Pequena"
e "Hit Man".
"A indústria cinematográfica é
muito incerta", conclui o autor,
que não faz a mínima questão de
participar da roteirização de suas
obras. "Não posso controlá-las."
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