São Paulo, quarta-feira, 08 de março de 2006

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Gênero policial é levado mais a sério, defende Lawrence Block

EDUARDO SIMÕES
DA REPORTAGEM LOCAL

Um dos mais prolíficos autores de romances policiais da atualidade, o americano Lawrence Block, 68, é também um do mais reticentes. Deixa sua retórica para os mais de 40 títulos que já publicou, dez deles já editados no Brasil pela Nova Fronteira e pela Companhia das Letras. Block é a principal estrela entre os convidados estrangeiros da 19ª Bienal do Livro de São Paulo, que começa amanhã no Anhembi e vai até o dia 19 de março. O escritor participa no dia 12, às 15h30, do Salão de Idéias, num debate com o colega e "titã" Tony Bellotto. Na pauta, o romance policial.
"O gênero ficou melhor do que era há 40, 50 anos, porque passou a ser levado mais a sério tanto por leitores, quanto escritores e editores", avalia Block, em entrevista à Folha, ainda sem nada na manga para falar na Bienal. "Nunca me preparo, mas saberei o que dizer a tempo."
Considerado pela crítica um hábil manipulador das fórmulas policialescas, Block evita comentar análises de sua obra que sentenciam seus livros como releituras de clássicos noir com roupagem modernosa. Tampouco aceita que apóia uma linguagem simples com elementos sofisticados e intelectuais, presentes em títulos como "O Ladrão que Pintava como Mondrian" ou "O Ladrão que Estudava Espinosa", entre outros.
"Não me importo com a opinião da crítica. Apenas me preocupo em escrever meus livros, não interessa se eles se encaixam ou não em alguma tradição", esquiva-se o autor.

Nova York contra o crime
Nascido no dia 24 de junho de 1938 em Buffalo, no Estado de Nova York, Block se iniciou na escrita ainda na adolescência e passou a publicar pequenas histórias já em 1957. Pai de quatro personagens recorrentes -os detetives Matt Scudder, Chip Harrison e Evan Tanner, além do livreiro Bernie Rhodenbarr, que divide seu tempo entre o roubo a residências e a investigação de crimes-, Block situa suas histórias em Nova York, segundo ele, sua fonte de energia.
Sem uma rotina para sua escrita, o autor reflete a realidade da metrópole em suas tramas, como em "Cidade Pequena", que tem os atentados do 11 de Setembro como pano de fundo. Mas diz que não busca, de modo consciente, inserir o mundo real no ficcional.
"A única coisa importante é contar uma história interessante, de modo interessante. Além disso, não há nada muito consciente ou intencional de minha parte, como observar o mundo ou as pessoas. Muitas pessoas não entendem o papel da imaginação na ficção. O escritor precisa acessar sua imaginação. Quando ele consegue, o livro flui", afirma o autor, que nega também espelhar nos livros, propositadamente, tipos que o circundam.
"Embora sejam efetivamente nova-iorquinos, por conta de minhas conexões com a cidade, meus personagens poderiam se adaptar a outra cidade. Eles surgem de algum lugar em minha imaginação", diz Block, para quem seus tipos tendem a ser um pouco diferentes do normal. "Pode-se chamá-los de anti-heróis."
Block se diz insatisfeito com todas as adaptações de seus livros para o cinema: "Nightmare Honeymoon" (Elliot Silverstein), "Burglar - A Ladrona" (Hugh Wilson, com Whoopi Goldberg) e "Right Million Ways to Die" (Hal Ashby, com Jeff Bridges). Apesar de considerá-los fracassos, pela falta de qualidade, não se interessa em acompanhar as possíveis adaptações de "Cidade Pequena" e "Hit Man".
"A indústria cinematográfica é muito incerta", conclui o autor, que não faz a mínima questão de participar da roteirização de suas obras. "Não posso controlá-las."


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