DA REPORTAGEM LOCAL

O Discovery Channel dá sinais de abandonar sua fase de um populismo moroso. A série "A Nova Al Qaeda", importada da emissora britânica BBC, é uma virada dinâmica e inteligente, uma demonstração do bom jornalismo investigativo sob a forma de documentário.
O veterano repórter Peter Taylor, especialista em terrorismo, reconstitui com invejável precisão os precedentes das explosões que, em 11 de março de 2004, mataram 191 pessoas na estação ferroviária de Atocha, em Madri.
Os especialistas em inteligência entrevistados dão o rumo da investigação e apontam que, contrariamente ao 11 de Setembro, a organização terrorista islâmica não atua mais por meio de emissários submetidos a um comando unificado. Tratam-se agora de células operacionais que brotam do islamismo radical do país vitimado pelo atentado.
No caso da Espanha, a célula era composta por sete integrantes perfeitamente ambientados na sociedade local. Entre eles, um ideólogo que era corretor de imóveis, um traficante que mergulhou numa crise de infinito misticismo religioso ao cumprir pena de prisão no Marrocos e o proprietário de uma loja de celulares que providenciou os aparelhos capazes de detonar 250 quilos de dinamite, obtidos em troca de entorpecentes.
A designação "nova Al Qaeda" talvez não seja a mais apropriada. Mas ela tem o mérito de revelar que, a partir do atentado de Casablanca em 2003 -foram 45 mortos, e o episódio é também reconstituído de maneira exemplar-, a polícia deixou de considerar relevante a infiltração de estrangeiros com passagem pelo Afeganistão e empenhados em cumprir a missão determinada pessoalmente por Bin Laden ou por um de seus adjuntos imediatos. Os terroristas circulam agora sem sotaque. Entre nós.
(JOÃO BATISTA NATALI)

A Nova Al Qaeda - Atentado de Madri
Quando: hoje, às 22h, no Discovery Channel

Texto Anterior: Evento: Von Trotta quer superar o cinema político
Próximo Texto: Resumo das novelas
Índice